16:10Esquerda e aliança conservadora no Paraná

por Rubens Bueno*

Será que a clivagem “Esquerda e Direita” ainda faz sentido, nestes tempos de absoluto pragmatismo e aparente hegemonia de um ideário dito neoliberal, de um lado, e, de outro, um esquerdismo mais farsesco do que ideológico? De minha parte, sigo acreditando que não apenas faz sentido, como continua sendo fundamental. Pois é exatamente do horizonte ideológico que provém a inspiração mais nobre e humana da arte da política. Do contrário, tudo não passaria de mero confronto animalesco, inconcebível para quem sonha estar no mundo para contribuir na luta da humanidade rumo a uma sociedade mais justa e menos desigual, ainda que eventualmente não se logre viver para alcançá-la. É a causa que ilumina e dá sentido ao caminho da política.

Não creio que seja possível chegar a objetivos honestos, se os meios de que se utiliza também não o forem. Por isso, a ética constitui, a meu ver, a primeira e capital exigência da boa política. Num cenário ideal, trata-se de um atributo de partida, desejável para todos quantos se aventurem na arte da política. Nisso deveríamos e quem sabe um dia venhamos a ser todos iguais.

O que nos diferenciaria? Como de fato nos diferencia, embora o público não militante em geral não perceba, é a vertente ideológica à qual nos filiamos, consolidada desde a Revolução Francesa em duas grandes espinhas dorsais: de um lado, a Direita, a conceber o mundo a partir do indivíduo e seus interesses e, de outro, a Esquerda, sempre disposta a assumir a defesa dos marginalizados do teatro político. É no confronto dialético e permanente dessas grandes, legítimas e divergentes matrizes que se produzem as negociações e acordos capazes de impulsionar o mundo a partir do interesse coletivo.

Esquerda e direita constituem contrafaces que inspiram, limitam e melhoram uma à outra. Se uma delas se vê sozinha na ribalta política, quase sempre se torna autoritária, insensível e desumana. No contraponto, porém, produzem inegáveis avanços. De modo que, se o capitalismo é produto e ambiente por excelência da direita, e disso não há dúvida, deve-se à esquerda a sua humanização e a idéia de universalização dos seus benefícios, cuja expressão política mais consistente está no ideário da social-democracia moderna.

Pertenço a um partido radicalmente de esquerda, que aprendeu a ser também radicalmente democrático. O Partido Popular Socialista (PPS) Busca refletir a consciência generosa, solidária e crítica da esquerda e traduz esse compromisso em todas as alianças políticas e eleitorais de que participa. É o caso das eleições estaduais deste ano aqui no Paraná. Neste momento, entendemos que é fundamental contrabalançar os interesses mais conservadores que se encontram muito bem articulados em torno das alternativas que hoje se apresentam eleitoralmente viáveis. É por isso que defendemos um amplo arco de alianças, e nela reivindicamos com clareza e responsabilidade o campo da esquerda.

Somente se essa aliança se mostrar irrealizável é que os militantes e dirigentes do PPS se permitirão rediscutir a possibilidade de se apresentar ao eleitorado paranaense com o seu próprio projeto majoritário, de resto tão legítimo quanto os demais, e certamente muito mais ousado.

*Rubens Bueno é presidente do PPS do Paraná

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