16:05HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

Pulou, sim, mas faz tempo. Lembra que foi atrás num ônibus que saiu de uma rodoviária pobre para desembarcar em outra mais ainda. Dois, três mil quilômetros depois. No caminho ouviu “ô coisinha tão bonitinha do pai”, mas não sabe mais porque não esqueceu mais isso. Mas ao descer viu um saco de pão com algo dentro – e agasalhado pelo sovaco de alguém. Dentro, soube muito bem nos dias seguintes, havia uma bisnaga com bate-bate, que vem a ser isso mesmo. Bate e bate. Na cabeça, para que a alma entrasse no espírito do som de metais, couros esticados em percussão. E ele foi, assim, vendo carros cerrados, cheirinhos de loló, pitus, tudo com sol de derreter e lua de papel, e bonecos gigantes, e igrejas centenárias, e índios, e o sotaque, e nomes como nóis sofre mais nóis goza, e frevo, e trio elétrico, olinda quero cantar. Ele cantou e contou durante muito tempo que nunca viu tanta gente junta, apertada, alegres, sem um empurrão, uma cara feia, um nada. Celebração de alegria de zeus e o cramunhão na terra de dom Elder e o povão pernambucano de todo planeta. Nem sabe como voltou. Sabe apenas que foi seu primeiro e último carnaval. Sabe que lá foi presenteado. Ela nasceu, é negra, é vida, é carnaval para sempre.

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