5:54Para Pena Branca e Xavantinho

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Pena Branca e Xavantinho

Eles foram embora para se juntar aos outros no grande coral que canta lá no céu este Brasil do tamanho de um universo desconhecido. O Brasil caipira, o Brasil do sertão, o Brasil de um povo que carrega no sangue o que recebeu de herança e se orgulha. O Brasil normal, o Brasil do mato, do rio, da serra, dos bichos, do amor ao que tem de ser amado. Quantos já se foram e jamais foram ouvidos? Xavantinho foi embora, há 11 anos. Agora o companheiro Pena Branca. Alguém, por favor, lembre aí o dia que os viram numa tela de tv, aquele espaço em que “cantoras” que fazem aeróbica e mostram as partes são endeusadas. Eles nos deram a honra de olhar para os Caetanos e Miltons Nascimentos, que sabem olhar e sentem este país por dentro e por fora dos seres que aqui habitam, e nos presentearam com as interpretações de músicas que nós, estes que vivemos no corre-corre das cidades grandes, que recebemos a carga diária de todo tipo de poluição, que ouvimos tanto a notícia da chacina do dia como o do ladrão travestido de político posando de sério, que banalizamos a desgraça geral, que endeusamos as máquinas, enfim, eles, Pena Branca e Xavantinho, fizeram a ponte daqui pra lá e de lá pra cá. De repente ouvimos o carro de boi, vemos o luar do sertão, percorremos a estrada do sertão, tomamos a marvada pinga, entramos na festa do reizado, viajamos na chalana, ficamos sabendo da história do rei do gado, ouvimos o triste berrante, rezamos a oração do camponês, reverenciamos a bandeira do divino, tudo numa vida de viajante para saber como é mesmo o canto de um povo do lugar que saiu daqui para lá e voltou. Pena Branca e Xavantinho um dia cantaram no teatro HSBC e, anos depois, Tinoco, sem o Tonico, que partiu em 1994, subiu ao palco do Teatro da Reitoria, ali, pertinho, com a sagrada missão de tentar abrir a porta e a janela de nós todos, gente da cidade, num chamamento para o que é simples e, por isso, absurdamente belo. Obrigado.

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