13:23Wilson Martins, adeus

Morreu Wilson Martins. O primeiro recado me pegou pelo telefone, no trânsito, sob o sol deste domingo curitibano. Era o jornalista Kico Gemael, que recebeu pelo mail um recado que, depois, ao abrir esta máquina, também recebi. Era do professor, escritor e também crítico literário Miguel Sanches Neto, autor de Wilson Martins (Editora UFPR – 1997)  e Mestre da crítica: edição comemorativa dos 80 anos do crítico literário Wilson Martins, Professor Emérito da Universidade de Nova Iorque (Imprensa Oficial do Paraná – 2001). Postado às 11h10, informava: “Wilson Martins (1921-2010) – Morreu meu mestre e amigo Wilson Martins. Está sendo velado na capela 3, Cemitério Luterano, em Curitiba, ao lado do Estádio Couto Pereira”. Desviei um pouco a rota que traçava e fui à capela do cemitéria bem ao lado do estádio Couto Pereira e da igreja. O corpo estava lá (será cremado nesta segunda-feira). Ao lado, a mulher, Anna Schmidt Martins, poucos parentes, uma equipe da Rede Globo comandada pela repórter Ana Zimmermann. Wilson Martins foi embora ontem à noite, me informou alguém da família. Olhei e lembrei do nosso último contato, por telefone, no ano passado. Eu queria gravar uma entrevista em vídeo com este que é um dos grandes monumentos história da inteligência brasileira, título, aliás, aliás de uma das suas obras. Ele, sempre bem humorado, disse que não podia pois estava se recuperando de uma queda que lhe causara uma fratura no cotovelo. Ficamos de conversar depois. Não deu. Fiz o sinal da cruz e agradeci o fato de tê-lo conhecido pessoalmente. Pouco, mas o suficiente para o encantamento diante de uma pessoa rara. Entrevistei-o, junto com o jornalista Vanderlei Rebelo, para uma revista de nome Paraná & Companhia. Entre as centenas de pessoas com que já conversei profissionalmente, nunca me deparei com alguém que conseguisse falar com a fluidez, a pontuação, a música, o encadeamento de pensamento, a cultura e, principalmente, com as pitadas de humor e veneno na medida exata como este grande mestre. “Agora eu só leio deitado. Se o livro é ruim, eu durmo e não pego mais”, me disse naquela conversa. Na última, ao lhe confessar que lia vários livros ao mesmo tempo e comprava mais do que o tempo que talvez me resta de tempo para lê-los, ouvi do outro lado da linha: “Que bom! O que seria das nossas vidas se não fossem os livros?”. O que seria de nós, comuns mortais, seres de inteligência mediana, não fosse a felicidade de conhecer a obra imortal de pessoas como a do professor Wilson Martins? Só nos resta agradecer pela obra, agora imortal.  

Nascimento: São Paulo, SP,  1921

Graduação:

Bacharel em Direito (1943) e Doutor em Letras (1952), ambos pela Universidade Federal do Paraná.

Bolsista do Governo Francês (Paris, 1947/1948)

Catedrático de Literatura Francesa na Universidade Federal do Parana (1952/1962)

Professor visitante da Universidade Kansas (1962)

Professor associado na Universidade de Wisconsin-Madison (1963/1964)

Professor titular de Literatura Brasileira na New York University (1965/1991)

Crítico literário dos jornais O Globo (RJ) e Gazeta do Povo (PR)  

Obras Principais:
O Modernismo (1965, 5ª ed. 1977)
História da Inteligência Brasileira, 7 volumes
A Crítica Literária no Brasil, 2 volumes
Um Brasil Diferente
Pontos de Vista – Crítica Literária
A Palavra Escrita
Prêmios:

Prêmio José Ermírio de Morais, 1997, Academia Brasileira de Letras

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