9:05Sem heróis e finais felizes

– Numa cultura indiferente até ao choque do novo, em que as notícias de hoje são passado remoto e esquecível no dia seguinte, passível apenas de ser reciclado da forma mais vil, os filmes dos anos 70 mantêm intacto seu poder de perturbar; o tempo não lhes tirou o gume, e são tão provocadores quanto o eram no dia em que foram lançados. Pense apenas em Regan enfiando o crucifixo na vagina em O Exorcista ou Travis Bile abrindo o caminho a fogo no final de Taxi Driver, dedos amputados voando em todas as direções. Os 13 anos entre Bonnie e Clyde, de 1967, e O Portal do Paraíso, em 1980 marcam a última vez em que foi realmente empolgante fazer cinema em Hollywood, a última vez em que as pessoas puderam, consistentemente, ter orgulho dos filmes que faziam, a última vez em que a comunidade como um todo encorajou a excelência e a última vez em que houve uma plateia disposta a apoiá-la integralmente.

– Foi a última vez que Hollywood produziu um bloco de filmes arriscados e de alta qualidade – em vez de uma rara e solitária obra-prima -, que eram impulsionados por seus personagens e não pela trama, que desafiavam as convenções tradicionais da narrativa, que desafiavam a tirania da correção técnica, que quebravam os tabusda linguagem e do comportamento, que ousavam ter finais infelizes. Eram filmes frequentemente sem heróis, sem romance, sem – para usar um jargão esportivo, que se tornou onipresente em Hollywood – alguém “por quem torcer”.

de Peter Biskind no livro “Como a Geração Sexo-Drogas-Rock’n’Roll salvou Hollywood

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