19:15HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

O bolo de carne olhou para ele através do vidro lá do fundo do balcão da lanchonete sem graça e de luzes brancas. Estava solitário. Ele pediu. Teve pena. Junto, o sagrado molho de pimenta, cuja marca nunca olhou. Mordeu a parte mais seca e foi como se uma cortina à sua frente se abrisse. Viu então aquele construção enorme de madeira, telhas enegrecidas pela ação do tempo, na rua de subúrbio da cidade do Norte do Paraná. Duas portas largas. Ao lado de uma, um cartaz enferrujado de Crush. Entrou no salão e lembrou dos filmes de John Ford. Havia uma mesa de bilhar pequena que dominava um lado do ambiente. Havia pessoas com olhares curiosos e copos nas mãos. O líquido era como o recepiente: transparente. Cachaça, sempre sorvida em pequenos goles. Ele pediu uma cerveja porque a poeira vermelha impregnada nas paredes externas e no piso lhe secaram a garganta. Tomou um gole. Viu uma folhinha velha onde um monumento indiano atraía mais do que qualquer tela plasma. Convenceu o dono a vendê-lo, mesmo porque o calendário era de 7 anos antes. Guarda até hoje a preciosidade. Foi depois de ver a construção que parecia toda de ouro que a pequena montanha de bolinhos entraram na retina. Estavam ao lado das linguiças oleosas e dos ovos de galinha coloridos. Ele pediu um. Mordeu. Era divino. Comeu mais. Tomou mais cervejas. Pagou rodadas de pinga para os presentes. Fez um discurso dizendo que aquilo era vida. Não a dele. Mandou embrulhar o que sobrou de bolinhos de carne. Foi embora. Conseguiu chegar a uma cidade maior. Tomou banho quente. Desmaiou. No dia seguinte seguiu. Até o bolinho da lanchonete sem graça e de luzes brancas.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.