7:323 em cada 4 paranaenses não entrariam num partido

Da Gazeta do Povo, em reportagem de Rodrigo Deda:

Pesquisa revela desinteresse pela vida partidária e corrobora outros levantamentos, que mostram que as filiações crescem menos do que a população

Três em cada quatro eleitores paranaenses não se filiariam a um partido político caso fossem convidados. Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta do Povo, indica que 76,7% dos eleitores não têm interesse em se filiar a legendas partidárias. Apenas 23,3% aceitariam ingressar no mundo da política.

Para especialistas e políticos, fatores como escândalos no Congresso Nacional, personalismo de dirigentes partidários, assim como a existência de outras instituições não partidárias que representam os cidadãos contribuem para esse quadro.

Outro dado que mostra o desinteresse do cidadão pela participação política é que o número de filiados não não tem acompanhado o crescimento do número de eleitores na mesma proporção. Segundo dados divulgados no site do Tribunal Superior Eleitoral (www.tse.jus.br), enquanto o número de eleitores paranaenses aumentou 10,7% nos últimos sete anos, o número de filiados cresceu apenas 6% no mesmo período.Fenômeno mundial

O professor de Ciências Sociais Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que esse fenômeno vem ocorrendo não só no Paraná ou no Brasil, mas em todas as democracias contemporâneas. “A relação entre eleitor e partido é cada vez mais fraca”, diz ele.

Para Cervi, há diversas explicações para isso. Uma delas é que os partidos não dão conta do processo de representação da sociedade. Assim, instituições como a imprensa acaba substituindo os partidos, desde a formação política dos cidadãos até na organização da pauta de demandas da sociedade. “No caso do Brasil, ocorre também a judicialização da política. O Ministério Público hoje, por exemplo, desempenha uma função de representação social maior que os partidos.”

Outra explicação, segundo Cervi, é que em sociedades mais avançadas, ao se diminuir a necessidade de atendimento das demandas sociais do cidadão comum, o eleitor deixa de se preocupar com a política. “Para essa corrente sociológica, há uma relação forte entre abandono dos partidos e o desenvolvimento econômico. As legendas perdem sua funcionalidade.”

Já o professor de Ciência Política Adriano Codato, também da UFPR, afirma que as personalidades de certos políticos contribuem para o desinteresse por partidos, pois suas imagens acabam por suplantar a das legendas. Segundo Co­­­dato, esse é o caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou muito “maior” que o PT.

Da mesma forma, diz ele, são exemplos desse fenômeno no Paraná o ex-governador Jaime Lerner, que passou por vários partidos em sua carreira política, e o governador Roberto Requião, que detém o controle do PMDB do Paraná.

Metodologia da pesquisa

O Instituto Paraná Pesquisas entrevistou 1.830 eleitores paranaenses, com mais de 16 anos, entre os dias 16 a 21 de dezembro de 2009. A pesquisa, realizada em 65 municípios, tem um grau de confiança de 95,5% e uma margem de erro de 2,5 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Escândalos explicam desinteresse

Os recorrentes escândalos envolvendo políticos são apontados por lideranças partidárias como o principal motivo para o desinteresse dos eleitores em se filiarem aos partidos. Eles consideram, contudo, que a falta de envolvimento da população com a vida partidária é ruim, porque muita gente séria deixa de entrar na política por ter uma má imagem dos políticos.

“A política sofre impactos 24 horas por dia. Veja essas questões brasilienses, do (governador) José Roberto Arruda: você acha que isso dá motivação para alguem querer se filiar a um partido?”, questiona o presidente do PMDB do Paraná, deputado estadual Waldyr Pugliesi.

Ele lembra que, apesar de muita gente não se interessar por política, tudo depende dela. “A vida das pessoas está submetida à política. As pessoas deveriam ser estimuladas a participar como membro de um partido. Mas hoje a palavra de ordem é ‘afaste-se, caia fora’.”

Nos últimos sete anos, o PMDB perdeu cerca de 26 mil membros no estado. Mas, segundo Pugliesi, muitas dessas baixas foram na verdade migrações para outras legendas. “Muitos saíram para disputar eleições por outros partidos.”

O presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, também considera que os escândalos recentes no Congresso têm afastado a população da política. “As pessoas ficam desencantadas. Mas é preciso lembrar que somente a participação de boas pessoas é que vai eliminar as ruins.”

O presidente do PDT no Paraná, senador Osmar Dias, lembra que o Senado passou seis meses em crise em 2009 e que nada aconteceu com os envolvidos. “Existem escândalos, e a população não está vendo providências por parte da própria classe política.”

O presidente do PP estadual, deputado Ricardo Barros, vê outra causa para a resistência de as pessoas se filiarem a partidos: a concentração das decisões partidárias, tal como a escolha dos candidatos, nas mãos das cúpulas das legendas. “Nas convenções não são todos os filiados que votam. Se eles votassem, naturalmente ampliaria o número de filiados, porque as correntes partidárias poderiam arregimentá-los, a fim de ocupar maior espaço político.”

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.