por Zé da Silva
Leão
A partir do dia 1o deixaria de fazer muitas coisas. Das boas. Cortaria os pães franceses, os doces todos, as massas e diminuiria a quantidade de carne vermelha, fora a eliminação completa dos sandubas quase sem gosto das redes estrangeiras. Marcou academia onde iria todo dia, além de correr no parque perto da casa. Quem sabe voltaria às aulas da arte marcial onde não passou da compra do quimono há anos? A determinação começou a ruir no barulho da rolha voando da garrafa do champagne de um vizinho de praia. O projétil acertou-lhe a nunca. A briga começou ali mesmo e tomou conta daquele pedaço do litoral. As famílias dos contendores eram enormes, sem contar os amigos e agregados. Perdeu dois dentes da frente e levou alguns pontos na cabeça, além do nariz ter sido fraturado por uma cabeçada. Ao sair do hospital estava mais nervoso do que antes da virada do ano. Foi a uma padaria e comprou dois pudins de leite e todos os quindins disponíveis. Adiou imediatamente todas as resoluções para o ano seguinte. Passou a se imaginar com 30 quilos a mais. Depois era só perder 50. Ficou aliviado porque, sabia, o ano seria mais fácil de encarar. Voltou à praia para procurar a rolha deflagradora. Se achasse, ia mandar fazer uma redoma e colocá-la na estante. Para não esquecer.