10:00Insegurança

Da Gazeta do Povo, em reportagem de José Marcos Lopes:

50% acham Curitiba insegura
Nas cidades menores, sensação de insegurança é mais baixa, de acordo com levantamento exclusivo da Paraná

 A sensação de insegurança é maior em Curitiba do que nas cidades do interior do Paraná e também entre as pessoas mais jovens. É o que mostram os dados de um levantamento da Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Gazeta do Povo, entre os dias 16 e 21 de dezembro de 2009. Foram ouvidas 1.830 pessoas com mais de 16 anos, em 65 cidades do estado. Entre as pessoas entrevistadas em Curitiba, somente 31,4% consideraram que vivem em uma cidade segura, contra 49,7% que consideram a capital insegura. No interior, o índice médio dos que consideram suas cidades seguras subiu para 50,6% – somente 35% avaliaram que seus municípios não têm segurança.

A ideia de que a insegurança aumenta de acordo com o tamanho da cidade é confirmada por outro dado, que levou em conta o número de eleitores de cada município. Em cidades com até 15 mil eleitores, 62% dos entrevistados consideraram que vivem em municípios seguros (somente 25,7% disseram o contrário). A sensação de insegurança cresce à medida que o número de eleitores aumenta: em cidades com mais de 100 mil eleitores, só 40,2% das pessoas ouvidas disseram considerar seu município seguro. O índice mais baixo, de 31,4%, foi registrado em Curitiba, mas cresce quando a capital é analisada em conjunto com os municípios da região metropolitana e do Litoral – 34,8%.

Quando é levado em conta o quesito idade, a pesquisa mostra que as pessoas mais jovens se sentem mais inseguras. Na faixa etária dos 16 aos 24 anos, 42,8% consideraram suas cidades seguras, conta 40,1% que disseram achar seus municípios inseguros. Entre 35 e 44 anos, o porcentual dos que se sentem seguros cresce para 46,2%, e entre 45 e 59 anos, para 46,4%. Já entre os participantes da pesquisa com mais de 60 anos, 50,7% disseram considerar suas cidades seguras, contra apenas 33,3% que avaliaram seus municípios como inseguros.

Outro dado que chama a atenção é que as mulheres se sentem mais inseguras – 41,4% delas disseram que não consideram suas cidades seguras, contra 36,6% dos homens. Em relação à renda familiar, o maior porcentual de pessoas que se sentem inseguras ficou na faixa dos que ganham mais de R$ 4.650 por mês – 41,77%. Já os que mais consideram suas cidades seguras estão nas famílias que ganham de R$ 2.325 a R$ 4.650 – 47,51% dos entrevistados.

Jovens

O delegado da Polícia Federal e secretário municipal Antidro­gas de Curitiba, Fernando Fran­cis­­chini, tem uma explicação para os jovens se sentirem mais desprotegidos: eles estão mais expostos ao tráfico de drogas. “É a faixa etária que está no grupo de risco do homicídio e do tráfico. A faixa dos 14 aos 24 anos é hoje o público-alvo das políticas públicas de prevenção. A maioria dos homicídios vinculados às drogas está relacionada à juventude”, afirma. Para Fran­cischini, a principal causa da sensação de insegurança é o efetivo policial reduzido. “O princípio básico é a presença da polícia. Muitas vezes o governante culpa a mídia pela sensação de insegurança, é outro erro brutal. A culpa é da falta de um efetivo que faça a população se sentir segura.”

O secretário avalia que o fim dos módulos policiais e a im­­plantação do projeto Povo (em que as viaturas utilizaram telefones celulares) contribuíram com o aumento da sensação de insegurança. “Os módulos policiais davam uma sensação de segurança no bairro, a população sabia onde buscar ajuda”, diz. “São muitas ligações para o telefone celular. Quiseram copiar uma polícia de alguns países da Europa e dos Estados Unidos, mas esqueceram que temos de ter uma criminalidade controlada e um efetivo suficiente.” Para Fran­­cischini, a população sente que a sociedade e o poder público vêm perdendo a guerra contra o tráfico. “A população de Curi­­tiba e da região metropolitana sente que o combate ao tráfico é ineficiente.”

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Londrina e Região, Ademílson Batista, também acredita que a falta de policiais nas ruas aumenta a sensação de insegurança. “Os efetivos da Polícia Militar e da Polícia Civil são baixos. Com isso, a Polícia Civil não consegue elucidar todos os crimes. A pessoa que deveria ser colocada atrás das grades continua solta. Isso acaba até incentivando outros a cometerem crimes. A população sente isso na carne.” Ele lembra que, no fim do ano, o efetivo diminui ainda mais nas cidades. “São dois agravantes: há policiais que pedem férias nesta época do ano, para casar com as férias escolares; e há os policiais que ficam para o Litoral e para a fronteira. Além disso, muitos presos ganham indulto de Natal e ano-novo e acabam não voltando para a prisão. Muitos cometem crimes.”

Na comunidade

Quem trabalha na comunidade também percebe que a sensação de insegurança é generalizada nos grandes centros. “A insegurança tomou conta. A população está vivendo no cárcere”, comenta o presidente do Con­­selho Comunitário de Segurança (Conseg) Bacacheri 2, Paulo Negrão. No dia a dia, ele vem orientando a comunidade a se precaver e a não confiar apenas no poder público. “Quando converso, oriento a pessoa a cuidar da sua própria segurança. O marginal está preparado para a ação, mas o cidadão fica sem base nenhuma. Muitas vezes somos culpados, porque facilitamos a ação do marginal sobre nós. As pessoas acham que isso só acontece com o vizinho.”

Já o presidente do Conseg Jardim das Américas, Pedro Forcadell, avalia que um dos meios de reduzir a sensação de insegurança é a população participar das reuniões dos conselhos e ajudar a formular políticas de segurança. “As pessoas têm de participar mais. O brasileiro é mal acostumado, quer sempre ser provido pelo governo”, critica.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), para tentar obter uma posição da Polícia Militar ou da Polícia Civil a respeito dos dados da pesquisa, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

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Medidas simples evitam “visita” de ladrões nas férias
O risco do arrombamento de casas aumenta nesta época do ano, quando muita gente sai em viagem de férias. Mas há algumas ações que reduzem esse perigo

Encontrar a casa arrombada depois de uma viagem é certamente um dos piores desfechos para as tão esperadas férias. Mas algumas medidas simples, que não representam gastos extras, podem ser eficazes na prevenção de arrombamentos e furtos durante as viagens. Afinal, os dados da polícia mostram que o fim de ano é a época preferida pelos ladrões para roubar residências. Segundo dados do geoprocessamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2008 foram registradas 15.916 casos de crimes contra o patrimônio na capital, média superior às dos demais meses do ano. A média é de 173 ocorrências por dia.

Como as recomendações da polícia não mudam muito (veja infográfico), é preciso ter em mente dois aspectos. O primeiro é passar a impressão de que há alguém em casa – é aí que entram os conselhos básicos, como pedir para alguém recolher a correspondência ou abrir as janelas de vez em quando. O segundo é passar a ideia de que o dono se preocupa com a segurança. Para isso, explica o coronel da Polícia Militar Roberson Luís Bondaruk, autor do livro Arquitetura contra o Crime, é fundamental fugir da imagem de desleixo e desatenção. “Os ladrões sempre dão uma sondada, até para garantir a segurança deles”, explica. “Capim crescendo e lixo não recolhido mostram que a pessoa é mais relaxada. O ladrão pode concluir que a casa tem estruturas deficitárias e que o dono pode ter esquecido a janela aberta, por exemplo.”
Padrão de conduta

Durante a elaboração das pesquisas para o livro, Bondaruk contou com o apoio de um grupo de psicólogas e assistentes sociais que entrevistaram 287 presos no Paraná. Alguns dados chamam a atenção: 30% deles disseram preferir cometer furtos simples (bater uma carteira, por exemplo), 20% optaram pelo furto qualificado (quando precisam cometer um ato que qualifique o furto, como por exemplo arrombar uma casa) e 40% pelo roubo (quando há presença da vítima). Para 34%, a melhor maneira de invadir uma casa é o arrombamento, e para 35%, o uso de chaves falsas. A maioria dos ladrões prefere agir em locais com pouco trânsito de pessoas e de pouca claridade. E 71% deles disseram preferir invadir casas cercadas por muros ao invés de grades.

A partir de dados como esses e de outros que indicam um padrão de conduta dos ladrões, Bondaruk elaborou uma série de dicas para manter a casa segura em qualquer época do ano. Entre elas estão instalar grades em vez de muros, que obstruem a visão de quem está fora e podem fazer o ladrão se sentir mais “seguro” para invadir o local (o mesmo vale para os portões); não manter lixeiras perto do muro ou da grade, nem outros equipamentos que facilitem escaladas; e não fazer muros em forma de rampa, nem sacadas junto à lateral da casa. Essas e outras recomendações estão em cartilhas no site www.antidelito.net.

“Só os ladrões inexperientes se jogam de cabeça. Esses, muitas vezes, ficam presos em janelas, grades e chaminés”, diz Bondaruk. “Os mais experientes verificam a estrutura da casa, são estudiosos da prática, verificam quando o morador é menos inteligente. Por exemplo, muita gente coloca um muro de 2,5 metros na frente da casa, mas na lateral o muro é baixo. Isso revela pouca malícia, indica que deve haver outros aspectos que facilitam a ação do ladrão.” O coronel dá um conselho simples: quando viajar, o morador deve pedir para alguém recolher materiais de propaganda que são colocados nas grades. “Alguns criminosos colocam essas propagandas e no dia seguinte passam para ver se ainda estão lá.” Outra recomendação é ter cães.

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Veja as dicas da polícia para evitar arrombamentos em sua casaSobrados exigem atenção redobrada
O coronel da Polícia Militar Roberson Luís Bondaruk, autor do livro Arquitetura contra o Crime, dedicou atenção especial aos sobrados, pois a pesquisa entre os detentos (que fundamentou a obra) mostrou que esse tipo de construção é um dos preferidos dos ladrões. “O principal problema do sobrado é a sacada. Muitas vezes ela é geminada com outro sobrado, ou encosta no muro do vizinho. E a pessoa coloca grades na porta e nas janelas inferiores e deixa o pavimento superior desguarnecido”, comenta o coronel.

Segundo ele, alguns proprietários de sobrados têm aumentado as paredes, bloqueando a ligação com o muro. “Outros colocam grades, mas até a tela para impedir a queda de crianças ajuda. O ladrão teria que cortá-la e esse trabalho pode fazer com que ele desista.”

O delegado Luiz Carlos de Oliveira, da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, aposta no bom relacionamento com os vizinhos para evitar roubos no período de viagens. “Às vezes um viaja e o da frente fica. É importante que o vizinho fique atento e veja movimentações estranhas.” Em apartamentos, os moradores devem ficar atentos a fitas e outros materiais que obstruem o olho mágico. “Se isso acontecer, pode ter sido colocado por um ladrão. A pessoa deve retirar e comunicar a polícia.”

Outras recomendações são para reforçar as portas com trancas internas. “Cadeados para fora não são recomendados, o ladrão vê que não tem ninguém.” Quem mantém sistemas de monitoramento por câmeras deve ter um local de armazenamento escondido. “A câmera é de fundamental importância. Mas, em casas com câmeras, o ladrão costuma levar o computador. A pessoa deve manter em segredo um local onde armazene essas imagens, que ajudam a identificar e prender o ladrão.”

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