7:20O governador e os abduzidos

Roberto Requião é um fenômeno na província. Ele é o Lula da paróquia. Com a diferença de que o presidente vez por outra fala besteira. Requião faz, mas com aquela convicção que transforma seu eleitorado, bem traduzido na pesquisa abaixo, em abduzido. Primeiro político da história do Paraná a exercer três mandatos, vai encerrar em abril o seu segundo consecutivo com um saldo que poderia se resumir numa pergunta: onde está o governo de esquerda, com opção preferencial para os pobres? A Carta de Puebla só saiu da gaveta para a repetição nos discursos. Requião é um líder, teria condições de chegar onde Lula está, com a diferença de que é muito mais inteligente, mas padece de um comportamento que qualquer psiquiatra recém formado diagnostica como mania, ou seja, síndrome de ser Deus. Vive num mundo à parte, onde tem certeza de que sabe tudo e está certo, daí a arrogância que está a zilhões de quilômetros da empatia de Lula. Requião não aceita discutir e faz o que der na telha. O grande problema é que é governador de Estado e tem toda a máquina e bajuladores para tentar atender o que lhe der na veneta. Quando se vê diante de situações que não estão de acordo com o seu script, supreende até quem está acostumado aos chiliques, como foi o caso da reeleição. Achava que iria ganhar de lavada de seu ex-secretário da Agricultura, o senador Osmar Dias, e quase perdeu. Rodou a baiana como se tivesse sido derrotado e colocou o adversário no rol dos inimigos mortais. O eleitor de Requião vai do intelectual ao representante da ninguenzada que mora onde o vento faz a curva. Uma das explicações para a adoração é que o governador é o político que consegue peitar os poderosos – e as brigas com o Judiciário, as montadoras, as empreiteiras, o “demônio do capital”, enfim, contra Deus e o Diabo na terra das araucárias, fazem dele um paladino insensado porque coloca em cena aquele que vota nele não pode realizar – e aí vira mito. Não por acaso Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, é ídolo do paranaense. Essa empatia reforça a mania de Requião, que acha que tudo pode. Numa comparação forçada, bastante forçada, poderia-se olhar a trajetória do camarada Mao, que fez a Revolução Cultural chinesa, entre outras coisas, e depois descobriu-se ser doido do pedra. Requião não é doido. Tem uma legião de doidos por ele, no bom sentido, que fique claro. É fruto da democracia. O sonho de ser presidente da República sempre esteve presente. O problema é que fora dos limites da província ele tem mesmo fama de maluco sem consequência. Mas Fernando Collor de Melo era doido, desconhecido além dos limites de Alagoas e chegou lá, podem pensar quem sonha com o Brasil nas mãos e na cabeça de Requião. A diferença é que Collor, hoje senador, contou com o apoio da mídia que Requião considera canalha. Portanto, a história não se repetirá, mesmo porque o cenário é completamente diferente. Requião será novamente senador da República com um caminhão de votos da legião de fiéis. Depois, sabe-se lá quando, vai se aposentar como o político que, como certas árvores, não deixou nada nascer sob a sombra. Foi por isso que demoliu dentro do PMDB quem seria um natural sucessor, o hoje deputado federal tucano Gustavo Fruet. Que poderá ser seu adversário na eleição do ano que vem. Ou não. Porque, como disse o mesmo Requião em fita que é top de linha entre tantas outras, ele se abraça até com o Tinhoso para ganhar uma eleição. Se for assim, poderá confirmar sua aproximação com Beto Richa para que Fruet fique onde está, na Câmara Federal, e ele, Requião, se garantir mais. Não pensem, contudo, que ele desistiu de ser candidato a presidente. Sabe que está sendo utilizado como massa de manobra por Orestes Quercia, seu ex-inimigo, e José Serra, para minar o acordo feito pela ala de Michel Temer com o PT de Lula e Dilma Rousseff. Numa dessas, dá uma zebra, ele entra na brecha e, quem sabe…. O Brasil não é mesmo um país de doidos?

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