por Zé da Silva
Libra
Seria o gosto da rabanada? Ficou para sempre porque delícia cremosa por dentro. Nunca mais viu, mas ao se aproximar da data, enquanto os shoppings fervilham e as propagandas inundam cabeças para que se compre, compre, compre, esqueçam o que signfica tudo isso, aquele menino nasceu à toa porque o que vale é o consumo, é o ter, mais que o outro, olha eu aqui com meu carrão, olha eu aqui mais poderoso, mais ladrão do que você, bem, ele sempre lembrava das rabanadas na bandeja em cima da toalha com motivos natalinos. Porque era feito por ela e não importava que, se houve presentes, a memória não registrou. Ela provavelmente nunca os ganhou na infância no mato. Assim como ele, o marido dela, os pais dele, todos habitantes daquele castelo de fundos, um quarto e cozinha na vila dos confins da metrópole. Depois da separação na estrada da vida, a cada ano vinha o gosto bom daquele momento, memória olfativa e de paladar, e também o travo amargo da distância, agora para sempre. O choro a temperar tudo. Porque assim é. Por isso ele se sente vivo. E feliz. Por nunca ter esquecido a rabanada feito com amor de mãe.