Nelson Rodrigues partiu há 29 anos

Nelson Rodrigues pedia para a juventude envelhecer o mais rapidamente possível em mais uma de suas sábias lições de vida. Ele parece ter nascido velho, no bom sentido. A genialidade dentro de uma família privilegiada pelo talento nesta terra de idiotas, para usar o termo correto dele, que escrevia isso sem maldade, apenas como constatação do que via na ninguenzada e na chamada elite. Nelson Rodrigues foi criador em tempo integral, um homem com percepção do seu tempo, mas vendo de fora. Reacionário o chamaram, pois ele pegou o rótulo e colou na testa com festa. Patrulhado pelos ingênuos da chamada esquerda, sofreu na carne a dor do filho militante preso, mas nunca amansou, nunca baixou a crista, construiu uma obra literária e teatral tão seminal, que fica difícil descrever. Ele desnudou a alma da família brasileira e a colocou no meio da praça, para ser observada por nós mesmos. Foi ao Maracanã, o estádio Mario Filho, em homenagem ao cronista seu irmão, e escreveu aquilo que nossa alma de apaixonado pelo futebol sente, mas não traduz. Quem mais poderia descobrir o “espírito de vira-latas” e saber quando o “sobrenatural de Almeida” baixa em campo. Nelson Rodrigues escrevia como quem fala. E a simplicidade de seu texto é algo que não há similar. E quantas frases e expressões criou para a eternidade? Fez tudo isso atravessando um calvário de tragédias na vida real, magistralmente descritas pelo jornalista Ruy Castro em seu antológico “O anjo pornográfico”. Nelson Rodrigues nasceu e morreu velho ensinando a quem tem um tico de sensibilidade. Sua seriedade era traduzida em cargas estonteantes de humor. Um maravilhoso reaça que faz muita falta a este país eternamente idiotizado.