12:27“Juventudes” é o nome certo desse amor

Por Thea Tavares 

A massa de que este nosso mundo é feito tem ingredientes da paixão, da animação, da vontade e daquela força motivadora, construtiva, que faz pulsar o coração dos que defendem uma causa coletiva. Pode parar para pensar que logo surge a constatação: as principais transformações sociais da história foram passo a passo conquistadas pela união do impulso de uma necessidade coletiva, à ação e indignação dos idealizadores da mudança. Na maioria das vezes, por pessoas que levaram adiante o sonho de muitos e não se contentaram em abrir mão de pequenos confortos ou facilidades para carregarem sozinhos o piano pesado das dificuldades que se impõem a essas transformações.

Ontem em Curitiba, em pleno sábado ensolarado incomum por aqui, praticamente véspera de Natal, um grupo de 40 jovens se reuniu para planejar ações que caminham mais uma vez no sentido da mudança social. Nesse caso, o Seminário de Construção do Conselho Estadual de Juventudes do Paraná. Muitos podem pensar que isso seja masoquismo ou viagem, mas não é. Puro compromisso e senso de responsabilidade social, impulsionados por um idealismo, sim, mas do tipo que faz a roda desse mundão girar. E quem quiser apostar que os jovens não são mais aqueles de outros tempos, que estão acomodados no colo das benesses do consumismo moderno, vai morder a língua! Havia na reunião jovens do movimento estudantil, da gestão pública, de partidos políticos, de centrais sindicais e sindicatos de classe, da promoção artística e cultural, do movimento hip hop, das igrejas, da agricultura familiar, da reforma agrária… Enfim, uma galera! A intenção desse encontro, como o próprio nome do seminário indica, foi construir um conselho estadual de juventudes, assim, no plural mesmo, que dê conta de elaborar propostas de políticas públicas, de apontar ações voltadas para o segmento e, também, que assuma sua participação no controle social.

No seminário, foram apresentados os 92 programas mais importantes que existem no âmbito do governo estadual, a proposta de emenda à constituição do Estado do Paraná (PEC 039/2009), de autoria do deputado Professor Lemos, para definição do marco legal, e os passos dados para constituição do Fórum Estadual de Juventudes, que terá o papel de regionalizar o processo de construção do conselho. Dois integrantes do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) também vieram pra cá contar as experiências do que já vem sendo feito no plano federal: a catarinense Severine Macedo, representante dos jovens da agricultura familiar no Conjuve e secretária nacional de Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), e o carioca Marcus Vinícius Matos, da Rede Fale, que reúne jovens cristãos, na maioria evangélicos, com firme atuação no combate às discriminações e aos preconceitos.
Severine foi enfática na defesa do conceito norteador de que a juventude precisa de promoção e emancipação para que, de forma pró-ativa, assuma as rédeas da mudança e reverta o fato de que, hoje, os piores indicadores sociais estão associados a ela. É fato de que os jovens estão num dos segmentos mais vulneráveis às problemáticas sociais, mas isso se deve muito a um reflexo da sociedade violenta sobre as pessoas e da falta de oportunidades para a promoção da juventude, que necessariamente ao simples fato de serem jovens. Se for tomar esse rumo, a atuação que deveria construir o novo acaba por reforçar um preconceito e o que deveriam ser ações e políticas emancipadoras, por sua vez, começam e terminam na assistência social, na proteção e tutelação da juventude. O que tenta remediar as situações extremas, mas não estanca a sangria.
A formalização do jovem como sujeito de direitos passa pela luta pela constituição do marco legal, pela definição do plano nacional, com metas para os próximos 10 anos, e pela criação do estatuto da juventude, que estabelece direitos e deveres. A partir daí, é com eles! E se tem quem consiga se organizar e abrir espaços de participação, com todo o gás transformador da militância e com um projeto de sociedade bem desenhado, essa pessoa é a moça e o rapaz da reunião de ontem. E tem de se embrenhar pela seara das decisões políticas, senão não vinga! Se a atuação política e as instituições públicas caem em descrédito, muito da culpa está da falta de participação das pessoas e de mecanismos eficientes de controle social. O que esses jovens não querem é chorar sobre o leite derramado, se assentar sobre uma montanha de reclamações ou na omissão e passividade deprimentes de quem não enxerga mais razões para seguir adiante. Isso não combina com JUVENTUDE mesmo!
Muito chão pela frente! Mas se reunir no sábado ensolarado, praticamente às vésperas do Natal, com o corre-corre frenético nos shopping-centers rolando lá do lado de fora, já mostra o tamanho do pique dessa galera. Em março do ano que vem, acontecerá um encontro nacional dos conselhos de juventude que existem em todo o Brasil para planejar as estratégias e metas da construção de um sistema nacional. Vai acontecer junto com o encontro nacional dos beneficiários do Projovem que, como já sabemos, levará uma delegação menor aqui de Curitiba. Mas os paranaenses com certeza vão ter mais acúmulo de informação e propostas na bagagem para levarem seu recado e para integrarem-se ao movimento que já ganha corpo pelo Brasil todo.

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