11:59HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

Olhou o resultado da loterial federal e viu que, mais uma vez, seu palpite tinha sido infeliz. Rasgou no meio, de fora a fora, o bilhete inteiro, aquela tira colorida cuja ilustração ele não mais olhava. Mas, sem saber porque, enfiou no bolso o papel, talvez por costume. Mais tarde descobriu que tinha olhado o resultado do dia errado, que tinha ganho o primeiro prêmio – e aí foi aquela batalha jurídica para pegar o dinheiro, por causa do bilhete rasgado. Ganhou na Justiça um tempo depois. Deu uma parte para o advogado de porta de cadeia que um amigo lhe indicou. Aí imaginou curtir a vida como via nos filmes da pequena televisão preto e branco que tinha na casinha de fundos, meia água. Largou o emprego de operário numa fábrica. Não merecia mais viver melado de graxa. Aumentou as frequência no boteco da esquina. Começou a pagar bebida para todo mundo. Um dia viu a moça passar ali na frente. Se engraçou. Começou a cortejar com presentes. Deu até um Fusca usado. Esqueceu mulher, filhos, foi morar com a outra. Quando acordou, não tinha mais nada. Apenas lembrança. Dinheiro, só para a bebida mais barata. Cachaça de quinta. Acabou na rua. Um dia o encontraram na caído na porta de uma lotérica. Tinha partido sem deixar bilhete.

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