Paulo Baier parecia não ser Paulo Baier hoje durante boa parte do jogo. Errava passes, as chuteiras pesavam como bolas de ferro, os companheiros não ajudavam, ele se deslocava mas a bola ou vinha quadrada ou se vinha redonda escapava-lhe do controle. E as faltas não aconteciam para ele meter na gaveta. E os tiros de canto em tentativas de gol olímpico morriam nas mãos dos goleiro carioca. Mas ele jamais colocou as mãos na cintura ou balançou a cabeça maldizendo a jornada ruim num jogo decisivo, de fica ou despenca, desistindo. Parece saber que o momento sempre chega para predestinados. Formiguinha incansável tentava, tentava, até o primeiro instante mágico do deslocamento pela direita e o passe açucarado para a conclusão de Wallyson ainda no primeiro tempo. Na fração de segundo estava ali esse simplório exuberante em toda sua dimensão. Na frieza que controla o momento, que olha tudo o que acontece em volta e decide. Depois, continou do mesmo jeito que estava, mas não é qualquer um que ganha música especial da torcida na apresentação. Aí veio o gol consagrador, o do alívio, o que elevou todos ali às nuvens brancas e ao céu de ferir os olhos que cobria a Baixada neste domingo. No cruzamento da esquerda, a bola voando em câmera lenta para os corações aflitos, ele se preparou para subir no tempo exato, mas como a trajetória daquela que lhe é fiel a fez se dirigir um pouco atrás da linha de sua coluna, ele foi foi para trás e, com o toque sutil de cabeça, colocou-a no canto direito do goleiro, fora do alcance deste, mas no ponto certo para deflagrar a explosão da alegria mais pura, a alegria que engoliu o medo do rebaixamento, a alegria proporcionada por um jogador que merece vestir a camisa rubro-negra.