Como velhas lojas
de quinquilharias
meu coração se engalana
mais uma vez
ao burburinho de vozes,
fitas vermelhas, cedrinhos,
bolas coloridas,
brinquedos de cordas,
rostos de porcelanas.
Brilham letreiros
nos portais,
janelas abertas à rua
como que oferecendo
aos transeuntes
sua alma de secos, molhados,
armarinhos.
De tudo um pouco:
imagens de antiquário,
perdidos povoados,
trilhos e trens,
mulheres de branco
percorrendo afoitas
séculos de suas eternidades.
Como velhas lojas
de quinquilharias
– dessas que a gente
encontra em livros –
meu coração ilumina-se
por inteiro,
rejuvenesce, torna-se
misterioso e musical,
enternecido
com lembranças e sensações
de todas as felicidades.
Calado sob o peso
de suas emoções,
panos puídos,
sedas de imperadores,
vê tardes e madrugadas
tecerem seus poemas.
(… e em algum lugar
um Menino ressuscita
inventando outros mundos
serenos)
de Zeca Corrêa Leite