14:50“Uma Crônica” de Curitiba

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Do jeito que veio: 

O livro Uma Crônica – Curitiba e sua História (Editora Esplendor, Curitiba, 580 páginas, 2009), texto inédito do jornalista Eddy Antonio Franciosi (1930-1990), lançado nesta semana, é um título demais singelo para o livro monumental que é. Na verdade, é uma grandiosa história de Curitiba, contada desde os primórdios do primeiro planalto paranaense até nossos dias, com muito estilo, emoção, detalhe, pesquisa e precisão histórica. Uma Crônica não é apenas um livro de relatos históricos. É, antes de tudo, pela sensibilidade do autor, um livro que procura revelar o coração e a alma daqueles que fundaram, ajudaram a desenvolver e transformaram Curitiba na grande cidade que é hoje.

Inédito há vinte anos, Uma Crônica repassa, na visão apurada do repórter, cronista, teatrólogo e pesquisador Eddy Franciosi, que foi um dos principais jornalistas de sua geração na cidade, toda a história de Curitiba. Com citações e revelações inéditas, tendo como referência os principais personagens da vida real de Curitiba, historiadores e fontes de pesquisa do Brasil, do Paraná e da sua querida cidade. Franciosi organizou Uma Crônica em dois volumes caprichosamente datilografados e encadernados, que somam quase 600 páginas. Ele levou cinco anos para escrever esta obra.

“De Eddy guardo a lembrança de alguém que se mantinha impecavelmente bem vestido, roupa feita em alfaiate, um privilegiado porte físico, perfil italiano, com traços de sinceridade polida de gaúcho”, diz no prefácio o jornalista e escritor Aroldo Murá. “Não falava de si, não expunha seu universo pessoal a não ser para um mundo muito restrito de íntimos. Com eles repartia saberes de um homem de sólida formação humanística, boa parte colhida em pesquisas bibliográficas continuadas, amplas. Tal como fez quando escreveu este grande livro, indo às raízes de nossas raízes, para colorir os passos e os horizontes de Curitiba e suas contradições, suas lendas, seus imigrantes, seus mistérios e as surpresas escondidas no universo de famílias aristocráticas”.

Eddy Franciosi planejou Uma Crônica de maneira cronológica, dividindo o livro em nove partes. Aos poucos, ele vai revelando, no túnel do tempo, com seu estilo literário encantador, mas quase sempre com fina ironia, a formação da vida urbana de Curitiba, contando as passagens marcantes e polêmicas da vida social e citadina de uma província, até se tornar grande. Todos esses elementos compõem um delicioso painel histórico, que nos transporta a um rico e curioso passado não muito distante, mas não mais presente.

No conjunto do texto, o autor registra 318 citações, de 50 autores, além de artigos, entrevistas e outras fontes consultadas, mostrando a seriedade de seu trabalho. Estão relacionados nomes fundamentais da história da cidade, como Rocha Pombo, Romário Martins, Reinhard Maak, Gilberto Freire, Andrade Muricy, David Carneiro, Júlio Moreira, Euclides Bandeira, Francisco Negrão, Affonso Alves de Camargo, Oliveira Viana, Temístocles Linhares, Ermelino de Leão, Chichorro Júnior, Valfrido Piloto, Wilson Martins, Poty Lazzarotto, Newton Carneiro, Ruy Wachowicz, Riad Salamuni, Thereza B. de Lacerda, Adalice Araújo, Valêncio Xavier e Freitas Netto.

Eddy Antonio Franciosi foi jornalista em tempo integral e um cronista teatral de mão-cheia da cidade. Trabalhou nos jornais de Curitiba como colunista social, repórter e editor. Também fez teatro, uma de suas maiores paixões, escrevendo e dirigindo peças. Entre as décadas de 1960 e 1970, atuou como profissional no “Diário do Paraná”, o mais importante veículo de comunicação da época. Conviveu na intimidade da sociedade curitibana. Traçava perfis psicológicos de personagens da vida real como ninguém.

“Poucos o conheceram bem. Uma das exceções foi a atriz Lala Schneider (1926-2007), dama e legenda do teatro paranaense (poderia ter sido do teatro brasileiro, ela não o quis)”, diz o jornalista Aroldo Murá. “Eram amigos muito antigos, dos anos 1950, e inseparáveis. Dela, Eddy foi diretor, no Teatro dom SESI, elenco que foi marco insubstituível da vida teatral do Paraná. Entre os dois havia aquela cumplicidade cega que une os verdadeiros amigos, que tudo encobre, tudo enxerga, nunca ofende”.

O crítico de Eddy tornou a sua carreira de jornalista, sobretudo a de colunista social, muito peculiar. Criava situações inéditas: certa vez, vestiu-se de mendigo e foi pedir esmolas na frente da Catedral, praça Tiradentes. Seu “estudo” rendeu uma matéria curiosa, uma verdadeira crônica sobre hábitos urbanos do curitibano. Trabalhou também na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) como assessor de imprensa, produzindo a revista “Indústria” e dirigindo um boletim semanal com dados econômicos.

Uma Crônica – Curitiba e sua História é, sem dúvida, um grande livro que revela um grande autor, postumamente. O livro foi publicado pela Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba, com patrocínio do Banco do Brasil.

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