15:48Vik Muniz chega ao MON

Da Agência Estadual de Notícias:

Museu Oscar Niemeyer abre mostra de Vik Muniz nesta quinta-feira

Uma Mona Lisa feita de pasta de amendoim, Che Guevara desenhado em geleia ou o retrato de Elizabeth Taylor representado a partir de centenas de pequenos diamantes. Assim é a obra de Vik Muniz, surpreendente no uso de materiais inusitados e no resultado. O público poderá conferir a exposição do artista a partir desta sexta-feira (20), no Museu Oscar Niemeyer. A abertura oficial da mostra acontece nesta quinta-feira (19), às 19 horas, para jornalistas e convidados.

Imagens massificadas, ícones e símbolos populares, sucata da sociedade moderna industrializada e fotos de obras de artistas consagrados, como Monet, Goya e Caravaggio, servem de ponto de partida ao artista. Peças de informática, microscópio, seringas, papel recortado, lixo e produtos alimentícios, como nas séries Crianças de Açúcar e Imagens de Sucata estão entre os materiais utilizados em suas originais composições. A mostra, que já passou pelo Rio de Janeiro e São Paulo, tem o patrocínio da Caixa Econômica Federal e o apoio do Governo do Paraná e da Secretaria de Estado da Cultura.

As fotografias-arte do paulistano surgem de reproduções, não de originais, que apenas servem de meio e não como produto fim. Integram esta exposição, a maior já dedicada à obra do artista, 131 trabalhos, com dimensões que vão de 23,6cm x 33cm a 292,1cm x 180,3cm, compostos por mais de 200 imagens. A exposição é complementada pela exibição de quatro vídeos, realizados pelo fotógrafo colaborador de Muniz, Fabio Ghivelder. Os vídeos revelam o processo criativo de algumas séries do artista, uma espécie de “making of” da construção de suas obras.

Uma instalação, produzida em madeira pelo próprio artista, exibe imagens, ao nível do chão, para que o espectador possa compartilhar o ponto de vista de Muniz ao fotografar de cima as obras da série Pictures of Garbage (Imagens de Lixo). Nessa série, os catadores de lixo do Aterro de Gramacho, em Caxias (RJ), personificam obras consagradas, recriadas com o material recolhido do próprio aterro onde trabalham.

Há 25 anos radicado em Nova Iorque, em rotineira ponte-aérea com o Rio de Janeiro, Vik ganhou projeção no cenário artístico internacional com fotografias de trabalhos realizados a partir de técnicas variadas e materiais quase sempre inusitados. A originalidade da obra o estabeleceu como um dos criadores mais respeitados da arte contemporânea, presente em acervos dos principais museus do mundo.

Processo Criativo – Dedicado inicialmente à escultura, Muniz percebeu, no início dos anos 90, que ao documentá-la através da fotografia encontrava um resultado artístico melhor aos seus propósitos do que a escultura em si. Desde então, resolveu unir as duas linguagens, às quais somou outras, como desenho, pintura e colagem. Não por acaso, foi a partir desta mudança que seu trabalho chamou a atenção dos críticos e de instituições de arte de Nova Iorque e, em seguida, do resto do mundo.

Ao lidar com a memória, a ilusão e, sobretudo, o humor, apoiados no uso de materiais pouco convencionais, Vik Muniz imprime sua marca. “Sempre levei o humor muito a sério”, diz. Ele não apenas registra a sua versão do mundo, como o recria. Antes de seu olhar como fotógrafo captar o que se tornará o produto final de sua obra, cria um verdadeiro teatro, com cenas, retratos, objetos e imagens, alguns em escala gigantesca, usando elementos tão diversos como papel picado, sucata, molhos e algodão, em processos de construção que podem levar semanas ou até meses.

Assim, surgiram algumas das obras presentes na mostra, como a Mona Lisa de geleia e pasta de amendoim; o soldado composto por inúmeros soldadinhos de brinquedo; a Medusa de macarrão e molho marinara; o Saturno devorando um de seus filhos; de Goya, refeito com sucata; e retratos das atrizes Elizabeth Taylor e Monica Vitti compostos por centenas de pequenos diamantes.

A relação do material utilizado com o tema não é acidental: a série Sugar Children (Crianças de Açúcar), de 1996, recria, a partir do uso de açúcar, retratos de crianças que o artista conheceu no Caribe. Uma metáfora estética sobre a doçura pueril de crianças ainda não transformadas pelo amargor de uma vida sofrida como a de seus pais, trabalhadores em regime semi-escravo dos canaviais locais. A radiosa infância daquelas crianças vai certamente ser transformada, pelo açúcar, em açúcar, sentencia Muniz.

O artista – Filho de um garçom e uma telefonista, Vik Muniz foi criado em São Paulo, onde iniciou seus estudos de arte, e chegou aos Estados Unidos graças a um acidente. Depois de apartar uma briga de rua, foi atingido por um tiro na perna. O autor do disparo era quem Muniz tentava defender na briga. Para compensar, o homem ofereceu-lhe boa soma em dinheiro, que financiou a viagem para Chicago, em 1983.
Dois anos depois, foi para Nova Iorque, onde vive até hoje. O sucesso, no entanto, chegou há 14 anos, quando seu trabalho foi visto em uma galeria por um crítico do New York Times. O artigo lhe abriu portas e rendeu o convite para a exposição New Photography, no MoMA e para a aquisição de obras suas pelo Guggenheim e pelo Metropolitan Museum of Art.

Hoje suas obras estão em acervos particulares e galerias de diversos continentes e em museus como o Tate Modern e o Victoria & Albert Museum, em Londres; o Getty Institute, em Los Angeles; e o MAM de São Paulo. Recentemente, o reconhecimento ao seu trabalho lhe rendeu um convite do MoMA de Nova Iorque para ser curador da prestigiada mostra Artist’s Choice (Escolha do Artista), realizada em dezembro passado na sede do museu – fato inédito para um brasileiro. Vik Muniz é ainda o único brasileiro vivo a figurar no livro 501 Great Artists of All Times, da Penguin Books, ao lado do carioca Hélio Oiticica, falecido em 1980.

O trabalho de Vik também tem sido visto em outros tipos de suporte, como a capa da revista dominical do The New York Times, para a qual criou um retrato de Albert Einstein feito de recortes de papel. Ou ainda o retrato de Vladimir Putin recriado com caviar, publicado na edição de 75 anos da revista Esquie.

Serviço: exposição de Vik Muniz
Visitação: de 20 de novembro a 28 de fevereiro
Aberto de terça a domingo, das 10 às 18 horas
Local: Museu Oscar Niemeyer – Rua Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico
Ingressos: R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 estudantes – Gratuito para grupos agendados da rede pública, do ensino médio e fundamental, para estudantes até 12 anos, maiores de 60 anos e no primeiro domingo de cada mês.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.