8:09Leonardo Lobo

Meti a tesoura bem no topete dele e arranquei o tupo de cabelo com o maior prazer. Olhei o sorriso de satisfação da mãe, da avó, dos amigos presentes. Depois todo mundo fez questão de participar da tosa e o sorriso do menino brilhava mais do que o normal, porque ele é daqueles privilegiados que é feliz pela vida, simplesmente. Foi ontem à noite, na pequena festa improvisada com bola de morango, salgadinhos, champagne, coca-cola e água mineral tomados em taças. Sim, o nome dele estava na lista dos aprovados na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, no curso de Educação Física. Mas Leonardo Lobo, coxa-branca “daqueles”, é especial. Ele não ouviu a algazarra da qual participou até a Ursula, uma labradora marron que eu tive o prazer de lhe presentar anos atrás. Nasceu deficiente auditivo, cresceu e se criou com o auxílio da mãe, Silmara, e da avó, Katia, na batalha para transpor as enormes dificuldades do dia-a-dia de quem veio ao mundo para provar aos outros, nós, como não damos valor ao fato de termos todos os sentidos. Meu amigo Leonardo não só dá valor ao que tem, como ao que não tem, porque isso não o impede de viver a vida, de ser um piá tão inteligente que foi aprovado sem cursinho, aluno que é do terceiro do segundo grau do Colégio Unificado. E no código de sinais ele explica que já tem projeto de ser professor para pessoas especiais como ele. E que também vai fazer o curso de “letras libras” da Universidade Federal, também com o mesmo propósito. Leonardo tem 19 anos. É bonito feito ator de cinema italiano. A beleza maior, contudo, é a alegria de viver, alimentada pela inteligência de um ser especial.

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