Do jeito que veio:
Crônica brasileira ganha novo espaço na internet
Catorze cronistas e ilustradores de todo o país compõem elenco do site Vida Breve
Entrou no ar o ontem site de crônicas Vida Breve (www.vidabreve.com). Para cada dia da semana, foi designada uma dupla fixa de colaboradores, formada por um cronista e um ilustrador. São sete escritores e sete artistas gráficos envolvidos no projeto. Os cronistas são Ana Paula Maia, Eliane Brum, Fabrício Carpinejar, Humberto Werneck, Luís Henrique Pellanda, Rogério Pereira e Tatiana Salem Levy; os ilustradores, Felipe Rodrigues, Marco Jacobsen, Osvalter, Ramon Muniz, Ricardo Humberto, Simon Ducroquet e Tereza Yamashita (abaixo, confira as duplas e os dias em que cada uma publicará seus trabalhos).A iniciativa de reunir esse time de colaboradores em torno da prática e da publicação de crônicas na internet partiu dos jornalistas Rogério Pereira — editor do jornal literário Rascunho — e Luís Henrique Pellanda — colunista do jornal, e que, em novembro, lança seu primeiro livro de contos, O Macaco Ornamental, pela editora Bertrand Brasil. Futuramente, os editores ainda planejam postar crônicas e ilustrações inéditas de diversos outros escritores e artistas convidados.
OS DIAS E AS DUPLAS
Segunda-feira
Cronista: Rogério Pereira
Ilustrador: Ricardo Humberto
Terça-feira
Cronista: Eliane Brum
Ilustrador: Ramon Muniz
Quarta-feira
Cronista: Fabrício Carpinejar
Ilustrador: Osvalter
Quinta-feira
Cronista: Luís Henrique Pellanda
Ilustrador: Simon Ducroquet
Sexta-feira
Cronista: Tatiana Salem Levy
Ilustrador: Felipe Rodrigues
Sábado
Cronista: Ana Paula Maia
Ilustradora: Tereza Yamashita
Domingo
Cronista: Humberto Werneck
Ilustrador: Marco Jacobsen
QUEM É QUEM
Os cronistas
Ana Paula Maia é escritora, roteirista, dramaturga, música e publicitária. É autora do roteiro do curta-metragem O Entregador de Pizza e coautora do monólogo O Rei dos Escombros. Lançou os livros O Habitante das Falhas Subterrâneas, A Guerra dos Bastardos e Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos. Mantém o blog Killing Travis (killing-travis.blogspot.com). Nasceu em 1977, no Rio de Janeiro (RJ), onde vive.
Eliane Brum é escritora, cineasta e jornalista. Começou no jornal gaúcho Zero Hora e, desde 2000, atua como repórter especial da revista Época. Publicou os livros Coluna Prestes — O Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém Vê e O Olho da Rua. Estreou como documentarista com o curta-metragem Uma História Severina. Nasceu em Ijuí (RS), em 1966. Vive em São Paulo (SP).
Fabrício Carpinejar é poeta, escritor e cronista. Publicou os livros de poesia As Solas do Sol, Um Terno de Pássaros ao Sul, Terceira Sede, Biografia de uma Árvore, Caixa de Sapatos, Cinco Marias, Como no Céu/ Livro de Visitas e Meu Filho, Minha Filha; os livros de crônicas O Amor Esquece de Começar e Canalha!; o juvenil Diário de um Apaixonado: Sintomas de um Bem Incurável; e os infantis Porto Alegre e o Dia em Que a Cidade Fugiu de Casa e Filhote de Cruz-credo. Mantém o blog Carpinejar (fabriciocarpinejar.blogger.com.br) e o site Consultório Poético (bloglog.globo.com/fabriciocarpinejar). É o atual vencedor do prêmio Jabuti de contos e crônicas, pelo livro Canalha!. Nasceu em Caxias do Sul (RS), em 1972. Vive em Porto Alegre (RS).
Humberto Werneck é jornalista e escritor. Já trabalhou em veículos como Jornal da Tarde, Suplemento Literário de Minas Gerais, Jornal da República, Veja, IstoÉ, Playboy e Jornal do Brasil. É autor dos livros O Desatino da Rapaziada: Jornalistas e Escritores em Minas Gerais, Chico Buarque: Letra e Música, O Santo Sujo — A Vida de Jayme Ovalle, O Pai dos Burros e o volume de contos Pequenos Fantasmas. Nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1945. Vive em São Paulo (SP) desde 1970.
Luís Henrique Pellanda é escritor, jornalista, dramaturgo, roteirista e músico. Coeditor do site Vida Breve, também atua como colunista do jornal literário Rascunho. Ainda em novembro, lançará seu livro de estreia como contista, O Macaco Ornamental, editado pela Bertrand Brasil. Nasceu em 1973, em Curitiba (PR), onde vive.
Rogério Pereira é escritor e jornalista, editor do jornal literário Rascunho e coeditor do site Vida Breve. Nasceu em 1973, em Galvão (SC). Vive em Curitiba (PR).
Tatiana Salem Levy é escritora, tradutora e doutora em Estudos de Literatura. Publicou contos na revista Ficções e nas antologias Paralelos e 25 Mulheres Que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira. É autora dos livros A Experiência do Fora: Blanchot, Foucault e Deleuze e A Chave de Casa, seu romance de estreia. Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1979. Veio para o Brasil aos nove meses de idade. Desde então, vive no Rio de Janeiro (RJ).
Os ilustradores
Felipe Rodrigues é jornalista, desenhista e músico. Assina o blog Quase Tudo (aescrita.wordpress.com). Nasceu em Curitiba (PR), em 1985. Vive em São Paulo (SP).
Marco Jacobsen é ilustrador, chargista e cartunista. Desde os anos 1980, vem publicando seus trabalhos em diversos veículos paranaenses, como Nicolau, Correio de Notícias, Jornal do Estado e O Estado do Paraná. Assinou as ilustrações da obra Lenda das Águas, em parceria com o poeta e jornalista Zeca Corrêa Leite, publicou o livro Confesso, uma coletânea de humor gráfico e cartuns, e escreveu e ilustrou o volume Lendas Brasileiras — Natureza Viva. Também publica cartuns diariamente no jornal Folha de Londrina e mensalmente no jornal literário Rascunho. Nasceu em Santos (SP), em 1972. Vive em Curitiba (PR).
Osvalter é designer gráfico e ilustrador. Trabalha no jornal O Estado do Paraná, onde é coordenador de design, e no jornal literário Rascunho. Em 2009, montou uma exposição de caricaturas literárias, Faces. Mantém o blog Osvalter (osvalter.blogspot.com). Nasceu em Londrina (PR), em 1982. Vive em Curitiba (PR).
Ramon Muniz é ilustrador e empresário. Mantém o blog Ramon Muniz (ramonmuniz.blogspot.com). Nasceu em Curitiba (PR), em 1974. Vive em São Paulo (SP).
Ricardo Humberto é designer gráfico e ilustrador. Coordena a editoria gráfica do jornal Gazeta do Povo. É responsável pela composição das capas do jornal literário Rascunho, onde também assina a seção Otro Ojo. Nasceu em 1970, em Curitiba (PR), onde vive.
Simon Ducroquet é artista gráfico, ilustrador e jornalista. É infografista da Folha de S. Paulo e publica charges no site JornalismoFM. Nasceu em Bègles, na França, em 1982. Mudou-se para Santa Catarina aos três anos de idade. Vive em São Paulo (SP).
Tereza Yamashita é designer e escritora infanto-juvenil. Atualmente desenvolve projetos gráficos e capas de livros. Mantém os blogs Matéria-Prima (materiaprimaeditorial.blogspot.com) e Achados&Perdidos (terezaeluiz.blogspot.com). Nasceu em 1965, em São Paulo (SP), onde vive.
A PRIMEIRA SEMANA
Trechos
“Os olhos espetados no vazio pintam e aguçam os traços de um homem perdido, sozinho e falante. É louco. Teimo em não acreditar. Murmura, enquanto observa, ao lado do caixão, o burburinho agoniado e as lágrimas. Não se comove por estar diante do morto; o copo plástico de café na mão direita e o pão na esquerda.”
Trecho da crônica “Café dos Mortos ou Natália e a Suavidade das 21 Facadas”, de Rogério Pereira, ilustrado por Ricardo Humberto (segunda-feira de Finados, 2 de novembro).
“Quando a conheceu, ela avisou. Sou impenetrável. Ele achou que era uma declaração de mulher metida. Estava encantado demais pelos olhos amarelos dela para se decepcionar com frases de efeito. Com o tempo, a frescura passa. Coisa de mulher que vai para o divã de psicanalista lacaniano.”
Trecho da crônica “A Mulher Impenetrável”, de Eliane Brum, ilustrada por Ramon Muniz (terça-feira, 3 de novembro).
“Confiava demais nas minhas palavras. A palavra sofria mais do que eu. Eu me importava mais pelo seu efeito do que pela sua origem. O que queria era seu reflexo no outro. Como um mentiroso que conta olhando nos olhos, para ver se pode prosseguir, para confirmar a audiência.”
Trecho da crônica “Não Sou Acompanhante Terapêutico”, de Fabrício Carpinejar, ilustrada por Osvalter (quarta-feira, 4 de novembro).
“Não foi muito difícil desenterrar aquele corpinho, tão perto que estava da superfície. E, bendita enciclopédia, meus cálculos se revelaram corretos: dentro de uma sacola plástica, um esqueleto minúsculo, livre do macaco que o fazia saltar pelo mundo, esperava pela última das minhas afrontas.”
Trecho da crônica “O inimigo”, de Luís Henrique Pellanda, ilustrada por Simon Ducroquet (quinta-feira, 5 de novembro).
“Eu queria ser cachalote. Sozinha nas águas, atravessando os oceanos. Sem turistas, sem berrinhos. Como eu desejei pular naquele mar, nadar ao seu lado, desaparecer em silêncio. Apoiada sobre o mastro, não ouvi mais nada, senão o som do esguicho da baleia.”
Trecho da crônica “Sobre o Cachalote (ou: sobre o Silêncio)”, de Tatiana Salem Levy, ilustrada por Felipe Rodrigues (sexta-feira, 6 de novembro).
“Tínhamos uma empregada que acreditava que rato velho virava pombo. Não faço ideia de onde ela tirou isso, mas cresceu certa de que era verdade. Já era uma mulher de meia-idade e se espantou levando a mão à boca quando eu disse que não, isso não é verdade. Em seguida voltou a segurar o cabo da vassoura e seu olhar estava tão caído que era possível varrê-lo.”
Trecho da crônica “Rato Velho”, de Ana Paula Maia, ilustrada por Tereza Yamashita (sábado, 7 de novembro).
“As rádios de Belo Horizonte, naquele tempo, punham no ar convites fúnebres — e foi assim que, certa manhã, tendo apagado em meio à programação musical da madrugada, acordei com a notícia de que Humberto Werneck havia morrido.”
Trecho da crônica “O Céu Pode Esperar”, de Humberto Werneck, ilustrada por Marco Jacobsen (domingo, 8 de novembro).