19:19HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

Encontrou o papel entre a casca e o miolo do tronco que um iria queimar na lareira. Foi por acaso. Viu a pontinha e puxou. A letra era caprichada, de alguém que treinou em caderno pautado com essa finalidade. Não estava assinada, mas dizia que o lugar de onde escrevia era o destino de todos. Explicava que aquilo era uma tentativa. Não explicava como conseguiu caneta e papel. Dizia apenas que estava do outro lado desde o ano de 1954 e que viu tudo fora do corpo desde que este parou de funcionar. Não encontrou ninguém. Havai claridade, havia trevas, havia cinza. Sabia o nome e vivia de lembrar tudo o que fez desde o nascimento. E tinha chegado à conclusão que as coisas ruins foram poucas e que, na maioria das vezes, eram ruins porque o pensamento as tornava e também eram originárias de motivos fúteis. As coisas boas foram coisas boas mesmo. E havia os filhos e as amizades. E a dom da profissão. E a honestidade. E as dúvidas que frutificaram pois quem tem certeza pode até errar, mas não vê e não progride. Era isso que queria passar porque sonhou um dia ter encontrado a raiz de alguma árvore. Escreveu no que seria um sonho. E despachou para o mundo dos vivos com a expectativa de que, quem sabe, seria daria mais um sinal para que quem lesse aquilo aproveitasse a dádiva.

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