17:39HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Libra

Calado só não era totalmente porque, às vezes, se esforçava e saia uma palavrinha lá do fundo da alma. Trabalhava e trabalhava e trabalhava. Demorou um pouco, mas encontrou ou que gostava: o balcão de um bar. Desses de vila, no subúrbio onde, por aquelas duas portas, entravam os brasileiros desconhecidos da silva. Era fino no tratamento, sem esboçar o sorriso largo que pouca gente viu. Mestre em fazer batidas – as de côco e amendoim as preferidas, pela cor e sabor. Pouca gente tinha capital para uma caipira de vodka, mas quando pediam, só faltavam ajoelhar pela maravilha. Ficava ali até o último freguês. Não se importava se este era aquele da dose única de cachaça sorvida a goles minúsculos. Esperava, dava boa noite, limpava todo o ambiente antes de fechar e ir ao descanso dos justos. Antes de sair, sim, contava o que tinha faturado, mas para ele aquilo parecia o de menos. Se pudesse, morava ali mesmo, nos fundos, dormiria em cima dos engradados, comeria qualquer coisa feita no cozinha, estaria sempre pronto para todos os fregueses do mundo. Do seu mundo. Ali era a sua catedral. Onde ficava e ficou bem até que, por infortúnio econômico, teve de vender o que tinha construído. Então, ficou doente, até partir, na esperança de, quem sabe, encontrar um bar do outro lado do espelho.

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