por Zé da Silva
Sagitário
Sempre achou que teria de jogar para a torcida do mundo – e isso não só o apavorava como massacrava e o pregava numa cruz de vigas de aço. Não olhava, não andava, não respirava. Crescia porque não conseguia impedir isso. Foi criança, adolescente e adulto ouvindo vozes que lhe diziam barbaridades. Era sua voz traduzindo o que imaginava ser a dos outros. Quem? Todos. Tentou fugir pelo sexo, pelo álcool, pela leitura, pelos pés, pelo ônibus, pela profissão. Lhe recomendaram um divã e ele achou que não era hora de ir conversar com o demônio em pessoa. Já estava acostumado com o próprio inferno. Quase se queimou, torrou a paciência de quem estava ao lado, mas foi ao divã e lá navegou para dentro. Só então descobriu que havia apenas um espectdor na arquibancada. E tinha a sua cara. Aí passou a bater um bolão.