10:00HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

As pedras. Ele recolheu algumas na rua do bairro e pintou-as. Queria dar de presente aos colegas de trabalho na festa de fim de ano. Deu. Alguns acharam o máximo. Outros não ligaram. Já estavam borrachos. Todos seguiram estrada. Alguns já morreram. Anos depois, encontrou por telefone um daqueles. Perguntou da pedra. Recebeu como resposta uma piada. Ficou na dele. Tinha certeza que aquelas pedras tinham muito significado. Quando as recolheu e as lavou no tanque do fundo da casa, antes de botar para secar e colorir com tinta a óleo, imaginava ser o gesto uma forma de as pessoas prestarem atenção no que não se presta atenção, a não ser quando se está à beira de um lago e se tenta a mágica da flutuação aos pinotes. Ou então quando o piá procura o projétil para o estilingue que vai ferir o pássaro. Era aquilo. Continua aquilo. Mas depois ele viu um filme onde apresentou-se significado entre pessoas que trocavam pedras. E ele concordou. Pintou a pedra. Era sua máscara. E aquelas pedrinhas tinham várias arestas, era disforme. Era ele, sem saber o que tinha dentro, mas com a certeza de que estava á procura.

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