por Zé da Silva

Touro

Saiu do lixo e olhou a bruma da manhã. Duas árvores apareciam como fantasmas com vários braços retorcidos. Uma bicicleta vinha de longe. O que pedalava olhou. Tinha cara de bandido de western italiano. O frio congelava. Não sabia porque estava ali. Viu a bunda de um carro para fora da água do lago. Era branca. Resolveu sentir o corpo. Intacto. As roupas secas. Um par de faróis quentes cortou a neblina e passou na estrada às suas costas. Não sabia o nome. Não tinha referência sobre ele mesmo. No bolso, uma carteira. Olhou a identidade. Tinha um nome, data de nascimento, pai, mãe e um número. Várias notas estufavam a carteira. Tirou-as. Jogou-as para o ar e foi caminhando na direção oposta ao lixo. Cortava a neblina e logo jogou a carteira com o documento no mato. O sol apareceu. Branco. Ele olhou, respirou fundo e pensou que finalmente era ninguém.