18:40HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Touro

O vilarejo foi achado no Rio Madeira, duas horas acima de Porto Velho. Ponto final de uma linha de barco que singrava as águas barrentas uma vez por semana. Desceu ali e foi dormir na delegacia, porque era o único lugar disponível e não havia presos. Um policial militar fazia as vezes de delegado. Havia uma capela, que só abria uma vez por mês quando o padre ali passava. O gerador a óleo parava de funcionar às 22h. Ele não viu aparelho de televisão nas poucas casas que entrou. O que mais o impressionou foi a cor da pele daqueles brasileiros. Marrom gostoso, pensou. Pareciam feitos de chocolate. E eram doces, apesar da desconfiança para aquela cabeludo de pele branca e dedos compridos. Começou a fotografar alguns dias depois, quando ganhou confiança de todos. Era da paz. Mergulhou na beira do rio e, quando emergiu, teve uma visão: um barco branco que parecia flutuar e se confundia com as nuvens daquele dia. Ganhou um chapéu de palha de um garoto. Nunca mais o esqueceu porque também o fotografou. Foi embora no dia em que passou outro barco, de outra linha, que o deixaria mais rio acima, em cidade grande, onde entrou num ônibus e foi parar na fornalha de Manaus. De lá foi a Belém, pelo Amazonas, chegou a São Luiz, visitou Alcântara, onde jogou bola em frente a uma ruína e fez  a melhor jogada da sua vida. Depois, voltou, espremido num banco, até a grande metrópole do Sul do país, onde foi se perder para sempre.

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