8:22A VIDA COMO ELA É

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Foto de Roberto José da Silva

iluminados

auto-retrato

Fotos de Ricardo Silva

Sempre foi artista. E como é bom ter um irmão, único irmão, assim, iluminado! Sangue do meu sangue, costumamos brincar a sério nas conversas diárias. Ele lá, a milhares de quilômetros, tomando conta da casa e do quintal da dona Zefa e do Zé Luis, na Palmeira dos Indios do Graciliano e dele, Ricardo, que honra a farda da PM que veste e, mais ainda, nos honra com as imagens que produz desde que, há dois anos, ganhou uma maquininha fotográfica digital, dessas de turista, baratinha. Ah, a revelação dele como fotógrafo, explodindo todo dia em imagens que capta, imagens dos detalhes deste mundo que ninguém olha mais, um mundo particular que é tudo, mas parece nada diante dos olhos da maioria, ah!, são como bilhetes de felicidade extrema. Há 48 anos ele veio ao mundo e eu chorei de raiva porque queria uma menina. Sabe-se lá por quê? Eu já tinha 7 anos não ficamos muito tempo juntos, ou melhor, não prestamos muita atenção nisso. Agora ele me revela que, na verdade, sempre estivemos um do lado do outro, porque  ele navegava nas ondas das rádios que eu escutava, das imagens e textos do que eu lia na adolescência, e foi assim que ele meteu as caras no mundo bem antes. Desenhenhista underground na nossa Sampa de nascimento, roqueiro maluco que viu Raul Seixas no Festival de Águas Claras, frequentador do desvios da vida, menino que retorno dos pais no fecho do ciclo do pau-de-arara provavelmente se salvou de ser engolido pela metrópole. Vestiu farda não por vocação, mas por falta de opção – e assim, pode cuidar com dedicação de monge ao pai, doente, depois de ele ter puxado o freio da própria, bem antes que o mano véio aqui no sul. Pai da Carol, avô da Manoela, bicho solitário que prefere não atrapalhar a vida de ninguém porque ainda se descobrindo. Desenha uma história em quadrinhos encomendada há tempos pelo editor da editora Conrad, que era seu fã lá naqueles tempos dos subterrâneos, mas deu um tempo porque, quem sabe, talvez, ele não fala, foi tomado pela magia das imagens. Ele é o fotógrafo que um dia eu imaginei ser ao entrar nessa seara do jornalismo. E isso é mais do que um presente, mesmo porque a maquininha que ganhou foi um presente deste que agora escreve para homenageá-lo publicamente no dia do aniversário, declarar meu amor e o orgulho ser sangue do seu sangue.

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