17:35Horóscopo

por Zé da Silva

Sagitário

Olhou para todos os lados e só viu construções pavorosas. O vento zunia e a chuva lavava o asfalto, ao mesmo tempo que não havia mais meio-fio, pois a enxurrada aumentava, aumentava, aumentava. O carro estava do outro lado e a marquise do prédio já não protegia. Pulou, para aproveitar um espaço entre os carros que pararam no semáforo adiante. Sentiu o peso. Do corpo, do tempo. A água gelada furou o tênis, a meia, entrou pelas veias e foi ao cérebro. Primeiro ele xingou para dentro. Mas, o quê? Depois que entrou na máquina com lata em volta, se viu em meio aos vidros embaçados e então estava lá, ele, o barquinho de papel, feito a mão, técnica aprendida por alguém daquela turma de rua, rua de terra, como todas as outras do bairro. Ele vencendo os obstáculos na corrida maluca da rua em declive, o barro entrando por entre os dedos dos pés descalços, a chuva caindo e inundando tudo de felicidade. Cacos de vidro, pregos enferrujados com ameaça de tétano havia sim, mas era só na boca e no coração das mães preocupadas. Alguém bateu no vidro, que desceu automático num toque. Alguém avisava para sair rápido. Ali era local de enchente.

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