Um dia depois do vexame argentino diante do Brasil, em Rosário, o centroavante Ariel Nahuelpan, do Coritiba, colocou tudo nos devidos lugares. Exagero? Sim, porque Nelson Rodrigues sempre teve razão. O futebol é mágico pois certos lances valem mais do que uma derrota. E ontem, contra o Goiás, este jogador que veio do Nueva Chicago, time do bairro de Mataderos, de Buenos Aires, fez um gol que vale por quantas partidas, quantos campeonatos, quantas mil horas de passes para o lado? Leônidas da Silva, que inventou a jogada, aplaudiu de pé lá do céu. Falaram muito do erro do goleiro, que não rebateu a bola direito, mas isso é detalhe sem importância. Quando a bola lhe foi passada, Ariel, de costas para o gol, cercado por todos os lados, sabia o que ia fazer – tanto que o passe que deu a si mesmo, de peito, erguendo a bola na altura e posições exatas, já foi uma pintura. Ele então flutuou no ar como se fosse mágico e a linha das costas ficou parelala à do gramado. Veio o chute, como toque final de um movimento de pura arte, com o peito do pé esquero (pé esquerdo!), para fazer a bola cortar o ar, furar a defesa e entrar no lado direito do gol, embaixo, e beijar as redes e deslumbrar quem estava no estádio, quem viu na televisão e na internet. Quarenta minutos do segundo tempo, gol de empate! Se a Argentina chorou na véspera e odiou o técnico Maradona, assim como o ama, no dia seguinte recebeu este presente de um filho da terra e hoje jogador Coxa. Um gol que faz todo o resto ser insignificante, diante de tanta magia. Confira: http://www.youtube.com/watch?v=Es84UkIBQbc