17:08HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Virgem

Fotografou o menino no colo da mãe e o fotograma em preto e branco revelou dois olhos que perguntavam quem é você? Essa pergunta ele não sabia responder à época, porque virgem de vida e atirador maluco em busca de um norte. O menino ficou ali com aqueles olhos e o pai desviou os dele para outras direções – e se queimou no fogo dos prazeres e das soluções rápidas. Antes de partir registrou o dono daqueles cabelos loiros e encaracolados sob uma luz da sala de jantar da casa de madeira; cercado de folhas coloridas caídas da árvore do bosque lá do fundo; e também foi registrado com o piá no colo, apontando para uma direção que hoje, muito tempo depois, dá para se interpretar assim: olha, vá por ali, não me siga! O garoto foi, mas continuou olhando o pai com os olhos de mar e depurando algumas coisas boas – porque sempre há coisas boas. Literatura e cinema, por exemplo. Ao contrário do avoado que só se descobriu depois de muito sofrer, quis a direção do encantamento dos traços arquitetônicos de uma casa construída, a primeira, onde o pai ficou pouco. Três décadas e um ano depois continua uma criança tímida, de sorriso com freios, mas com um universo de conhecimento e emoções represadas tão grande que… Às vezes ele coloca isso em forma de letras e se revela escritor pronto. Nestes momentos é tão luminoso quanto a alma, mesmo quando trata das dúvidas, das nuvens pesadas. O pai agora observa de longe. O menino dos olhos grandes e penetrantes está mais perto há muito tempo. Se beijam. Se abraçam. Não há barreiras para o contato. Se falam pouco, mesmo morando perto. Estão se aprendendo. Mas sabem o mais importante: que sempre se amaram. Era isso que aqueles olhos também queriam dizer no quarto da maternidade e nas fotos em preto e branco.

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