6:58Encontro na noite com Stevie Ray Vaughan

Era uma noite qualquer, de um dia qualquer naquele tempo que dia sim e outro também eu batia ponto no Kapelle, o bar da minha querida Mara, na Saldanha Marinho. O convite foi rapidamente aceito. “Gigante” queria apresentar uma coisa nova para mim e para o Paulo Marins, outro grande chapa. Caminhamos pouco pela rua mais escura do que nunca. O Gigante ainda morava ali. Ele me pediu para ouvir uma música e identificar o artista. Eu não podia ver a capa da “bolacha”, como a gente chamava um LP de vinil. Os primeiros acordes de “Voodoo Chile” me fizeram rir e dizer: “Mas quem não conhece o Hendrix”. Ele retrucou: “Não é ele”. Eu: “Não tem ninguém que toque como ele”. Gigante: “Tem”. E me mostrou a capa do “Stevie Ray Vaughan Could’t Stand The Weather (1984)”, o segundo disco deste texano que entrou na minha vida naquela noite – e nunca mais saiu. Naquela gravação ele homenageava um dos seus e meus ídolos, mas depois que saí comprando tudo o que ele tinha gravado (foram poucos discos antes da morte trágica no acidente de helicóptero no dia 27 de agosto de 1990) e lendo tudo a seu respeito, descobri que o talento natural foi moldado sob a influência dos grandes bluseiros, como Albert King e Buddy Guy, que sempre se disse “pai musical” do grande artista, e que ele estava decolando para a fama, depois de sair do inferno das drogas, quando aconteceu o acidente. Vi Jimmie Vaughan, seu irmão, em São Paulo, num Free Jazz, e o baterista Chris Layton e o baixista Tommy Shannon, seus companheiros da banda Double Trouble, numa apresentação no Jockey Club de Curitiba. Era uma espécie de homenagem particular que fazia a SRV. Aquele que não poderia mesmo ser Jimi Hendrix, mas sempre me levou ao céu, com o som de sua guitarra descascada, a partir daquela noite qualquer, num dia qualquer de Curitiba.

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