12:06HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

Tinha uma mangueira e os frutos pendurados estavam verdes. O quintal de fundos era todo cimentado e o único pedaço de terra aparecia em volta do tronco da árvore antiga. Mas ele se interessou mesmo pelo retângulo de metal cinza no do muro amarelo bem alto. Uma porta. Tímido, não perguntou para ninguém o que tinha do outro lado. Depois de dois dias naquela casa do outro estado, onde fora passar férias com os avós, tentou a maçaneta. Fechada. Descobriu então onde estava a chave, porque ali tudo era organizado e as chaves, penduradas num pedaço de madeira com florzinhas pintadas, estavam identificadas. Coração aos pulos tomou coragem um dia em que ficou só com a empregada. Foi lá. Girou duas vezes e abriu. Deu de cara com outra parede alta, mas havia um espaço entre ele e ela. Olhou para a esquerda e para direita. Era um imenso corredor, piso de terra, mato não muito alto cercado uma trilha e as paredes altas dando-lhe mais importância. Para a esquerda aquele caminho terminava logo num matagal. Para a direita, lá na frente, havia uma curva. Ele fechou a porta, voltou, colocou a chave no lugar. Resolveu que um dia iria se aventurar para o lado direito. Foi o que fez pouco antes de terminar aquele mês longe de casa e dos pais. Teve outra oportunidade. Desceu o degrau que havia ali e foi caminhando devagar, vendo portas e mais portas identificando o fundo de cada casa. Tentou imaginar quem morava do outro lado. Andou muito, para seu tamanho e curiosidade. Até que vislumbrou o fim do grande corredor. Foi até lá. Era uma rua. Mas ele ficou com medo de tentar voltar para casa por ali. Virou. Voltou. Aí começou a sentir os cheiros. Daquele mato e do que emanava de algumas casas. Parou na porta do quintal da casa dos avós. Olhou mais uma vez o matagal onde desencava aquele corredor. Teve medo. Abriu a porta de metal cinza. Fechou por dentro. Colocou a chave no lugar. Foi para debaixo da mangueira que fazia sombra sob o sol inclemente do Rio de Janeiro. Descansou. Nunca mais esqueceu o primeiro beco da sua vida.

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