17:36HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

A bola cortou o céu azul anil, explodiu contra a parede amarela da casa e foi cair no pé da roseira florida. O menino tinha acompanhado a trajetória sem querer. Olhava uma sabiá pousada no fio de luz da rua quando o objeto voador entrou na retina. Foi lá, pegou o objeto marrom cheio de gomos e guardou. Antes ele ouvia todo domingo à tarde o som que vinha do estádio vizinho, mas não imaginava o que era aquilo. Ali naquela casa ninguém lhe falava a respeito. Os pais abriam a boca apenas para orações e para comer. Tudo era conversado em olhares. O menino guardou a bola debaixo da cama, sem ninguém ver. Olhava-a de vez em quando. Ela foi murchando, mas um colega de escola, a quem revelou o segredo, disse que podia levar uma bomba e encher o segredo. Um dia lhe falaram que sebo ajudava a conservar. Ele conservou, cresceu, soube que era vizinho de um estádio de time profissional, entrou lá um dia, passou a assistir treinos, jogos, se apaixonou por aquele time e o carregou no coração para sempre. Um dia, por acaso, lhe apresentaram um vizinho. Estava bem velhinho, quase não andava. Disseram-lhe que tinha sido um grande astro do time daquele estádio. Do seu time. Passaram a conversar muito. Certa vez o velhinho, goleiro, contou-lhe a história do dia em que um companheiro deu um chute tão forte que a bola sumiu no céu azul anil e que muita gente acreditava que aquilo era um sinal positivo dos deuses dos estádios. Naquela noite ele tirou a bola debaixo da cama. Dormiu com ela abraçado, como se fosse o próprio milagre do futebol.

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