17:20Horóscopo

por Zé da Silva

Sagitário

Foi logo depois que a música dos Beatles tomou conta do Brasil. Ele e seu grupo de amigos do terceiro ano curso primário produziram cabeleiras com panos pretos recortados. Ao som da vitrolinha, dublavam os rapazes de Liverpool no quartinho de fundos. Conheciam tanto o inglês quanto o latim das missas. Para chegar à igreja era só sair pelo portão do colégio de freiras e atravessar a avenida. Ali tinham feito a primeira comunhão e um deles jamais esqueceu que, depois da cerimônia, foram levados para a parte “proibida” do colégio, onde moravam as freiras. Tomaram o café da manhã lá, num refeitório espartano onde o olhar era dirigido apenas à xícara com o café com leite e ao pão com manteiga. Com uma faca, era possível recortar blocos de ar. Um dia, depois de o sino ser tocado pela madre superiora, todos saíram do colégio. Menos ele. Foi ao banheiro no fundo do enorme terreno. Ficou escondido. Saiu quando não ouviu mais nada, era fim de tarde. Escalou um portão localizado ao lado da quadra poliesportiva, encontou uma porta aberta. O coração aos pulos, percorreu um longo corredor. Se fosse encontrado, seria expulso. Mas ele precisa ir. Uma porta se abriu os olhos brilharam. A cozinha. Um bule enorme de alumínio refletia tudo em volta. Abriu. Sim, era aquilo que procurava. Colocou num copo uma grande dose. A cor era a mesma daquela manhã. Tomou de um gole só o café com muito leite. A sensação era indescritível. Olhou para o alto e viu uma imagem na parede. Agradeceu com um sinal da cruz. Teve a certeza de que estava protegido para sempre.

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