15:38Cielo do Brasil

O texto abaixo foi escrito no dia 16 de agosto de 2008, quando César Cielo Filho ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim. Hoje ele conquistou a segunda medalha de ouro no Mundial de Natação de Roma, agora nos 50m livres, feito inédito para um nadador brasileiro. Antes, venceu os 100m e bateu o recorde mundial na prova nobre do esporte. Continua valendo a modesta homenagem.

O menino de Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo, chora e faz chorar quem ficou acordado para vê-lo cair na piscina do Cubo D’Água em Pequim. No alto do pódio, medalha de ouro no peito, bandeira sendo hasteado, hino brasileiro sendo tocado, quem há de resistir? Não é o sentimento xenófobo, não é a gororoba do falatório do Galvão, não é o resultado do massacre televisivo que cria expectativa. É o sentimento de quem é ser humano. De quem conhece um pouquinho deste país massacrado desde de que foi invadido, deflagrando a mistura de raças que resultou na imensa ninguenzada ordeira e a casta de senhores sempre ávidos do suor e sangue alheios. O menino chora porque também é um privilegiado. Nasceu com talento e DNA de campeão, mas teve de ralar no anonimato, teve de confiar na própria força, teve de ficar três anos em outro país, na matriz, na mãe de Michael Phelps, que ontem ganhou a sétima medalha de ouro. O menino de Santa Bárbara do Oeste já tinha um bronze, mas foi atrás do ouro inédito na história da natação brasileira. E nadou os cinqüenta metros com aquela força que existe em quem resiste e se supera. Nadou com a força da nossa música. Com a força dos índios, dos escravos, de todos os mestiços, de todas as raças que para cá vieram, dos que acreditam, dos que sorriem, dos que têm alma, dos que têm coração. E ele agradeceu aos pais que estavam ali. E disse que agora vai descansar. Merece. Cumpriu a missão que se impôs. E fez uma nação se orgulhar e continuar acreditando. Amém, César Cielo Filho.

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