8:05Requião na Vila Fuck

Só há uma pessoa que sabe falar inglês na Vila Fuck. É o Nego Tibúrcio, um marinheiro aposentado que singrou os mares do mundo durante 40 anos e aprendeu a língua de Shakespeare no muque, como ele fala, mostrando e batendo em um dos bíceps ainda em ordem. Ele é uma espécie de “orientador” para a escolha de nomes dos bebês que ali nascem na mesma proporção em que aparecem goteiras nos barracos quando chove. Quando chegam com um Uélinton na boca, ele já sabe a resposta: “Bota Pedro, é mais forte”. E dá-lhe Jõao no lugar de Jonatan, José no lugar de Uóshinton, Rodrigo em vez de Uéquislei, Maria no lugar de Jenifer, Antonia para que esqueçam Samanta. Pois ontem o Tibúrcio ficou triste com a lei que pede tradução às palavras estrangeiras nas propagandas. Porque ele vende camisas com palavras em inglês e também porque organiza excursões de fim de semana aos shoppings de Curitiba, onde leva a moçada para comer sanduíche no McDonald’s e no Big Burger, já que o produto ainda não chegou nas quebradas da vila. E precisa ver a alegria da rapaziada, principalmente os mais jovens, que tomam banho e vestem as camisetas mais novas, aquelas, onde aparecem nomes de cidades americanas, de times de basquete e outras coisas que ninguém sabe o que significam, só que é bonito – tudo combinando com o jeans da hora. Tibúrcio não sabe o que deu na cabeça do governador. Concorda que nem ele, Requião, sabe, mas tem uma sugestão a fazer para que, talvez, o chefe do Executivo mude de idéia: uma temporada na Fuck onde só vai comer pão com banha. “Que não precisa tradução”, sacramentou o tradutor juramentado.

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