17:25Malabares proibidos

Atenção moçada dos malabares das esquinas desta Curitiba! Em Florianópolis a atividade está proibida. Confiram a notícia publicada no UOL e, para não dar sopa, é melhor dormir do touca:

A Prefeitura de Florianópolis proibiu os artistas de rua de trabalharem nos semáforos, sob o argumento de que eles “perturbam a ordem pública” e causam “transtorno” aos motoristas da cidade. A proibição foi estabelecida por meio de uma portaria, assinada em 30 de junho pelo secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, José Carlos Ferreira Rauen, após orientação do prefeito Dário Berger (PMDB).

Por tempo indeterminado, aquele que for pego pelos fiscais da prefeitura nas “sinaleiras” – como os semáforos são chamados na cidade – fazendo malabares ou outras manifestações artísticas, terá o material de trabalho recolhido pela prefeitura e, para recuperá-lo, terá que desembolsar um salário mínimo (R$ 465). Na reincidência, o artista “ilegal” será obrigado a assinar um termo circunstanciado e, se for pego pela terceira vez, será preso.

“Sinaleira não é lugar de entretenimento, e sim de atenção”, afirma Rauen. “Sou contra uma atividade que perturba a cidade. É um serviço amador que não cabe no novo tipo de sociedade que temos hoje”, acrescenta.

De acordo com o secretário, há cerca de 50 malabaristas em Florianópolis, a maioria trabalhando nas ruas do centro ou dos bairros de Trindade e Agronômica, onde ficam a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e a Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). “Chegaram na prefeitura denúncias de que esses artistas estavam extorquindo e incomodando as pessoas”, diz Rauen para justificar a medida.

Para o diretor de teatro Amir Haddad, idealizador e coordenador do grupo carioca Tá na Rua, a proibição é uma afronta à liberdade do indivíduo. “A medida me assusta e me deixa com medo. A rua é um dos únicos caminhos livres em que o ser humano pode se manifestar”, afirma.

Entusiasta da arte da rua e dos espaços não-convencionais, Haddad defende que o poder público apoie esse tipo de manifestação cultural. “Eles (a prefeitura de Florianópolis) deveriam estimular essa atividade e pensar em formas de ajudar o artista a evoluir, a descobrir sua aptidão. O que se aprende na rua não poderia ter sido apreendido em outro lugar”, diz.

O diretor teatral afirma ainda que a medida vai contra uma tendência no Brasil de “tornar a arte cada vez mais pública”. “O cidadão tem que ter a liberdade de se expressar em espaço público. Essa medida impede isso.”

Medida xenófoba?
Segundo o secretário, com uma única exceção, todos os artistas que atuam nos semáforos são estrangeiros, a maioria deles de países do Mercosul. Ele afirma que um dos objetivos da medida é impedir que imigrantes estrangeiros permaneçam no país “trabalhando de forma ilegal”. “Com a portaria, quem sabe eles não voltam para seus países?”, diz.

Já Haddad vê na medida um componente “xenófobo”. “Qualquer que seja a nacionalidade, não tem porque não deixar a pessoa se expressar e conseguir seu sustento da maneira que achar melhor. Isso não é um crime”, afirma.

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9 ideias sobre “Malabares proibidos

  1. jeremias bueno

    Até que enfim.

    Sob o manto da “manifestação artística” (artística?) o que vemos constantemente é motoristas (principalmente senhoras) sendo ameaçados e achacados em centenas de esquinas por todo tipo de malandro. Em alguns casos, não dar um “dinheirinho” equivale a levar uma cusparada ou ouvir um palavrão, para dizer o mínimo.

    Não é por acaso que os “vidros elétricos” e as películas são sucesso de venda.

    Parabéns, Florianópolis!

  2. Conde Edmundo Dantas

    Parabéns à Administração de Floripa. Não vejo arte alguma neste tipo de “artista de rua”, ao contrário, enxergo um pedinte se utilizando de subterfúgios. Enquanto os catarinenses tomam este tipo de atitude elogiável , aqui se “regulariza” a extorsão praticada pelos flanelinhas. É brincadeira!!!!

  3. FABIO AGUAYO

    Em camboriu também é proibido, sugeri isso aqui em Curitiba, na prefeitura e na camara e não levaram a serio, isso foi há 4 anos atras. deveriam tentar de novo, mas incluir no pacote os pedintes nas ruas que triplicou nos ultimos anos

  4. Fabio

    O trânsito fica terrível com estes sujeitos jogando os malabares e, após, pedindo contribuições.

    Não se trata, absolutamente, de limitar ou restringir a liberdade de manifestação artística, mas sim de discipliná-la, impondo-se limites em prol do interesse coletivo.

    Quer jogar malabares? Vá na praça, mas não no meio da rua.

  5. maria souza

    Malandro por malandro tem em qualquer lugar. Inclusive na administrção pública.Absurdos os comentários. Tem que ser essa elite curitiboca mesmo. A malandragem feitas nos palácios públicos, nos escritórios de luxo, nas mansões ninguém comenta. Por que não falam sobre os desmandos com o dinheiro público? Só se interessam mesmo é pela propriedade privada. Idiotas travestidos de bonzinhos, religiosos, tementes a Deus, só que quando se deparam com alguém ganhando a vida honestamente nas ruas de Curitiba fazem essas críticas absurdas. Em SC foi proibido então em Curitiba não pode ser diferente. Se dane a eleite catarinense, espero que aqui o povo seja inteligente para tolerar e conviver com artistas nas ruas e nos sinais de transito, afinal nunca se vê nada além de manifestação cultural.

  6. Edenilson de Almeida

    Excelente a atitude tomada em Florianópolis.
    Dias atrás, na esquina da Barão de Cerro Azul com a Carlos Cavalcanti, um desses “artistas” fazia malabares com fogo. Um malabar caiu e por um triz não parou debaixo de um carro.
    Seria bem artístico uma explosão ali, em horário de pico, com dezenas de carros passando a cada minuto.
    A nossa vovó já dizia, com muita sabedoria: a liberdade de um termina quando começa a do outro.

  7. almeida

    Taí uma coisa, tirar os palhaços das ruas. Mas não apenas áqueles que têm no malabares seu ganha-pão e sim, os que estão dentro de suas SUV insulfilmadas, seus carrões pretos com rodinha da última moda, suas atitudes porcas de jogar todo lixo que não desejam dentro de suas maravilhosas máquinas, todos os palhaços que não esperam os pedestres concluirema travessia roncando seus motores enfurecidos pra cima deles, todos os bundas-gordas que não conseguem ir na padaria comprar pão sem que seja de carro.

    Acordem seus trolhas, as ruas pertencem a todos, não apenas àqueles que têm carros.

    Se uma atitude como essa tivesse qualquer outro argumento que não fosse esta mofada idéia que tudo atrapalha o trânsito poderia ter alguma valia, mas já parte dessa premissa que só pode surgir de dentro de cabecinhas limitadas e egoístas.

  8. Murilo Silva

    Mambembes do asfalto

    Vejo o acender da luz sobre o palco, adornado de faixas brancas e pretas. Nas poltronas, uma platéia impaciente, vestida em armaduras de lata, com os pés emborrachados. O artista, um olho no equilíbrio outro no olhar da audiência, exibe sua graça repetitiva. Escravo do tempo da sinaleira, o malabarista nem sempre consegue a bilheteria desejada.
    Pois bem, a Prefeitura de Florianópolis quer acabar com o espetáculo, perseguindo os perigosos mambembes, ameaçadores da paz e da ordem. “A maioria deles são de fora”, dizem os administradores do Paço Municipal, que tanto vendem a imagem da linda Floripa, lá fora.
    Não faz muito tempo, placas encravadas no barro dos canteiros, cinicamente exibiam o alerta da prefeitura “Quem dá esmolas não dá futuro.” Chega de hipocrisia. Tirem, isto sim, as crianças das sinaleiras e os esmolentos profissionais. Usem os serviços de assistência social e dêem alternativa de trabalho e renda. A permanência dos mesmos completa o escárnio da miséria. E aquelas placas, agora em menor número, me fazem lembrar a tradicional e enjaulada recomendação zoológica para que não dêem comida aos animais.
    Assistindo os malabares, pago satisfeito. Às vezes não pago, somente sorrio. Outras vezes, nem sorrio, apenas paro e passo. E os gnomos, inofensivos artistas da polis, continuam ali, apenas trabalhando.
    A insensatez da prefeitura me faz lembrar do conto “Um Artista da Fome”, de Franz Kafka, onde o protagonista, o jejuador, era um artista que ficava dias sem comer, dentro de uma jaula forrada de palha. O espetáculo era jejuar diante dos olhos curiosos do povo. Kafka expõe, a indiferença diante do sofrimento da dor. E o espetáculo cessa com a morte do artista: “ Pois bem, limpem isto aqui! – ordenou o fiscal. Enterraram o artista da fome, com palha e tudo. Em seu lugar, puseram uma jovem pantera. Até mesmo as pessoas mais insensíveis acharam agradável ver o animal selvagem pulando na jaula que durante muito tempo tão lúgubre parecera.”
    Nesta ilha paradsíaca, o palco será para uma jovem pantera panfleteira, a serviço – quem sabe – de alguma imobiliária.
    Prefeito, o dinheiro é meu. E por favor, respeite o direito de livre expressão dos artistas de rua, garantido no ordenamento jurídico brasileiro.

    Murilo Silva, filósofo, animador cultural, chefe de gabinete do Deputado Padre Pedro Baldissera. (PT / SC)

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