8:20As veias abertas do Jorjão

collor-e-lula

Fernando Collor de Mello e Luis Inácio Lula da Silva

 

por Jorge Eduardo – publicado no seu (dele) “Blague do Blog” (www.blaguedoblog.com.br):

Meus caros amigos:
A maioria de vocês era muito jovem em 1989 (Gustavo, meu filho, tinha dez anos; imaginem minha idade) quando o País viveu sua primeira eleição direta para presidente da República (não custa lembrar que a palavra vem de respublica, do latim, coisa pública, do povo).
Aos fatos.
Era eleitor e, por sorte do destino, acompanhei o candidato Lula no segundo turno daquela eleição. Conheci boa parte do Brasil graças à besteira do jornal onde trabalhava, que me achou indicado como um sujeito capaz de equilibrar a cobertura, esta sempre pró-Collor. Não acho que tenha feito um belo trabalho, pois não tinha fontes fora daqui, era secado, não tinha esperteza et coetera. Mas fiz um trabalho decente.
Como eleitor, no primeiro turno votei, e não me arrependo, no candidato do Partido Comunista, o sr. Roberto Freire, hoje um hoje notório malandro que jogou sua biografia ao lixo e coisa e tal. Votei no partido. Veio de Freire o PPS, mas ficou o velho Partidão, que continuo respeitando.
No segundo turno, votei com orgulho no candidato que viera do povo, o metalúrgico Lula. Perdeu para Fernando Collor de Mello, como se sabe, por artimanhas da política e resistência da sociedade, a imprensa inclusive.
Votei em Lula de novo na eleição seguinte, já no primeiro turno, mesmo simpatizando com o professor Fernando Henrique, e votei de novo em Lula e de novo até ele se eleger como representante do povo, e, depois, se reeleger.
Não, não me arrependo do voto que dei na época. Até agora Lula foi melhor, muito melhor que FHC.
Mas as artes da política – e a política é antes de tudo uma arte, assim definida pelo craque Nicolau Maquiavel – mudaram nosso companheiro.
Ao longo de dois mandatos, a pretexto de governar, com e para o povo, o companheiro Lula se afastou do povo, produziu (ele mesmo, sim) acordos espúrios, chutou a Constituição com suas medidas provisórias, acertou-se com o que há de pior no Congresso, nomeou o que há de mais nojento para alguns ministérios (Temporão, da Saúde, e Haddad, da Educação, não o absolvem), enfim, repetiu práticas de república bananeira.
Cansei-me, caros amigos.
A palha nas costas do camelo que sou, a gota d´água, o que restava de paciência foi se esgotando (como fadiga do material compreensão política) com vários episódios, até culminar com o caso Sarney, um notório bandido (vejam no You Tube: Maranhão 66, só pra começar).
Por fim, derrubado fiquei com a ida do companheiro às Alagoas, onde ele, patife político, abraçou-se, enlevou-se com Renan e – ele mesmo – Fernando Collor, o maior pulha da história da República brasileira. E olhem que conheço um pouco de história. Só não fiquei com saudade dos milicos porque deles não se deve ter saudade, apenas distância histórica. E que se mantenha distância deles.
Anfã, como diziam os árabes. Na alvorada da terceira idade, eu, velho sonhador, estou muito triste.
Um governante num sistema presidencialista precisa do Congresso para governar, mesmo obrigado a fazer certos e incertos acordos, concordo. Mas não pode se afastar do povo, pelo qual e para o qual existe.
Em nome do povo, nós, o companheiro Lula cuspiu em sua e na nossa biografia, chutou nossa inteligência, sentou-se em nossa paciência.
Não merecemos isso, “esse País” não merece.
Isso não é um choro arrependido nem declaração de voto no tucano Serra, que talvez agisse igualmente.
É só para dizer que o companheiro aceitou de vez o abraço do afogado com Sarney, Renan, Collor, PMDB e todos os seus picaretas.
É para dizer que Lula me deixa envergonhado.
O camarada Lênin o teria passado nas baionetas.
Não foi para isso que nossos irmãozinhos morreram nas ruas e nas matas, não foi para isso que nossos tios foram cassados e caçados, não foi para isso que muitos de nós demos muitos anos de nossa juventude, não é por isso que continuamos construindo nossa democracia.
É chato citar a Revolução dos Bichos, de Orwell (publicado aqui pelo milicos – traduzido pelo chefe de gabinete do Golbery, o capitão Heitor de Aquino Ferreira -, mas que depois voltou-se contra eles), mas hoje não sei mais quem é porco e quem é gente.
Prefiro lembrar o capitão Lamarca, de quem muita gente não gosta: Ousar lutar, ousar vencer.
Vamos que vamos.
Sonhar sempre vale a pena.
Grande abraço,
do amigo Jorjão, em homenagem a quem nos abraçou um dia e sempre, gente da estirpe do Graciliano Ramos, do Luiz Carlos Prestes, do marechal Floriano Peixoto, do Getúlio, do Dutra do “livrinho”, do Juscelino, do Jango, do Gregório Bezerra, do Marighela, dos amigos do Araguaia, da Marina Silva, da Heloísa Helena, do Chico Mendes, do dr.Miguel “Arraia”, do Francisco Julião, dos professores Sérgio Buarque, Chico de Oliveira, Florestan Fernandes, do dr. Walter Pecoits, dos doutores Vieira Neto, René Dotti, Raymundo Faoro, Lamartine Correia de Oliveira, José Carlos Dias, Heleno Fragoso, do dr. Ulisses Guimarães, dos democratas em geral e dos sonhadores em particular.
Suerte.

Compartilhe

6 ideias sobre “As veias abertas do Jorjão

  1. Dá-lhe

    Meu, o cara tá mesmo desiludido. Na verdade todos começamos a ficar quando presenciamos isso que aí está. Que porcaria, hein? No relato a desilusão começa, salvo melhor júizo, com o comunista fajuto Roberto Freire. Segundo o autor “Como eleitor, no primeiro turno votei, e não me arrependo, no candidato do Partido Comunista, o sr. Roberto Freire, hoje um hoje notório malandro que jogou sua biografia ao lixo e coisa e tal.”, Alguém duvida?

  2. PSDB, Serra ja era!

    Na imprensa brasileira mandam as dinastias estamentais. Os pais proprietários entregam a direção dos jornais, das revistas, das rádios e das televisões – das suas empresas – aos seus filhos, que repassam para os netos, perseverando todos no direito que se auto-atribuíram de decidir quem é e quem não é democrático, quem fala e quem não fala em nome da nação!

    Assim tem sido ao longo de toda a história da imprensa no Brasil. No momento mais decisivo da história do século XX, em 1964, essas dinastias pregaram e apoiaram o golpe militar,lucrando muito com isso.Assim como apoiaram a instalação de uma longa ditadura, que mudou decisivamente os rumos do nosso país.

    Enquanto os militares intervinham nos poderes Judiciário e Legislativo, enquanto suspendiam todas as garantias constitucionais, enquanto fechavam todos órgãos de imprensa que discordaram do golpe e da ditadura, enquanto a maior repressão da nossa história recente se abatia sobre milhares de brasileiros presos, torturados, exilados e mortos, enquanto isso, as dinastias da imprensa mercantil se calaram sobre a repressão e apoiaram o regime militar, ganhando em troca talvez bilhões de reais em propaganda oficial durante mais de 20 anos, sem qualquer tipo de licitação!

    Eram estes mesmos Mesquitas, Frias, Marinhos, Civitas, estes mesmos que transmitem por herança – como se fosse um bem privado – seu poder dinástico, transferindo-o para os seus filhos e netos. Os júlios, os otávios, os robertos, os victor, vão se sucedendo uns aos outros, a dinastia vai se perpetuando. Que se danem a democracia e o país, mas que se salvem as dinastias!

    Mas, hoje, elas estão vendo seu poder se esvaindo pelos dedos. Conta-se que um desses herdeiros, rodando em torno da mesa da reunião do conselho editorial, herdada do pai, esbravejava irado: “onde foi que nós erramos? onde erramos?”. Estava desesperado porque a operação “mensalão” não conseguiu derrubar Lula elegendo o tucano, da sua preferência.

    Se ele tivesse olhado os gráficos escondidos na sua sala, teria visto que, nos últimos dez anos, as tiragens dos jornais despencaram. A Folha de São Paulo, por exemplo, que é um dos de maior tiragem, perdeu em 10 anos, de 1997 a 2007, quase cinqüenta por cento dos seus leitores! Depois de quase ter atingido 600 mil leitores, vai fechar o ano de 2008 com menos de 300 mil! Uma queda ainda mais grave se considerarmos que, nesse período, houve crescimento demográfico, aumento do poder aquisitivo, maior interesse pela informação e elevação do índice de escolaridade dos brasileiros.

    Os leitores deste jornal de direita estão entre os mais ricos da população. Noventa por cento dos seus menos de 300 mil exemplares são destinados aos leitores das classes A e B, as mesmas que não atingem dezoito por cento da população brasileira. Em outros termos, nove entre cada dez leitores do jornal pertencem aos setores de maior poder aquisitivo e suas condições de vida estão a léguas de distância das do nosso povo – esse povo que gosta do programa bolsa família, dos territórios de cidadania, da eletrificação rural, dos mini-créditos, do aumento real do salário mínimo, da elevação do emprego formal, etc.

    A última e mais recente pesquisa sobre o apoio ao governo Lula, que a imprensa dinástica procurou esconder, realizada pela Sensus, revela que Lula é rejeitado por apenas treze por cento dos brasileiros! É essa ínfima minoria, cinco vezes menor do que aquela dos que apóiam o governo Lula, que povoa os editoriais dessa imprensa, suas colunas, seus painéis de cartas dos leitores! Esse é o índice da influência real que a mídia mercantil – juntando televisão, rádio, jornais, revistas, internets, blogs – tem! Apesar de todos os instrumentos monopólicos de que dispõem, apesar das campanhas diárias para dominar a opinião pública, não conseguem nada além desse pífio resultado dos treze por cento que representam!

    As dinastias podem continuar a ter filhos, netos e bisnetos, mas é possível que já não dirijam jornais. Esta pode ser a última geração de jornalistas dinásticos que, talvez exatamente por isso, revelam diariamente o desespero da sua impotência, assumindo o mesmo papel que ocuparam nos anos prévios a 1964. É o mesmo desespero da direita diante da popularidade de um Getúlio e do governo Jango. Nos dois casos, só lhes restou apelar à intervenção das Forças Armadas e dos EUA, estes mesmos EUA que nunca fizeram autocrítica, nem desta nem de qualquer outra das suas intervenções contrárias à democracia da qual pretendem ser os arautos! Depois de terem pedido e apoiado o golpe militar, porque ainda acreditam que podem dizer quem é democrático e quem não é?

    Por Emir Sader

  3. PSDB, Serra ja era!

    Lula abraçou Collor.E daí? O que isso tem de mais? Demais é ter com o apagão de 2001 ter roubado 45,2 bilhões dos consumidores e contribuintes.Demais é terem quebrado o Brasil duas vezes, Jorjão.Demais é terem diminuido em oito anos a particiapção do Brasil no comercio mundial de 1,7% para só 0,8%…Essa sua babaquice de viuva udenista, de lacerdista, não cola mais. Voces só conseguem sensibilizar com isso menos de 13% da população…
    Vai ficar chorando o quê? Seu Serrinha e seu FHCzinho já eram.Na informação e na opinião existe hoje no Brasil verdadeira guerra entre sistemas políticos. Uma corrida das imposições de opiniões envolvendo Socialistas e Capitalistas, estes últimos resistentes de um mundo desigual, injusto e para poucos, governado por interesses pessoais em simbiose com autênticos mercenários midiáticos que querem impor seu modelo econômico, cultural…e condenar milhares de pessoas a servir-lhes, do outro lado temos os que decidem estar interressados nas causas e assuntos políticos, sociais, humanitários, aos movimentos sociais, intelectuais, são combatentes que todos os dias dedicam-se a defender outro modelo de mundo possível. Para a resistência não existe atividade mais inconveniente e subversiva do que pensar e escrever. Infelizmente ainda hoje, quem pensa diferente pode ser tratado como subversivo, perseguido político, intimidado, incriminado… Lula faz muito bem em abraçar o maiornumero de pessoas e políticos que ele possa, ou voce não abraçaria o Jaime Lerner dospés à cabeça se pudesse? Ou voces não abraçariam o Beto Richa, aquele da compra de apoio, da compra de partidos inteiros, se ele lhes pudesse dar um carguinho qualquer? Lula não é a polícia federal. A policia é quem deve investigar e pedir punição.E a Justiça é que cabe punir.Mas lá está o seu Gilmar Mendes, que solta bandidos ocmo Cacciola, Daniel Dantas e Turcão do Jogo do Bicho e quem quer que tenha 1,5 milhões de reais para arrumar de “serviços”e “contratos”para o Instituto de Direito Constitucional dele…

    Melhor abraças Collor na frente de todo mundo do que pegar dinheiro do Daniel Dantas, na calada da noite, para protegê-lo.

    Velho truque esse de dizer que comunistas bons eram aqueles que já morreram…

    Melhor sorte da proxima vez, Jorjão.
    Você até que não escreve mal. Peça para aumentarem o seu cachê.

  4. josé

    Parabéns Jorjão, depois de 20 nos vc percebeu o óbvio: Lula é apenas mais um político, e como todos os demais com defeitos e qualidades. Pra comemorar, relembre:

    “A imensa maioria é governada por minoria privilegiada. Essa minoria, dizem os marxistas, será composta por operários. Certamente os antigos operários. Assim que se transformarem em governantes, deixarão de ser operários. Não representarão mais o povo, mas a si mesmos e às pretensões de governá-lo”.
    Bakunin

    Agora, prepare-se para ser execrado, pois aos olhos dos torcedores do Lula ninguém, absolutamente ninguém pode dizer nada contra ele, como por exemplo que mudou a lei para beneficiar um amigo no caso da Oi…amigo este, empresário, que lhe “emprestou” uma casa para morar por muitos e muitos anos, que pagou os estudos de seus filhos e a estadia de sua filha em Paris…e colocam a cupla no Dantas…

    Assim como dizer que o melhor que ele fez foi manter a política econômica de FHC, sim, nesta hora os petistas esquecem quem é Henrique Meirelles (lembro: senador eleito pelo PSDB de Goiás), esquecem que para o Ministério da Agricultura ele escolheu um ruralista de primeira linha (Roberto Rodrigues), para a Indústria e Comércio um Empresário que muitos deles ainda classificam como de “direita” (Furlan) e claro, o tão festejado Bolsa Família é apenas um programa assistencialista criado por FHC, que foi rebatizado e ampliado pelo governo atual.

    É engraçado ver os “cumpanhero” tendo que justificar collor, sarney, quércia, renan, lobão e toda a infinidade de escândalos, o pavor das CPI’s das ONGs e da Petrobrás, cadê a ética? Porque o medo? Quem tinha medo era Regina Duarte, lembram?

    Ah, mais um detalhe: aprovação não significa votação…

    E para que escrever tudo isso? Só para provar aos trouxas que Lula é só mais do mesmo, como tem sido desde que Cabral chegou a estas paragens.

    Não acredito em políticos, eles são como os ET’s: todos mentirosos…eheheh

    Jorjão, seja bem vindo ao mundo real, aquele que paga as contas das cacas que nosso políticos fazem e continuarão fozendo por um motico simples: a quantidade de incautos é muuito grande… e como diz Zé Beto: Saúde!!!!!!!

  5. Ana

    E quem disse que mesmo abraçando Collor ele não pegou o dinheiro de Dantas. Tá iludido meu filho?
    Jorjão, como bom comunista que demonstra ser, ainda nega que Lula só foi bom por manter e ampliar a política econômica de FHC.
    Os piores cegos…

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.