9:12A primeira entrevista

A repórter Kátia Brembatti, da sucursal do jornal Gazeta do Povo em Ponta Grossa, entrevistou o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho. É a primeira vez que ele fala à imprensa depois do acidente que provou e onde morreram  Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20. Confiram:

“Preciso entender qual é a minha missão”

Na primera entrevista após o acidente, Carli Filho diz que necessita de tempo para se encontrar, que sofre com traumas e que ainda não sabe se vai voltar à política

 
O ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho falou com a imprensa pela primeira vez desde que se envolveu em um acidente que causou a morte de dois jovens, há exatos dois meses. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ele contou que tem usado o tempo de recuperação dos traumas do acidente para refletir sobre qual deve ser a sua missão no mundo e por quais motivos Deus permitiu que continuasse vivo. “Foi uma bênção. Não foi à toa que fiquei aqui”, disse Carli Filho.
Depois de 60 dias do acidente, ele tenta estabelecer uma rotina tranquila, na casa dos pais, em Guarapuava, na região central do Paraná. Durante dois dias – na quinta-feira da semana passada e ontem –, uma equipe da Gazeta do Povo observou a rotina do ex-deputado.
O acidente aconteceu na madrugada do dia 7 de maio. O ex-deputado dirigia embriagado, segundo laudo do IML e com a habilitação suspensa desde julho do ano passado, porque acumulava 130 pontos na carteira. Pressionado devido à repercussão do caso, Carli foi o primeiro parlamentar da história da Assembleia Legislativa a renunciar ao mandato, no dia 29 de maio.
Carli Filho, que está com a carteira de motorista cassada, e na cidade não tem sido visto dirigindo. Nas poucas vezes que sai de casa, está sempre como passageiro no carro. Basicamente, vai à igreja e a um santuário. Também tem frequentado uma academia, além de caminhar em parques. “Não é verdade que estou correndo no parque. Quem dera eu pudesse correr. Tenho apenas feito os exercícios que o médico mandou para me restabelecer. E na academia não estou malhando, não”, afirmou.
A reportagem o encontrou, na tarde de ontem, no Santuário de Schoenstatt – espaço religioso idêntico ao original da cidade alemã de mesmo nome e que se destina a um movimento de renovação religiosa e moral no mundo. É um local para a busca de abrigo e transformação espirituais.
Ele se surpreendeu com a aproximação da reportagem, mas não esboçou nenhuma tentativa de se esquivar da conversa. No início, parecia temeroso. Aos poucos, foi falando sobre o momento que está vivendo. Estava acompanhado pelo amigo e assessor de imprensa Paulo Esteche – além de, aparentemente, por um guarda-costas.
Muitas perguntas não puderam ser feitas ou ficaram sem resposta. Questões ligadas ao andamento do processo de investigação sobre o acidente ou que remetiam ao impacto do que aconteceu levavam à intervenção de Esteche, que dizia se tratar de assunto a ser respondido pela assessoria jurídica. Outras perguntas não foram respondidas sob a alegação de que o ex-deputado, por recomendação médica, não deveria se expor a fortes emoções.
No momento em que foram abordados, Esteche tirava fotos de Carli no santuário. Segundo eles, é um registro para as memórias do ex-deputado. Sobre a possibilidade de escrever um livro sobre o momento que está vivendo – que foi citada em uma entrevista do pai e prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli, há duas semanas –, ele disse que é uma ideia que está avaliando, mas que ainda não há nada definido. Reforçou que sua vida não se resume ao acidente, que fez “muita coisa” como deputado e que tudo isso precisa também ficar registrado.
Assumiu que assistiu a todas as reportagens feitas pela imprensa sobre o caso. Mas não quis comentá-las. Chamado de deputado, apressou-se para corrigir: “ex-deputado”. Durante a entrevista, Carli Filho se emocionou em alguns momentos, principalmente quando falou da família dos rapazes mortos, Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida. Veja a seguir os principais assuntos da entrevista.
Recuperação
Carli Filho está falando pausadamente e também anda devagar. As cicatrizes são bem aparentes. Vão da orelha esquerda até a têmpora direita. Há outra na testa e uma entre os olhos, além da marca da traqueostomia no pescoço. Disse que está se recuperando bem, mas lentamente. Não ficou com sequelas, mas precisa de acompanhamento físico e neurológico. “Tive trombose por causa de problemas na (veia) jugular e estou em tratamento por causa disso”. Ele contou ainda que ficou com traumas neurológicos. “São concussões – pequenas fissuras no cérebro por causa do impacto. Ainda não dá para saber como ficou, mas não estou normal.”
Rotina
“Eu tenho rezado, tenho lido. Estou deprimido, tenho chorado”, afirmou Carli. Contou que está lendo três livros ao mesmo tempo: Quando o Sofrimento Bater à sua Porta, do padre Fábio de Mello; A Cabana, de William P. Young; e A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe. Além das leituras, tem feito exercícios.
Receptividade
Questionado sobre como tem sido a reação das pessoas, ele diz que não tem muito contato com a população da cidade. Mas pondera: “Quem me encontra me trata bem. Me oferecem um ombro amigo. Foi assim em 100% dos casos. Foi um apoio além do esperado.”
Rádio
“Não é verdade, como disseram, que estou pensando em voltar a trabalhar na rádio”, afirmou. Ele comandava um programa, que levava o seu nome e que estreou apenas um mês antes do acidente. Era um programa de música, variedades e entretenimento, que ele não sabe se vai retomar. “É muito cedo para falar qualquer coisa.”
Expectativa de justiça
“Espero justiça e que as pessoas não me julguem e me condenem antecipadamente”, disse. Quando questionado sobre o que poderia significar justiça nesse caso, disse apenas que quer que tudo se esclareça.
Carreira política
“Eu tinha um roteiro puxado. De segunda a quinta em Curitiba e nos finais de semana rodando pela região. Eu amava o que eu fazia, mas não sei por que, de repente, mudou tudo. Materialmente eu ainda não tenho nada claro. Preciso primeiro me encontrar espiritualmente.”
Momento espiritual
Carli disse que já ia diversas vezes à igreja e ao santuário antes do acidente. Mas reconheceu que agora tem ido muito mais, porque está buscando respostas espirituais. “Preciso entender o que aconteceu e qual é a minha missão no mundo. Foi uma bênção. Não foi à toa que fiquei aqui (vivo).”
Famílias Yared e Almeida
Garantiu que quer falar com a família dos jovens mortos. “Mas não sei quando e como. Não sei a reação e se querem falar comigo.”
Futuro
Perguntado sobre os planos para o futuro, ele responde apenas: “Agora eu só penso no presente”.

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7 ideias sobre “A primeira entrevista

  1. Fausto Thomaz

    Voltar à política ??? Vá se ferrar porcalhão….teu lugar é atraz das grades.

  2. Pé Vermelho

    Erraram os acentos. O título é: ‘Foi uma benção? Não. Foi à toa que fiquei aqui’.

  3. Juliana

    Que mané de ombro amigo Carli Filho!!! Seu assassino desqualificado!!!! Só em Guarapuava mesmo pra te darem ombro amigo. Se encontro esse cara na rua termino de quebrar a cara dele!!!

  4. Jornalista sem diproma

    Com um baita assunto destes na mão, esta pobre jornalista, sem cérebro e sem experiencia, fez a mesma coisa que o deputado fez: andou a 190 km, porque achou que seria um furo jornalistico e matou a matéria duas vezes. Uma por falta de informação e outra porque é muito fraca. E só depõe contra o jornal.
    Que pena!!!
    Essa Gazeta está virando uma gazetinha….e ainda faz campanha de transito seguro…há! há! há!

  5. pedro

    Basicamente a “reportagem” foi assim: ela não perguntou nada e carli filho não respondeu nada.

  6. ramos

    Reprovável o jornal e a repórter que brindam seus leitores com o santa ex-deputado escolhido por Deus para a nobre missão na Terra de abusar do vício, da posição social, do dinheiro, da bebida e de atitudes criminosas. É uma assassino e não um abençoado. Cadê a visita às mães das vítimas? Nem um telefonema, rapaz convertido? Vá à m…e essa Gazeta também.

  7. Juca

    Ah, ele não iria falar nada mesmo. Mas tem umas ironias (propositais ou não) na matéria que a tornam interessante. A surpressa de receber a reportagem em um santuário e acompanhado de assessor de imprensa foi a melhor. Fora os títulos dos livros que ele está lendo.

    O problema maior são as fotos, o Carli com aquela cara de “marcelino-pão-e-vinho”. Sei que o assunto é trágico, mas a página ficou engraçada.

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