7:45O Paraná não está para peixe

por Dante Mendonça
(publicado no jornal “O Estado do Paraná” – www.paranaonline.com.br -, sob inspiração de Mané Galo)

Sábado farto no Mercado Municipal, o paranaense de quatro costados foi comprar peixe com certificado de origem: “Quero uma tainha ovada de Guaratuba”. O peixeiro lamentou: “Sinto muito, doutor, tainha no Paraná tem sotaque catarina!”. De quatro costados é o paranaense que quando é desafiado por um gaúcho responde: “Admiro muito a gauchada, tchê! Só acho que vocês não sabem fazer três coisas: tomar chimarrão, montar a cavalo e fazer churrasco. De resto, tiro o meu chapéu!”.

No Mercado Municipal, o de quatro costados ficou indignado:

– Já não bastam as moças de Curitiba que casam com catarinas, agora até as nossas tainhas se mudaram para Florianópolis?

– Doutor, está vendo aquele senhor aí ao lado comprando ovas de tainha? É o famoso Jamur Júnior, aquele do rádio e da televisão. Pergunta que ele entende do assunto.

O de quatro costados, que já conhecia da Boca Maldita, pegou Jamur pelo braço:

– Amigo, me explica: por que não tem tainha de Guaratuba? Além do navio que encalhou no Canal da Galheta, até o nosso mar não tá para peixe?

Jamur Júnior, que nasceu de encomenda para o Cristo de Guaratuba, deu uma aprumada na voz e soltou o verbo:

– Que o litoral do Paraná tem complexo de inferioridade perante Santa Catarina, o tamanho explica. Mas têm coisas que acontecem no nosso litoral que nem Freud explicaria. É o caso da Festa da Tainha em Paranaguá. Acredite: na maioria, os peixes vêm de Floripa. Intrigado, perguntei a um pescador: por que em Guaratuba tem pouca tainha? A resposta: o IAP proíbe a pesca de arrastão nas praias do Paraná. Desde o começo da temporada, os catarinas já puxaram mais de 200 toneladas de tainhas somente na região de Florianópolis. Os turistas ficam de boca aberta assistindo aos arrastões. Enquanto isso, os cardumes de tainha passam voando por Guaratuba em direção a São Paulo, dão tchauzinhos para os paranaenses.

– Quer dizer que o Instituto Ambiental do Paraná proíbe a pesca de arrastão no nosso litoral?

– Nada mais, nada menos: se depender de boa vontade do governo o nosso litoral está mais frito que posta de tainha na frigideira.
Perplexo, o de quatro costados não queria acreditar em tamanha burrice:

– Se os quadrúpedes muares pudessem ser pegos em arrastão, a pesca no Paraná seria um sucesso.

– Deu no jornal: O Ibama deflagrou em Santa Catarina a operação “Tainha para Todos”, realizada entre os municípios de Itajaí, no Litoral Norte, e Passo de Torres, na divisa com o Rio Grande do Sul, desde o dia 15 de junho. A instrução do Ibama determina que, em Santa Catarina, as grandes embarcações só podem pescar fora das cinco milhas náuticas. Nas praias, a atividade está restrita a pescadores tradicionais durante o período de 1.º de maio a 30 de julho. A operação visa proteger os pequenos pescadores que vivem da pesca e trabalham legalmente.

O de quatro costados mandou embrulhar uma tainha catarina e se despediu cabisbaixo:

– Depois perguntam porque o turismo em nosso litoral não se desenvolve. Os nossos baiacus de chapa branca agem como se as tainhas tivessem chip, fossem emplacadas e pagassem IPVA no Paraná. Não adianta: os bichos não pagam pedágio, ficam passeando ao largo para fazer a festa dos catarinas. É de doer as ovas!

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