7:00Sobre a política de bicicletas em Curitiba

por Goura Nataraj (Jorge Brand)

Ontem, dia 18 de junho, a prefeitura anunciou um novo pacote de medidas para ‘melhorar o trânsito’. Mais uma vez ficou explícita a falta de importância que a bicicleta tem para as nossas autoridades. Não são capazes de entender os benefícios de uma cidade mais limpa, silenciosa, com um ar mais puro. Privilegiam descaradamente o meio de transporte mais irracional, injusto e perigoso. ´Carros são acidentes esperando para acontecer´.
 
As visões técnicas e realmente bem intencionadas do presidente do IPPUC são direcionadas ao fluxo dos carros. Este não pode parar de jeito nenhum. ´Teremos mais binários, trinários! Mais ruas barulhentas e degradadas!´ Cidades do mundo inteiro estão despertando para a bicicleta enquanto Curitiba permanece no seu sonâmbulismo crônico, em que o carro e a cultura dos ´centros de compra´ são exaltados como a salvação da civilização.
 
Enquanto os motoristas recebem vários estímulos positivos, tais como isenção de impostos, ruas lisas, espaços para correrem cada vez mais, os usuários de ônibus tem que pagar uma pequena fortuna pelo privilégio de serem esprimidos, talvez até cuspidos para fora da máquina em movimento. Ah, mas isto ouvindo música clássica, com dignidade!
Os pedestres também não são ´cuidados´ com a mesma dedicação, o mesmo amor com que os empreiteiros e construtores de viadutos mostram para com os carros. E os ciclistas, por sua vez, são empurrados para o meio fio!
 
Para realmente melhorar o trânsito precisamos entender que as ruas são limitadas. Que uma cidade cortada pelo trânsito veloz, onde deputados voam a 190km/h, em que ciclofaixas só aparecem na retórica das campanhas políticas, onde as ciclovias existentes ou são calçacas asfaltadas cheias de obstáculos, ou tem sua manutenção completamente ignorada, não deve ser considerada, de forma alguma, uma cidade sustentável.
 
Se você não conhece as ´maravilhosas ciclovias´ de Curitiba aproveite para ver o ensaio do artista Bruno Machado – http://artebicicletamobilidade.wordpress.com/2009/06/04/604/
Se as vias dos carros fossem tratadas com tamanho descaso a prefeitura tomaria ações imediatamente. Os motoristas fariam buzinaços, saíriam em carretas. Não pagariam mais os seus impostos.
 
Os ciclistas podem ser silenciosos em seus conflitos diários com a falta de respeito e segurança que recebem dos motoristas, mas estão bem acordados para o que está acontecendo.
 
A primeira ciclofaixa oficial da cidade deveria se manifestar na Av. Cândido de Abreu e ocupar uma das 11 faixas destinadas ao trânsito dos veículos motorizados. Paraciclos deveriam aparecer pela cidade inteira. Toda malha cicloviárea existente passar por uma revitalização completa.
 
Era este tipo de medida que deveria ser anunciada como proposta de melhoria do trânsito, da qualidade de vida, da saúde social.
 
Já disseram os Situacionistas em 1959:
 
“Não se trata de combater o automóvel como um mal. Sua exagerada concentração nas cidades é que leva à negação de sua função. É claro que o urbanismo não deve ignorar o automóvel, mas menos ainda aceitá-lo como tema central. Deve trabalhar para o seu enfraquecimento. Em todo caso, pode-se prever sua proibição dentro de certos conjuntos novos assim como em algumas cidades antigas.”

www.artebicicletamobilidade.wordpress.com

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17 ideias sobre “Sobre a política de bicicletas em Curitiba

  1. divo

    Exatamente isso. A prefeitura só fala em bicicletas em época de campanhas. Inclusive usa de má fé os quilômetros de calçadas com pavimento asfálticos, já devidamente alcunhados de “calçadovias” para dizer que construir zil quilometros de ciclovias, enquanto até os técnicos do IPPUC admitiram em reunião com um grupo de cicloativistas no ano passado que não considerava correta essa conta, pois estas tais “calçadovias” não tem nem a intenção de ser ciclovias e muito menos atendem as especificações mínimas de dimensão/sinalização propostos no Caderno de Referência para elaboração de:
    Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades.

    http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/transporte-e-mobilidade/arquivos/Livro%20Bicicleta%20Brasil.pdf?bcsi_scan_AF5686C11BA50AC3=gUNkm+ABxTZpdJ2+CAvDTwEAAACEFhUA&bcsi_scan_filename=Livro%20Bicicleta%20Brasil.pdf

    Difícil é acreditar em políticos que enveredam por temas tidos como “populares” como é o caso da bicicleta somente para angariar algunss votos, mas que na realidade agem assim por demagogia da mais vil categoria, criando um véu nebuloso para esconder seus verdadeiros interesses, que na maioria das vezes tangem de muito longe os verdadeiros anseios da coletividade.

    As medidas alardeadas aos quatro ventos pela mesma máquina de marketing que usa as “calçadovias” como ciclovias em suas contas mentirosas, já nascem com validade vencida, pois tem vício na origem, em propor mais “fluidez” a um trãnsito que só não anda porque as ruas já estão demasiadamente entupidas por carros. Qustão lógica e com base em noçoes elementares da física, mas que aos olhos desatentos desses adminstradores públicos não são levadas em conta.

  2. cezar

    Excelente artigo. Até que enfim alguém comentou a necessidade da inclusão da bicicleta como meio de transporte. As ínfimas ciclovias existentes tratam a bicicleta como lazer, inclusive a novíssima linha verde, que optou por uma inexplicável ciclovia em zig-zag. Os trabalhadores que necessitam da via para ir ao trabalho, estão utilizando a calçada de pedestres. (até agora não houve problemas, em razão do trânsito de pedestres ainda ser pequeno).

    Contudo, a Prefeitura insiste em privilegiar os veículos motorizados e as empresas de ônibus, que, em duas décadas, aumentaram o valor real da passagem em 4 vezes (já considerada a inflação do período).

    Estas empresas sempre influenciaram as decisões da URBS para que Curitiba desprestigiasse o transporte alternativo e não poluente.

    Dizem alguns que a força deste loby reside no fato das empresas de ônibus serem as maiores financiadoras das campanhas municipais, mas estou fazendo um esforço enorme para acreditar que se trata da já conhecida incompetência da administração pública.

  3. OilMan

    É CLARO QUE A PREFEITURA NÃO COMENTA SOBRE O ASSUNTO: ELA NÃO SABE O QUE FAZER.

    NÃO É CAPAZ NEM DE PINTAR UMA FAIXA LATERAL NAS RUAS, ORIGINANDO ASSIM AS CICLOFAIXAS.
    PREFERE PEGAR O DINHEIRO E GASTAR COM HOSPEDAGENS E VIAGENS…………. ATÉ PARA PARENTES.

    BICICLETAS JÁ!!!!!!!!!!!!!!!!

  4. Jadir

    Querem sair de bicicleta? Pois bem, saiam. Faço aqui um desafio ao Divo e ao Cezar: aposto que vcs só andam de carro pela cidade, nunca entraram num busão e nem bicicleta têm (não esqueça da minha Calói!)….

  5. jose

    ZB, tudo muito bonito…no papel…

    Apesar de inviável p/ mim (ando em média 100 km por dia e levo materiais p/ cima e p/ baixo), apóio o uso de bicicletas, mas alguns pontos precisam ser tratados também com a mesma preocupação ao criar ciclofaixas:

    – É bastante comum vermos ciclistas pedalando por aí sem equipamentos adequados para facilitar a visualização, principalmente à noite;

    – É bastante comum ciclistas não respeitarem algumas regras básicas, como andar na mão certa (já fui atropelado por um que estava na contramão);

    – E a segurança dos ciclistas? Assaltos são bastante comuns também;

    Sei que os que escreveram acima são ciclistas conscientes, etc. e tal, mas infelizmente são minoria e ao se pensar no todo é que os problemas surgem…

  6. caio

    que cara chato, acha que todo mundo tem que andar de bicicleta.
    pedale e não encha o saco.
    o dia que eu quiser andar da bicicleta,ando e pronto, não preciso de artigo de mala e nem de nada da prefeitura

  7. jeremias bueno

    Calma, gente.

    O Prefeito Beto Richa sabe perfeitamente da importância da bicicleta para melhorar a mobilidade na cidade, bem como dos benefícios que este meio não poluente apresenta.

    Já está em estudo um projeto para uso de bicicletas que será absolutamente revolucionário, e servirá de modelo para todas as grandes capitais do mundo.

    Mas não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Aguardem.

    Atualmente o Prefeito está com a agenda muito ocupada, pois recém saído de uma reunião do PSDB em São Paulo, teve que comparecer a uma reunião do PSDB em Belo Horizonte e, em seguida, se viu obrigado a acomparecer a uma reunião do PSDB de Ibaiti. Na sequência ocorreu uma reunião do PSDB em Foz do Iguaçu onde sua presença era imprescindível. Como haverá reuniões já agendadas para Brasília, Fortaleza e Telêmaco Borba, todas para discutir o lançamento de nomes do PSDB para as próximas eleições, pede-se aos curitibanos um pouco de calma. É importante respeitar as prioridades.

    Mas tudo será feito ao seu tempo, e Curitiba continuará sendo um exemplo para a Via Láctea, como já foi confirmado por uma Comissão da ONU recentemente.

  8. Goura

    Caio, penso numa cidade em que minha filha, que logo vai nascer, possa andar de bicicleta com segurança. A tua filha tbem! Em que quem quiser usar a bici possa utilizá-la sem medo de ser atropelado, sem risco de perder a vida porque algum idiota impaciente não olhou pro lado! A prefeitura tem que tomar providências para isso. É essa sua obrigação. Se vamos simplesmente cuidar de nossos umbigos e deixar a coisa pública de lado nada irá se transformar. Ou melhor, continuaremos tendo uma cidade suja, sem vida nas ruas, com cidadãos alienados, medrosos e agressivos.
    Acho que todo mundo tem que saber como é andar de bicicleta sim! Para poder saber como respeitar e como se sente um ciclista.

  9. Tomas

    Caio, pode andar de carro a vontade, quanto você quiser, só respeite os pedestres e os ciclistas e não se estresse por ficar horas e horas feito trouxa num engarrafamento.

    O ministério da saúde adverte: ANDAR DE BICICLETA CAIO O PINTO !.

    Pra você caro Caio, só falto o pinto pra se enquadrar nessa advertência.

  10. Paulo Roberto Rodachinski

    Engraçado como esse assunto incomoda certas pessoas (Caio e Jadir).
    Senhores, devo lembrar que os ciclistas são cidadãos como quaisquer outros, pagam seus impostos e contribuem para arrecadação do município. Porque então temos que disputar espaço nas “calçadovias” com pedestres ou então jogar a sorte nas ruas, onde os motoristas ignorantes se consideram reis? O ciclista deve ter condições de circular em segurança, respeitado como ser humano e como diz a lei de trânsito.
    José
    É muito comum (basta parar por 1 minuto em qualquer rua movimentada de Curitiba) ver motoristas desrespeitado todas as leis de trânsito. Sua argumentação não procede, pois se fossemos aplicar a mesma lógica para os motoristas, metade não deveria possuir carteira.

  11. josé

    Rodachinski, acho que vc não leu direito, eu apóio a implantação de ciclofaixas, só não acho que a solução seja tão simplista assim.

    Explico:

    – Os motoristas podem ser multados quando cometem infrações no transito; sei que não acontece com todos o tempo todo, mas aí a questão é outra, trata-se de educação para viver em sociedade.

    E os motoristas podem sim perder suas carteiras de habilitação, sofrer suspensão, etc, se não me engano temos 68 mil nesta situação no Estado.

    Um ciclista não é multado, pois não há nada que identifique quem é o cilcista, sendo portanto praticamente impossível multar um que cometa uma infração e duvido que nossos agentes de transito tenham esta orientação.

    – Todos pagamos impostos e aliás às vezes temos que “pedalar” muito pra conseguir pagá-los, mas isto não significa nada nesta questão, pois se assim fosse tewríamos que considerar que os donos de automóveis pagam também outros impostos, como o IPVA, licenciamento, etc.

    – O exemplo que citei, do ciclista na contramão é verídico, aconteceu à noite e na Av. N. Sª da Luz; duvido que um motorista, em sã consciência, ande numa avenida como aquela na contramão.

    Ou seja, não somos preparados para o uso massivo de bicicletas, as nossa cidades não tem infraestrutura para isto, não fomos educados para isto, não temos mecanismos que garantam a implantação rápida de ciclofaixas sem grandes transtornos.

    E não sei, sinceramente, como se calcula a necessidade de ciclofaixas, quais ruas devem ter, etc.

    Assim, amigo, antes temos que pensar em como nos prepararmos para isso, pois para vc a bicicleta é uma opção de transporte, mas para muitos é o único meio transporte disponível, às vezes é o meio de sobrevivência; es para outros o carro ainda é a melhor opção de deslocamento e ferramenta de trabalho, como no meu caso .

  12. Pedro

    Frase do Caio: “que cara chato, acha que todo mundo tem que andar de bicicleta”

    Não sei qual foi a dificuldade do Caio em ler (ou interpretar)
    o texto. Não estava escrito que todo mundo tem que andar
    de bicicleta.

    O texto argumentava sobre como a prefeitura tem uma
    péssima política pública para os ciclistas (ciclovias ruins,
    falta de ciclofaixas, etc), a falta de respeito com os
    ciclistas e pedestres (a prioridade é sempre dos
    carros) além é claro de argumentar sobre as vantagens
    do uso bicicleta (cidade mais limpa, silenciosa e com
    ar mais puro — alguém discorda que isso é algo
    positivo?).

    É duro ter que explicar o que está escrito…

  13. Pedro

    Ok, sou eu novamente… Lembrei de algo mais.

    Vi um tempo atrás algumas listas (“rankings”) das melhores
    cidades do mundo para se viver. Nas três listas mais
    famosas a maioria esmagadora são de cidades européias,
    em particular em cidades onde há uso massivo de
    bicicletas e trasporte público (de qualidade, é claro).

    Será coincidência? Por que será que os EUA, mesmo
    sendo o país mais rico do mundo consegue colocar
    apenas uma ou outra em uma lista que as vezes
    tem 100 cidades? Nada contra os EUA. Honestamente
    espero o melhor para eles (e de fato várias cidades
    americanas se deram conta do erro que cometaram
    dando prioridade para carros no passado e estão
    querendo mudar).

    E antes que alguém diga que estes “rankings” foram
    feitos por gente da esquerda, ou esse tipo de coisa,
    eram rankings da revista (britânica de direita)
    “The Economist”, da consultoria (para grandes
    empresas) Mercer e da elitista “Monocle” (cujo
    ranking pode ser visto no site do “Financial Times”:

    http://www.ft.com/cms/s/2/766d1c92-561e-11de-ab7e-00144feabdc0.html

    Obrigado

  14. Luis Patricio

    Nada do que o Jorge Brand disse no artigo é novidade. Os problemas são os mesmos há muito tempo e vem piorando. As medidas propostas pela prefeitura é apenas a continuação da política pública que já vem sendo adotada há algumas décadas.

    Infelizmente Jeremias já tivemos provas concretas nos últimos 3 anos que o poder público de Curitiba não tem o menor interesse na bicicleta, como por exemplo:

    1) O projeto de lei que definia bicicletários em shoppings e supermercados que foi aprovado na Câmara Municipal e vetado pelo prefeito em 2007
    2) A divulgação em veículos de comunicação oficiais da prefeitura sobre a duplicação “enganosa” de ciclovias em plena época de eleição em 2008
    3) A ausência completa de qualquer tipo de evento ou campanha no dia mundial sem carro em 2008 apesar de reiterados convites e pedidos à Prefeitura, URBS e IPPUC.
    4) A punição rigorosa com aplicação de três multas em relação a iniciativa de criar a primeira e única ciclofaixa de Curitiba em 2007
    5) O total descaso com todas as sugestões apresentadas por cicloativistas desde 2007, como implantação de bicicletários em prédios públicos e no centro da cidade, criação de ciclofaixas, tratamento adequado de cruzamentos entre outros…

    Muitas são medidas simples e que exigem muito mais dos órgãos técnicos do que da Prefeitura.

    Nada disso precisa de uma revolução para acontecer, apenas boa vontade.

  15. Juarez

    Recado ao Caio.

    Vou ser simples para você conseguir entender:

    Lí o artigo do “Goura Nataraj” e os comentários e pude verificar o seguinte:

    “chato” e “mala” só você que não consegue escrever 3 (três) linhas sem perder o nexo e ainda fica criticando quem o faz.

  16. Rose

    é isso mesmo, como algo tão simples pode sucitar tanta discussão.
    -o modal bicicleta é o veículo mais eficiente dentro de uma metrópole.
    – não há desde a década de 80, uma ação eficiente para a melhoria deste meio de transporte.
    – fazem pelo menos 3 anos que cicloativistas curitibanos promovem estudos e pesquisas, apresentando para os gestores do tráfego e administradores municipais. fazem pelo menos três anos que recebem como resposta, tapinhas nas costas e frases confortantes: – é isso mesmo, não desistam; – não se preocupem nós já temos um projeto para isto; – nossa eu dou todo o meu apoio; – mas oque que voces querem fazer?

    -pô qualé, oque falta fazer?

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