12:15O petista que aparece

Entrevista do deputado estadual Tadeu Veneri feita pela jornalista Kátia Chagas e publicada hoje no jornal Gazeta do Povo:

“O PT está sendo achincalhado toda hora, há dois anos”

Ele é um “calo” dentro da Assembleia Legislativa e do próprio PT. Tadeu Veneri muitas vezes anda na contramão dos colegas, não se importando em comprar sozinho algumas brigas mesmo sabendo que a derrota é certa. Nadando contra a maré e adotando posições que arranham a imagem do Legislativo e expõem publicamente as deficiências do seu partido, o deputado estadual diz não se importar com a opinião dos colegas. Tanto que ele foi o único a votar contra a reeleição do presidente da Assembleia, Nelson Justus (DEM) e a cobrar uma posição oficial do PT contra a aposentadoria especial dos deputados, iniciou a briga pela divulgação da lista dos servidores da Casa e dos gastos dos deputados e insistiu, sem sucesso, para que uma emenda antinepotismo de sua autoria fosse aprovada.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Veneri defendeu outras medidas para dar maior transparência ao Legislativo e se diz inconformado com a postura do PT, que tem tido uma “relação juvenil” com o governador Roberto Requião (PMDB).

Por que suas posições não têm apoio nem dentro do seu próprio partido?

Nossa bancada e a direção do partido entraram no segundo mandato do Requião extremamente vacilantes. O partido indicou três secretários estaduais, o que é bom e natural, mas o fato de estar no governo não significa abrir mão das bandeiras que o PT sempre defendeu, inclusive para se eleger. Temos unidade na bancada para reconhecer que Requião tem ações positivas, mas a bancada deveria ter a mesma união para defender a carga horária de 30 horas semanais para os funcionários da Saúde, por exemplo. Todos os deputados do PT concordam que é necessário, mas não assinam para não contrariar o governador.

Outra briga que você encampou sozinho foi o combate ao nepotismo: não conseguiu as 18 assinaturas necessárias para criar uma lei estadual proibindo a contratação de parentes no serviço público. O que faltou?

Nunca consegui uma posição firme do partido e da bancada em relação ao nepotismo. Já pedi até o para o PT municipal entrar com uma ação no Ministério Público Estadual questionando o nepotismo praticado pelo prefeito Beto Richa (PSDB), que tem a mulher no seu gabinete. Mas, paralelo a isso, o partido também não discute a nomeação do Eduardo Requião (irmão do governador) em Brasília e da Maristela Requião (mulher do governador). Isso vai gerando uma fragilidade muito grande no PT porque no discurso faz afirmações e na prática fica sem direção.

Em que sentido?

Vou citar um caso recente. A bancada do PT não quis votar favoravelmente às emendas para conceder um reajuste maior ao funcionalismo com a lamentável desculpa de que foram apresentadas pela oposição. Acontece que elas eram as mesmas que tinham sido apresentadas pela própria bancada do PT. (Apenas Veneri e José Lemos votaram a favor). Essa saída tangenciada nos desautoriza a fazer críticas políticas. Hoje, quando fazemos críticas a medidas autoritárias do governo, como não cumprir o orçamento da Saúde, o partido é desautorizado a fazer o enfrentamento porque é um morde e assopra o tempo todo. O PT não precisa ficar com cargos no governo porque a cada dois passos é cobrado.

Que tipo de cobrança recai sobre o partido?

A direção do PT tem posição dúbia em relação a Requião. Parece mais uma relação juvenil entre pai e filho. O PT tem momentos de grita, mas não deixa de receber a mesada. O PT é o partido da presidência da República e está sendo achincalhado toda hora, há dois anos. Dizem que esse é o jeito de Requião, mas não é. O governador é inteligente e não sai fazendo crítica aberta, por exemplo, ao secretário de Fazenda, Heron Arzua, porque sabe que no dia seguinte ele pega a mala e vai embora. A direção do PT carece de firmeza em alguns momentos.

Em quais situações o partido poderia ser mais firme?

No caso do reajuste dos servidores públicos, por exemplo. Para a bancada, é muito ruim debater com o funcionalismo público e depois, na hora de votar, a coisa desandar. O PT também poderia ter feito uma luta a favor da licença-maternidade e não fez. E agora chega o projeto do governador na Assembleia, que é idêntico ao apresentado pelos petistas (a liderança do governo na Casa já avisou que o projeto que será colocado em votação é o apresentado por Requião). Esse varejo de entregar ônibus, quadra coberta, chaveirinho e pen drive não só incomoda o governador como torna quem depende disso um refém do governo. O PT está se desmoralizando diante do Requião. O episódio mais recente é gente do próprio governo defender que a secretária de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Lygia Pupatto (filiada ao PT), vá se explicar na Assembleia Legislativa sobre convênios da época em que ela era reitora da Universidade Estadual de Londrina. Onde está a parceria nesse processo?

E qual seria o melhor caminho para o PT nesse momento? Abandonar o governo?

O governador é candidato ao Senado e vai procurar o que for melhor para que sua candidatura seja vitoriosa. Mais de 70% da bancada do PMDB apoia escancaradamente a pré-candidatura do Beto Richa, que é do PSDB. O vice-governador só não é do PSDB porque os próprios tucanos impediram que o Hermas Brandão fosse eleito na chapa de Requião. O PT tem perdido a credibilidade. Membros do governo do estado saem por aí chamando o presidente Lula de atrasado, ignorante e incompetente e o partido fica calado.

Como deveria agir a direção do partido?

É preciso ter posições claras, saber se o governador quer ou não o apoio do PT. Se quer o, Romanelli (Luiz Cláudio, líder do governo na Assembleia) tem de fechar a boca porque sabemos que ele fala pelo governo. É preciso uma conversa definitiva. Se o governador não quer o nosso apoio, o PT deve pegar a mala e ir embora. O partido não tem de deixar de votar com o governo em projetos importantes para a sociedade, mas não precisa também ficar se amesquinhando e quase mendigando uma entrada no Canguiri (residência oficial do governador). Acho correto o Requião dizer que ninguém deve pedir nada, mas o que é obrigação republicana é preciso fazer. O governo não administra recursos próprios e sim dinheiro público. Se a cada semana continuarmos sendo desmoralizados, vamos perder nossa identidade, o que vai custar muito caro no processo eleitoral.

Longe de Requião, qual seria o melhor caminho para o PT?

Temos conversas com Osmar Dias e temos de procurar alianças com quem queira nosso apoio. Mas ainda acho que deveríamos caminhar pela candidatura própria, ainda que existam dificuldades, porque isso daria palanque para a Dilma (Rousseff, pré-candidata petista à Presidência da República). Só não podemos continuar sendo criticados a cada semana porque daqui a pouco não sei quem vai querer um aliado desqualificado.

Essa sua postura crítica dentro do partido e o isolamento para votar projetos polêmicos não causa desconforto ou retaliação?

Não me preocupo com isso. Se isso desagrada à maioria dos deputados, não posso fazer nada. Meu eleitorado não pede emprego, cadeira de rodas, dentadura, dinheiro pra festa. Só pede para eu ser coerente. É o eleitorado mais barato que existe porque tem opinião própria.

Vários projetos na Assembleia só tiveram o seu voto contra. Por quê?

Depende da situação. Fui o único a votar contra a reeleição do presidente Nelson Justus porque defendia um projeto para trazer a Assembleia para o século 20 – isso incluía painel eletrônico, TV Assembleia, relação dos funcionários, gastos dos gabinetes e da Mesa Diretora, um novo regimento interno e a divulgação em tempo real das licitações, contratações e exonerações dos servidores. Avançamos em muitos pontos, mas poderíamos ter avançado mais. Não temos diários oficiais para toda a sociedade, não circulam em bibliotecas nem estão na internet e isso fere a Constituição no que se refere à publicidade. Temos de regulamentar também que os vetos do governador sejam votados em 30 dias. Tem veto parado há dois anos na Casa. Um deles é ao meu projeto que cria regras para apresentação de projetos de iniciativa popular, plebiscito e referendo. No caso da aposentadoria especial dos deputados também fui contra porque considero ilegal fazer aporte de dinheiro público num fundo privado. Mas a Assembleia, com todos os seus erros, ainda é uma representação extremamente importante. Você pode acusar os deputados de todos os problemas, menos de ter ido para lá sem voto, todos foram eleitos. E muita gente sabe bem em quem está votando.

Muitos interpretam suas posições como uma estratégia para ganhar visibilidade na mídia. O que acha disso?

Uma vez um deputado do meu partido disse que eu faço muita coisa para aparecer. Eu respondi: faça também então. Suba lá na tribuna e discurse.

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4 ideias sobre “O petista que aparece

  1. Pé Vermelho

    O dep. Tadeu na Alep me lembra um cavaleiro que se dispôs a enfrentar moinhos de vento. Mas os moinhos do Tadeu existem: são as enganações do governo que pouco mais de 50 por cento dos paranaenses elegeram. E o PT deveria era apear logo desse pangaré. Parece o PMDB nacional. Eeeeeco, caca…

  2. Claudio Henrique de Castro

    Esse Tadeu é um grande demagogo, cadê as bases dele e do PT. Pobrezinho do PT do Paraná desfigurado não tem lideranças, só alguns familiares que se perpetuam no poder, veja os filinhos do candidados, PT, PPS etc…

  3. Ricardo

    O deputado tadeu veneri vive e sobrevive sendo oposição. Ele precisa falar mal, criticar, jogar pedra na vidraça… Não se tocou que como petista, partido do governo, deveria construir alternativas e propostas.
    Assim é fácil: quando tudo vai bem, ele é governo. Quando os problemas acontecem, é oposição. Lealdade é importante na política, sempre!!!

  4. Rock

    Pouco mais de 50 %, Pé Vermelho é mais do que pouco menos de 50 %, eu calculo que esses 10 mil votos daria umas cinco vezes a população de Barra do Jacaré.

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