16:39Pelo “Zé do Chapéu”

A respeito da nota “O Zé e a Folha”, recebemos, em forma de comentário, o seguinte texto do advogado Roberto Bertholdo:

Esta nota, em rápida leitura, em tese, poderia levar alguns leitores ao entendimento de que teria sido eu quem fez tal afirmação. Como você sabe, Zé Beto, não foi. Por isso, aproveito para dizer algo sobre o assunto, em nome da justiça. Primeiramente lamento a ocorrência de tantas demissões. Somente isto, sob o aspecto humano, é terrível. Nunca fui demitido, mas já dependi de emprego e temia perdê-los, pois precisava deles. Assim, presto minha solidariedade a todos aqueles que estão passando por este momento, pois imagino o que estão sentindo. Conheço uma das profissionais atingidas pela demissão. Excelente jornalista. Pronta, experiente e de grande valor cultural, doçura humana e ética. Enfim lamento e me solidarizo com todos. Mas devo dizer também, pelo fato de ter sido muito próximo ao Zé Eduardo, que torço, assim como todos paranaenses deveríamos torcer, para que a Folha de Londrina consiga retornar aos seus “áureos tempos”.

A Folha de Londrina, por muito tempo, foi o melhor e mais independente veículo de comunicação do Paraná.

Ao contrário de comentários maldosos afirmando ser o Zé Eduardo um “midas ao contrário”, ele foi um grande realizador, um homem de muito valor que “errou” talvez ao ousar fazer política de forma diferente, ética e construtiva.

Justamente por isso, sofreu um dos maiores golpes da história política e econômica do Brasil: roubaram-lhe seus bens e sua paz.

Ainda no Bamerindus, pautou sempre seus atos com grandeza de caráter, tanto assim é que até hoje ex-funcionários do nosso grande Banc dedicam homenagens ao “seu Zé”.

Quanto à Folha, acompanhei de perto quando o Zé Eduardo assumiu a direção de uma Editora que havia sido literalmente quebrada por outras gestões “infelizes”.

Além disso, logo após sua assunção como diretor geral do diário, fatores externos, como a expressiva alta do preço do papel e o constante aumento da carga tributária, dificultaram ainda mais a administração financeira do veículo.

Justiça seja feita: se o Zé Eduardo não mudou do tempo em que me dava com ele, está sofrendo com os cortes que está sendo forçado a fazer.

Sempre que teve que fazer demissões, tentava demonstrar que se, dispensava alguns, o fazia para tentar manter a maioria. E era verdade.

O mercado de Comunicação no Paraná é extremamente difícil, a crise econômica diminuiu ainda mais os orçamentos de contas publicitárias. Não é fácil para nenhum veículo de comunicação sobreviver neste Estado. A conta não fecha. É preciso muita criatividade para se manter um veículo.

Além disso, as agências, por razões de entendimento de mercado, direcionam suas verbas aos veículos que detém o “quase o monopólio” da audiência em televisão. Coisas de mercado.

Por isso, os jornais sofrem: todos eles. Salvam-se apenas a Gazeta do Povo, que é ancorada pela RPC TV, e a Tribuna do Paraná, que é um sucesso de vendas em bancas, justamente por sua excelência naquilo que se propõe a fazer.

Em resumo: o Zé não é o culpado, muito pelo contrário. Se assim fez, certamente foi por não ter tido outra alternativa.

Ao contrário do que alguns pensam, o Zé Eduardo não é mais um homem rico.

O Zé do Chapéu foi vergonhosamente roubado. Literalmente roubaram-lhe tudo. Um dos poucos casos de pessoas que entram na política ricas e saem pobres.

Se a Folha de Londrina ainda existe, e espero que assim sempre continue, é justamente pelo esforço do Zé Eduardo.

Ouso afirmar que qualquer outro empresário que analisasse as perspectivas da Folha de Londrina no momento em que o Zé assumiu sua direção, sob o ponto de vista apenas empresarial, a teria fechado.

Ele não o fez. Ao contrário, continua lutando dia-a-dia para manter o diário em pé e garantindo os empregos que as contas financeiras lhe permitem manter.

É duro, triste, mas é assim.

Se Deus quiser, um dia se fará justiça e o Zé volta pra onde jamais deveria ter saído.

E Deus também haverá de querer que todos esses profissionais, agora demitidos, encontrem oportunidades ainda melhores.

Roberto Bertholdo

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5 ideias sobre “Pelo “Zé do Chapéu”

  1. Bia Moraes

    Bertholdo, sua mensagem, com sua visão de empresário, colocando um ponto de vista diferente sobre a postura do sr. Zé Eduardo, tem grande valor e muito acrescenta ao assunto. Obrigada por jogar luz em certos aspectos não discutidos.

    Importante que muita gente não sabe a importância da Folha de Londrina, o tamanho que esse jornal já teve, tanto em tamanho físico como alcance e repercussão.

    A Folha de Londrina foi, e é, berço de excelentes profissionais. Tradição e sinônimo de bom jornalismo. Referência. Porém vinha mais e mais perdendo esse posto. E é justamente por isso que dói esse corte. O projeto Folha Curitiba representava, em resumo, a essência do DNA da Folha de Londrina.

    Já vimos outras ondas de demissões antes na Folha. Eu mesma cobri várias em matérias para o Comunique-se. Desta vez, eu estava dentro da redação e sofri o corte na minha pele e dos demais 17 colegas.

    Digo e repito: podia ter dado certo. Garanto que, pela minha visão (leiga como administradora, porém experiente em muitos aspectos da comunicação e das empresas desse meio), tenho certeza que haveria outras soluções. Vou defender essa ideia até o fim, ou até que me convençam do contrário.

    A decisão de cortar 18 vagas foi resultado de má administração. Não houve investimento em áreas que dariam suporte ao projeto Folha Curitiba. Investimento não somente em dinheiro – em botar para funcionar uma estrutura que não vi trabalhar a favor do Folha Curitiba. A chefe Drica e a equipe nadavam contra a corrente que vinha de cima. Nadavam bravamente, produzindo com paixão um excelente conteúdo, acima da média do nosso mercado de comunicação local.

    O Folha Curitiba não contava com nenhum marketing. Nada. Não houve nenhuma divulgação – nós jornalistas a redação é quem falávamos do nosso trabalho para entrevistados, fontes, assessorias, conhecidos. A equipe do telemarketin conseguia vender assinaturas na raça.

    A distribuição do jornal em Curitiba é ridícula. Sabemos de casos de assinantes que não recebem o produto. Outros recebem a Folha de Londrina SEM o caderno Folha Curitiba. Sem contar as dezenas de bancas de jornais que simplesmente não recebem a Folha.

    Fizemos um excelente trabalho, sob o comando e o estímulo da Drica, praticamente sem respaldo por parte da administração em Londrina. Nos últimos dias, tive a impressão de estar trabalhando em um veículo fantasma. Um produto que não existia. Como vender anúncios e captar assinantes em um produto que não existe? Que não se encontra?

    Sexta passada, dia da minha última coluna, recebi dezenas de mensagens de pessoas que não conseguiram encontrar o jornal para comprar em Curitiba. E mais – na internet, publicaram o conteúdo incompleto. Não colocaram a parte da entrevista com uma prefeita, a seção “Seis Perguntas”. Imagine o meu constrangimento. Pedi mais de uma vez para corrigirem o problema no site. Nada.

    Será que o sr. Zé sabe de todos esses problemas e dificuldades para o Folha Curitiba?

    A desculpa da crise, vc sabe, Bertholdo, serviu para inúmeras decisões de demissão, em diferentes setores. Continuo achando que no caso da Folha Curitiba, a matemática foi malfeita. A decisão está errada.

    Outros ajustes deveriam ter sido feitos, ou ao menos TENTADOS, antes de demitir 18 pessoas – sem contar a equipe demitida semana passada, do mkt de Curitiba, que vendia assinaturas.

    Desperdiçar talentos, desmontar um projeto e acabar com um produto que tinha futuro, posicionamento, nome e conteúdo, e que resgatava a tradição do bom jornalismo da Folha de Londrina – ainda mais na capital do estado! – não é uma decisão inteligente, a meu ver.

    Se o sr. Zé sofreu ou não tendo que demitir, não sei. Se ele está pobre ou rico, também não sei. Sei que ele saiu da política mais pobre do que entrou – caso raríssimo mesmo – que lhe tomaram injustamente o Bamerindus.

    Sei que tem outras fontes de renda além da Folha. Não tenho proximidade nem amizade com este meu ex-patrão. Mas pergunto – nós, jornalistas contratados, trabalhando decentemente e produzindo conteúdo de alto nível, é quem somos penalizados pelo fato de que o dono da empresa não consegue administrá-la direito? Nós é quem temos que pagar por isso? Que tipo de lógica é essa?

    O jornal não fez investimentos em informática, por exemplo. Do mínimo necessário. A redação tem máquinas velhas, computadores sem internet que são verdadeiras carroças. Os que têm internet são lentos, antiquados, uma tristeza. Isso em 2009, e numa empresa de comunicação. Dá pra conceber uma coisa dessas? Se isso não for exemplo de falta de visão e má administração, me explique, Bertholdo, o que é.

    E a falta de comunicação entre departamentos da empresa? Não estou inventando. Vi e vivenciei isso. Vi a distância entre concepção editorial de um lado e de outro lado, entre chefia e editores, entre sede e sucursal.

    Por isso dói. Quem pagou o pato foram 18 jornalistas competentes. Que o sr. Zé Eduardo mantém o jornal funcionando, apesar de tantos reveses que enfrentou desde o início, sim, é louvável, concordo com vc. Mas a que custo? De que jeito?

    E mais. Pergunto, será que mesmo com dificuldades, prejuízos e etc, não vale a pena para um empresário/fazendeiro/ex banqueiro/ex senador manter um veículo de comunicação? A Folha é um jornal importante e influente em Londrina. Não vale a pena ser conhecido e reconhecido como dono de jornal? Ter um escritório no jornal para receber políticos, empresários, gente influente, e se manter na tona, mesmo que comandando um jornal com deficiências?

    Repito, não conheço sr. Zé Eduardo. Tive duas reuniões com ele na vida – uma como assessora de imprensa, apresentando empresário do setor de transportes, que ele recebeu em sua sala em Londrina, e a segunda, ao ser sabatinada por ele para ser contratada aqui em Curitiba.

    Não conheço o caráter dele. Olhei pra ele, olho no olho, essas duas vezes. Vi uma pessoa educada no trato, respeitosa, um senhor cheio de histórias pra contar. Um empresário e ex-político que passou por poucas e boas e viu muita coisa nessa vida. Então, só posso falar do que vi, presenciei e vivenciei. E colocar minha visão dos fatos, que expresso aqui, “alugando” espaço do amigo Zé Beto.

    Abs,

  2. J. Carabina

    Só uma pergunta pra você, Zé Beto, e para o Bertholdo: vocês acham sinceramente que eu vou ler um texto deste tamanho sobre o coitadinho do Zé Eduardo? Não leria nem que fosse uma nota de rodapé. Se ele não está feliz com o mundo, que se mate. Tchau.

  3. Pé Vermelho

    É, Bia tem razão – sempre e em tudo. Difícil vender um produto que não existe. A Folha deixou de circular em muitas cidades, sumiu de muitas bancas, perdeu muitos assinantes. Queda de tiragem é phoda prá qualquer jornal, lógico. Sei que tem dono de jornal, principalmente esses de bairro, que anunciam 10, 20 mil exemplares e só tiram o suficiente para mostrar pros naunciantes. Não é o caso da Folha, é? Concluindo: Nada contra dr. Zé Eduardo, mas o João Martinez não lhe deixou um manual de ‘Como manter um excelente jornal?’.

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