6:30Sem conhecer, sempre gostei

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Fani Lerner

Pode-se gostar de alguém sem conhecê-la pessoalmente? Na caminhada da vida a gente aprende que sim. Fani Lerner sempre foi para mim referência como mulher do marido famoso, ou seja, referência em notícia, que é algo muito longe do que é real, do que interessa. Mas ela foi chegando de mansinho, como era seu jeito, pelo destino. Primeiro porque trabalhei dentro do Palácio Iguaçu no segundo governo de seu marido Jaime. E se eu só me encontrei rapidamente duas vezes com o então governador, em quatro anos, porque minha missão era tocar o barco da redação, confesso que nem a vi, mas recebia as informações que vinham nos informes sobre seu trabalho na área social. Sabia de sua luta contra a doença, aquela mesma que um dia levou minha mãe. E me encantei com sua discrição. Saí dali e aí cheguei mais perto dela através da cunhada, Clarita, mulher do conselheiro aposentado Henrique Naigeboren, então presidente do Tribunal de Contas. Não falamos muito sobre a Fani, mas neste contato direto percebi que a doçura, a capacidade de se manter equilibrada e a força descomunal do ser humano mostrado através do olhar meigo, estava no DNA destas mulheres de famílias judias cuja origem no Brasil vem precedida da fuga do horror nazista. No ano passado, recebi um telefonema dela. Estava indignada com uma notícia publicada pelo atual governo sobre a fábrica da “Supersopa”. Deu a resposta correta, exata, que não mereceu um pio de resposta. Há pouco mais de um mês fiquei sabendo quando seu estado de saúde se agravou. Soube quando entrou em coma e foi para casa para ficar ao lado dos seus. Há pouco veio a notícia, essa verdadeira, mas até certo ponto. Porque pessoas assim não morrem – se encantam, como disse um poeta. E não deixam só aos seus próximos o legado que nos faz suportar esta vida.

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15 ideias sobre “Sem conhecer, sempre gostei

  1. Cláudia

    Tive o privilégio de trabalhar um período com ela, na Secretaria Estadual da Criança. Nesse contexto, pude perceber uma mulher franca, objetiva, mas bem-humorada e doce. Dessas pessoas que provocam ternura quando nos lembramos delas…

  2. nani gois

    ZE estou contigo em todas suas palavras,conheci bem esta linda mulher,de uma douçura imcomparavel,nunca desonrou o cargo que exerceu,que o ceus tenha em bom lugar abraços

  3. beth klein

    ze,
    Poucas pessoas neste mundo tem a poesia na alma. Voce e uma delas.
    Que texto lindo, cheio de ternura e admiracao!!!
    Minha dor e enorme. Fani foi meu maior exemplo de vida. Me ensinou que o proximo espera o respeito, a atencao e a poesia da nossa alma.
    Me deixou a maior heranca que um ser humano pode receber: a percepcao de que e possivel ser decente no trato com a coisa publica, a leveza no cuidado com o proximo e o amor pela vida!!
    E como ela lutou pela vida. A esperanca tinha papel especial no seu dia a dia.
    Perdemos a amiga, o exemplo e o sorriso doce. Um sorriso cheio de poesia da alma.
    Como essa poesia, que hoje, mais uma vez, voce deixou sair da sua alma.
    Obrigado.Ela merece cada palavra sua.
    E de todos nos.

  4. Rose

    Zé, parabéns pelas lindas palavras.
    Realmente, pessoas como dona Fani não morrem, se encantam.
    Que ela descanse e encante em paz.

  5. sb

    Conheci D. Fani melhor quando a entrevistei para um programa da UFPR. Falou da doença, do trabalho, do marido, dos netos, das filhas… da vida.
    A vida com a doença e o trabalho na ação social, parece que noveram esta mulher de ferro.
    Não esqueço de uma vez, em Maringá, em 98, na reeleição do Jaime e do FHC: dona Fani Lerner e dona Ruth Cardoso
    conversavam muito sobre seus trabalhos.
    Aquela conversa era sincera. Tinha uma vocação e dedicação franciscana para o trabalho social.
    Naquele momento, para mim, as duas eram o centro das atenções. Suas funções sociais dentro dos governos ficaram mais importantes que o de seus maridos.
    Se antes já era fã de dona Fani e dona Ruth, naquele momento fiquei mais ainda.
    Agora, certamente estão retomando a conversa que começaram em Maringá.

  6. CINTIA/NEWTON

    MEUS SENTIMENTOS A FAMILIA,JAIME,FILHOS,CLARITA E HENRIQUE.COM CERTEZA ESTARA EM 1 LUGAR ESPECIAL.
    GRANDE PERDA…………………….

  7. O Leguminoso

    Embora eu condene o envolvimento de primeiras-damas com cargos públicos – um anacronismo imbecil, o fato é que esta senhora nunca foi assunto de reportagens negativas ou fofocas envolvendo desvio de dinheiro e sacanagens. Que Deus a tenha.

  8. Rita Cruz

    Dona Fani com certeza é um ser iluminado… vai fazer muita falta, mas teremos sempre na lembrança os exemplos de humildade, dignidade e respeito pelo próximo. Tive a honra de trabalhar para e com ela, e sempre fui tratada com respeito e dignidade, assim como todos que dela se aproximavam.
    Vai fazer falta, mais a lembrança das lições por ela ensinadas, nos seguiram para sempre.

  9. Reinaldo Bessa

    Ze Beto, parabéns pela sua homenagem a D. Fani. Como minha coluna não comporta esse tipo de texto, assino embaixo letra por letra. Era uma pessoa carismática, espontânea, franca, sem nenhuma afetação e uma alma boníssima. Era uma só Fani em várias. A Fani pública era a mesma Fani na vida privada e vice-versa. Tive o prazer de entrevistá-la várias vezes, uma delas em sua casa, no jardim da antiga residência na Rua Bom Jesus.

  10. Aninha Petruzziello Kohane

    Zé Beto, agradeço as palavras generosas que vc escreveu da Fani. Ela realmente era especial, e ontinuará sendo dentro de nossos corações.
    Bjs

  11. Teodoro Neto

    Zé Beto, depoimentos como o seu, o do Reinaldo [Bessa] e tantas outras pessoas, ajudam a construir um retrato fiel e admirável da Dona Fani. Não é comum ser reverenciada pessoal e publicamente quando estamos falando de alguém cuja atuação, reconhecidamente social e focada nos menos favorecidos, ainda assim tem algum viés político. Foi nobre, simples, solidária e socialmente responsável. Mesmo que a vida pública do seu companheiro [Jaime Lerner] possa despertar interpretações divergentes, sobre ela [Fani] nunca se falou nada que pudesse denegrí-la. Dizem que ninguém é insubstituível, mas algumas pessoas sempre farão falta…

  12. Vania Mara Welte

    Zé Beto, amigo querido

    Você conheceu Dona Fani Lerner tão bem que a retratou. Seu texto é lindo, sensível e exato. Dona Fani era mesmo uma pessoa belíssima, humana, séria, sem afetação e com enorme coragem e dignidade diante dos desafios da vida.

    Tive o privilégio de trabalhar com dona Fani Lerner. Ela era alegre, acessível e, a cada encontro, um prazer renovado. Quando ela se tornou a primeira-dama do Paraná, de cara enfrentou dificuldades, de heranças passadas. Nenhuma responsabilidade dela. Fui convocada, como assessora de imprensa do Governo do Estado, a falar com ela e relatar detalhes que, talvez, desconhecesse. Eu, ainda, deveria prepará-la para a coletiva que se seguiria. Dona Fani queria dar todas as respostas, mas também receava alguma atitude mais agressiva por parte da mídia.

    Expliquei-lhe que, dificilmente algum jornalista iria ser agressivo com ela. Mas, de qualquer forma, fiz todas as perguntas possíveis para que ela se preparasse de maneira adequada. Dona Fani buscava as respostas, sempre observando a verdade dos fatos e eu ia forçando, “espremendo”, cada vez mais. De repente, ela me olhou firme e, batendo com a mão sobre a mesa, me disse: “afinal, quem é você? Qual é o seu jornal?”

    Eu sorri e reafirmei ser assessora de imprensa do Governo do Estado e estava ali para explicar todos os detalhes dos fatos. Dona Fani respirou fundo, fez uma pausa e explicou: “ah! Você me deixou tão nervosa que achei ter entendido tudo errado. Por um momento pensei estar diante de uma grande inimiga”. Só, então, ela se acalmou e riu muito. Pegou a minha mão, e com o carinho que só ela sabia ter, agradeceu e me disse que estava pronta.

    E estava. Ela conquistou todos com a sua maneira simples, direta e honesta.

    Simples excesso de zelo. Dona Fani já nasceu pronta. E, dela, só tenho excelentes lembranças, em tudo e por tudo.

    Quando terminava o último governo de seu marido, ela mandou o motorista dela trazer um presente para mim, em minha casa. O cartão dizia: “Com a gratidão de Fani Lerner”. Para mim, mais do que um presente, é um tesouro colhido em um meio tão árido de sentimentos, reconhecimentos e delicadezas.

    Com o casal Lerner também aprendi o quanto a cumplicidade de uma vida transcende no dia-a-dia. Aprendi, ao longo dos anos, a reconhecer nos olhos translúcidos e azuis do governador Jaime Lerner, quando dona Fani se encontrava em situação de saúde mais fragilizada. Os olhos do governador se tornavam cinza chumbo. Tristeza pura, como hoje.

    Mas, o certo é que dona Fani vive no coração e na memória de quem teve o privilégio de conviver com ela; e também do povo a quem ela se dedicou por inteira, sem preconceito, sem intolerância, com generosidade. Fani Lerner foi e será sempre unanimidade, modelo de ser humano.

    Vania Mara Welte

  13. Adriana

    Zé Beto, só uma pessoa como você seria capaz de traduzir em tão belas palavras um ser humano maravilhoso como dona Fani.
    As suas palavras e as palvras aqui escritas por pessoas que a conheceram de perto e outra de longe, são sem dúvida alguma um registro para seus queridos familiares do amor e carinho, que a vida desta maravilhosa mulher deixou em todos.

    AE

  14. Szyja

    Zé Beto, Beth, Bessa e Vânia Welte: Vocês fizeram justiça a este verdadeiro ser humano que foi Fani. Vocês conseguiram descrever em poucas palavras esta alma maravilhosa que transbordava bondade, e que nos deixou lições de humildade no trato com o próximo, uma qualidade tão rara de se encontrar hoje em dia…
    Fani era amada por todos não só por sua personalidade suave, brilhante e luminosa, mas também pelo exemplo de pessoa integralmente dedicada aos necessitados. E ela continuou assim mesmo em meio à luta contra a doença, em silêncio, combatendo o bom combate até o fim. Que descanse em paz!
    Parabéns a vocês, meus amigos e colegas, por estas palavras tão belas e que mantêm Fani viva em nossa memória.

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