20:58José Onofre, adeus

Nunca tinha visto um retrato dele. Acabei de ver, na matéria do jornal Zero Hora da noite de ontem (ler abaixo), anunciando sua morte. Fala-se ali no brilhantismo do texto e repete-se a definição de Paulo Francis, seu admirador: não colocava uma palavra fora do lugar. Foi essa admiração do saudoso Francis que fez uma legião de aprendizes encontrar o gaúcho Onofre. E na caminhada da vida, na alimentação das palavras, na maravilhosa descoberta de seu amor pelo cinema, que o beque aqui descobriu alguém que sabia falar da nossa vida, do nosso cotidiano, dos nossos dramas, das nossas eternas incertezas, através das imagens projetadas, das vidas dos diretores, atores, atrizes, compositores, roteiristas, romancistas. Hoje, a abrir por acaso a revista Carta Capital desta semana e ir direto ao espaço batizado de “Calçada da Fama”, onde ele nos ensinava a respirar, o texto sobre a passagem de Willian Falkner por Hollywood não fez a alma brilhar, apesar de ser de primeira. Só depois, erguendo o olhar para a assinatura, estava lá a explicação: não era dele, do José Onofre capaz de nos fazer compreender a dor eterna do ser humano ao descrever um olhar em meio a zilhões de imagens. O rosto dele está lá, na página da internet. O corpo foi enterrado hoje à tarde, e ele deve estar trocando figurinhas com seu amigo Francis lá, não se sabe onde. Mas o que importa ficou. Aqui dentro.

—————————————————————

do jornal Zero Hora:

Um dos melhores textos da imprensa brasileira morreu nesta terça-feira, na Capital. Jornalista com carreira nos grandes jornais e revistas do Brasil, José Onofre recebeu uma definição honrosa de um grande admirador, o crítico Paulo Francis: era o homem que não colocava uma palavra fora do lugar.

Aos 66, estava em coma desde o dia 4 de abril no Hospital São Francisco, do Complexo Hospitalar Santa Casa, na Capital. Ele foi vitimado por uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações da diabetes. O enterro será nesta quarta-feira, às 15h, no Cemitério Ecumênico João XXIII. O velório ocorre desde a noite desta terça-feira na capela oito do cemitério.

No começo do ano, Onofre fora trazido ao Estado pelo irmão César Krobs, também jornalista, devido ao avanço de sua doença. Nos últimos anos, atuou na revista Carta Capital, onde mantinha uma coluna dedicada a temas que o consagraram como crítico, cinema e literatura.

Natural de Bagé, permaneceu poucos anos em sua cidade natal. Saiu de lá jovem e veio construir a carreira na Capital. Mas não começou atuando na imprensa. Passou primeiro pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul e pelo departamento audiovisual do Colégio Israelita Brasileiro. Sua primeira experiência na grande imprensa foi em Zero Hora, onde ficou entre 1969 e 1970.

Nos anos seguintes, Onofre atuou ainda na MPM Propaganda, considerada a maior agência de publicidade na época, na Rádio e TV Difusora, Caldas Júnior e Editora Abril. Em 1983, deixou o Estado e foi para São Paulo, onde sua facilidade para escrever e a escolha precisa das palavras impressionaram desde o começo.

— O Onofre iluminou a imprensa gaúcha nas suas, infelizmente, breves passagens aqui. Sua carreira brilhante foi construída, mesmo, em São Paulo. Dono de um texto elegante, ele ainda por cima entendia de tudo, cinema e literatura eram com ele — lembra o jornalista e escritor Walter Galvani, que trabalhou com Onofre nos jornais Folha da Manhã e Folha da Tarde.

Na capital paulista, deixou textos marcantes na Folha de S. Paulo, Editora Abril, Editora Três e em O Estado de S. Paulo. Em 1992, o jornalista regressou para Zero Hora como editor-chefe. Foi também autor de um romance raro, Sobras de Guerra. Lacônico, evitava falar sobre o livro, que tinha entre seus admiradores Luis Fernando Verissimo.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.