por Nelson Padrella
Minha infância, em Palmeira, foi marcada por ensinamentos que hoje estão um tanto em desuso. Estou falando de valores morais. O grande nome que me vem à mente é o do juiz de Direito Jaime de Macedo Portugal. Eu não era propriamente amigo dos meninos Clotário e Zezinho, mas sempre nos encontrávamos para algum folguedo. Havia uma aura sobre a cabeça dessas crianças porque eram filhos do doutor Jaime, a mais impoluta figura que conheci.
Na adolescência, um dos meus grandes amigos – e colega de ginásio – foi o Silvinho, filho do juiz de Direito Silvio Pellico de Freitas Noronha. Quando a autoridade passava na rua as pessoas tiravam o chapéu, não temerosas, mas respeitosas. Havia respeito para com os juízes porque eles faziam-se respeitar. No meu tempo a figura de um juiz era sinônimo de retidão. Que pena que os tempos mudaram tanto!
Bão, seo Nelson, eu também sou daquela época e, orgulhoso e saudosamente, posso dizer que fiz parte daquele contexto velhoburguiano onde, além do respeito aos mais “véios” — autoridades ou não —, aos valores provincianos e às amizades e paixões que se diziam eternas, cuja maior forma de expressão traduzia-se em não bulir com a mobília das moças, nossas coleguinhas, se carinha não estivesse a fim de casar. E hoje o que temos? Menos improvável seria observar a quase extinta gralha azul a cavoucar na campina pra esconder o seu pinhão, do que vislumbrar uma toga honrada nessa seara tupiniquim.
Abração, do Corvo.