18:26Horóscopo

por Osman Gadoso

Escorpião

Esticou todos os músculos naquela sala do décimo andar do prédio chique. Em aparelhos. Era a primeira vez. Olhou e lembrou de uma exposição de instrumentos de tortura. Mas o pensamento passou assim que colocou os olhos na janela. Uma neblina forte teimava em brigar contra o sol na manhã fria. Enquanto era enganchado em argolas e repetia dez, vinte, trinta vezes movimentos que lhe queimavam os músculos, pensou em Benito de Paula de volta aos palcos – e não soube explicar. Isso, respiração. O segredo é a respiração. Quando vai, inspira; quando volta, expira. De repente o azul explodiu do céu explodiu no vidro enquanto ele ouvia um gemido da senhora ao lado. Mas ao olhar, notou que ela sorria. Imaginou ser de felicidade. Uma hora ali no ambiente até então desconhecido. Não lhe pediram para flutuar, mas ao sair para a rua sentiu algo de diferente. Como é que pode? pensou. Andou rápido e sentiu o corpo do alto do cocoruto à ponta dos dedões dos pés, agora enfiados em meias e tênis. Se pudesse, largava o carro ali para caminhar até a lua. Não podia. Entrou. Apertou um botão e uma voz saiu dos alto-falantes. Citava uma passagem da Bíblia como quem passa uma receita de empadão. Era um poderoso. Ele imaginou-o esticado naqueles aparelhos. Mas sem poder sair. Nunca mais. Mudou de estação. Uma voz doce e aveludada cantou. Ele ligou o pisca e saiu cantarolando, sem se importar com os olhares alheios.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.