Da revista IstoÉ, em reportagem de Sérgio Pardellas:
O dono dos euros
Na madrugada de 6 de dezembro, Enivaldo Quadrado, sócio da corretora de valores Bônus- Banval e um dos 40 réus no processo do mensalão, foi preso em flagrante, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), com 361 mil euros (R$ 1,2 milhão), distribuídos em maços de notas colocados numa pasta de mão, nas meias, presos à cintura e até dentro da cueca. Na ocasião, alegou que a quantia, não declarada à Receita Federal, era de empréstimo recebido de um amigo em Portugal para investimentos em veículos. A origem do dinheiro está sendo apurada no processo que o doleiro, libertado em janeiro graças a uma liminar, responde por falsidade ideológica. Já o destino dos euros será alvo de outra investigação, pois há fortes indícios de que Quadrado teria mentido à Justiça para proteger um dileto amigo: o ex-deputado José Janene (PP-PR), que seria o verdadeiro dono dos euros.
A denúncia chegou, há alguns dias, à bancada paranaense da Câmara dos Deputados. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) vai mandar um ofício à Polícia Federal pedindo que o caso seja esclarecido. Há suspeita de lavagem de
dinheiro. “A gente já estava apurando a ligação dele com Quadrado desde a CPI dos Correios. Agora surge essa nova denúncia. Vou solicitar à PF mais informações sobre o destino do dinheiro”, disse Fruet. Segundo apurou ISTOÉ,
a acusação partiu de um parente (em primeiro grau) de Janene que está protegido pelo sigilo. Pela denúncia, o dinheiro trazido por Quadrado chegaria às mãos de Janene numa operação que envolveria a locadora de veículos Renacar, de propriedade de seu irmão Assad Jannani, investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal na Operação Gafanhoto, na qual deputados ficavam com parte de salários de funcionários.
Parte dos euros seria entregue à exmulher de Janene, Stael Fernanda Rodrigues Lima, de quem o ex-deputado se divorciou no ano passado. Uma separação conturbada devido às divergências sobre a partilha de quase R$ 7 milhões em fazendas, imóveis e carros. Como o dinheiro não veio, Fernanda ficou com uma mansão de três andares, no Condomínio Royal Golf, conhecido como o Alphaville de Londrina, onde o casal morava há mais de dez anos. “A
casa ficou comigo mesmo”, admitiu Fernanda à ISTOÉ. “Mas não sei nada sobre o dinheiro. Quem dera se ele fosse meu”, acrescentou ela, que hoje trabalha como promotora de eventos.
O ex-deputado articula sua volta à Câmara em 2010, quando pretende recuperar a imunidade parlamentar. Ele foi absolvido pelos colegas no processo político do mensalão, em 2006, depois de apresentar seguidas licenças médicas, quando alegava estar inválido devido a uma cardiopatia. Janene, agora, está mais forte do que nunca. É um dos tesoureiros do PP. Em Londrina, seu reduto eleitoral, foi um dos coordenadores da campanha vitoriosa de *Barbosa Neto* (PDT), seu afilhado político, à prefeitura. “Ele é candidato e não vai ter problema em se eleger”, disse o prefeito eleito de São Sebastião de Amoreira, Adevílson Gouveia. Questionado se o PP poderia se opor a um eventual retorno do parlamentar, o presidente do partido no Paraná, deputado Ricardo Barros, foi taxativo: “A princípio não há
restrição. Até porque quem elege é o povo.”
Gente dessa espécie deveria ser banida da política e, quem sabe, do convívio da ala mais digna da sociedade. O nome desse político só aparece em falcatruas.
Qual o projeto de relevância aprovado no Congresso que seja de sua lavra, para justificar a sua passagem pela Câmara Federal?
Apenas usufruiu e usurpou o erário?
E, parece, mesmo com tantas denúncias e processos em andamento ele continua folgado, em Brasília e nos corredores do Poder.
Isso é Brasil na esteira da politcagem. Basta!