16:43O número mágico

O prefeito Beto Richa não vai abrir a boca para dizer que é candidato a governador do Paraná nem se tivesse conseguido nota 10 e 100% de aprovação na pesquisa publicada hoje pelo Datafolha. É estratégia de campanha armada bem antes de ele demolir adversários na eleição que o fez se manter como prefeito de Curitiba. Ao contrário de Roberto Requião, a quem pretende suceder, ele e seus assessores descobriram que a fórmula de ele se manter nas nuvens da popularidade é a boca fechada. Mas só para palavras. Ele sorri muito – e os dentes são tão brancos quanto os das estrelas do cinema norte-americano. O prefeito tem um sobrenome que é grife. O pai, José Richa, era um político articulado e tão popular que comia de colher. A conjunção do vácuo aberto pelo desgoverno de Requião e seu estilo histriônico de ser, colocou Richa como o contraponto ideal. O prefeito não entra em podres, não bate no peito dizendo que faz e acontece. Ele faz direitinho o seu trabalho de correr trecho atrás do governo do Estado e, quem sabe, alguma coisa lá na frente em Brasília. Cuida do corpo, é bonitão, esportista e quando todos os curitibanos abriram os olhos pouco mais de um anos antes da eleição de 2008, lá estavam obras e mais obras. O episódio mais difícil do seu mandato não cheirava bem. O problema causado pelo então chefe de gabinete, Ezequias Moreira, e a “sogra fantasma”, que recebia dos cofres da Assembleia sem conhecer nem a praça onde ela está encravada. Richa não afastou o auxiliar no primeiro momento. Carregou o problema por mais de uma semana porque Moreira era herança vinda do pai, José Richa, a quem venera. Agora ele tem os contratos com a construtora Iguatemi no cangote. Não perde a pose pois ela é que o faz querido por mocinhas e, principalmente, a criançada das vilas. Tem uma tropa de choque da pesada na Câmara Municipal – e se alguém tiver de ser sacrificado, provavelmente uma lista de candidatos há. Tudo para que seja blindado. O balaio de votos que recebeu e estas pesquisas que pipocam volta e meia com o número mágico acima de 70% trouxeram também a cobiça de quem pretende ter o seu apoio para conquistar a presidência da República. José Serra, governador de São Paulo, vem a Curitiba com tanta frequência que, logo, logo, vai falar com sotaque de polaco da Barreirinha. Richa fica frio. Já recebeu cutucões do guru e ex-ministro Euclides Scalco para que limpe qualquer vestígio no seu entorno que possa comprometer sua caminhada rumo à disputa de outubro de 2010. Beto Richa sabe ouvir. Mas demora para agir, ao contrário do pai. Os números reluzentes divulgados hoje colocam-no na situação de ser paparicado ainda mais por boa parcela do PMDB, que é comandado por Requião, que já foi amigo e se tornou inimigo – mas pode virar amigo de novo de acordo com as conveniências eleitorais. O prefeito de Curitiba está com a faca e o queijo na mão. Treinou o ano passado ao levar até o dia da eleição sua candidatura sem ser alvejado de forma contundente. É isso que vai tentar fazer de novo. Talvez sonhando em conseguir manter o número mágico dos 70% para assumir o comando do Estado.

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3 ideias sobre “O número mágico

  1. Vicente Nolasco Ferreira

    Demora a agir, ao contrário do pai? Será que estamos falando do mesmo homem que demorou quase seis meses para mandar o Garanhão embora no seu governo e levou junto, sem culpa, o Belmiro Castor? OU quem sabe aquele que apanhou sem dó no programa eleitoral feito pelo Requião em 90, como colecionador de aposentadorias, sem responder nada e acabou em terceiro lugar, atrás do Martinez?

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