11:12Vang Gogh, Degas, Monet e Renoir chegam ao Museu Oscar Niemeyer

Da Agência Estadual de Notícias:

O Museu Oscar Niemeyer abre neste sábado (14), às 11 horas, a mostra Paisagem Entorno e Retorno – Coleção do Museo Soumaya (México) para convidados e o público em geral. Durante o evento, o Museu permanecerá com a bilheteria franqueada entre 10h e 12 horas. Uma hora antes da abertura o curador mexicano, Héctor Palhares Meza, faz uma palestra gratuita sob o tema “Um olhar sobre a paisagem”. A exposição poderá ser vista até o dia 12 de julho.

A mostra reúne 72 obras provenientes da Coleção do Museo Soumaya, do México, que se convergem em estilos, técnicas, sensibilidades e interesses. Os trabalhos exibem os variados enfoques na abordagem do tema, do século 16 ao século 20. Entre eles estão desde os antigos mestres europeus como Lucas Van Gassel e Pieter Brueghel, até ícones franceses como Monet, Renoir, Degas, Van Gogh, e o paisagista mexicano José Maria Velasco.

Realizada pelo museu mexicano, a exposição é patrocinada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) e Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), com o apoio do Ministério da Cultura, Governo do Paraná e Caixa Econômica Federal.

“É uma nova leitura deste importante gênero na arte ocidental”, disse o curador Héctor Meza. Ele afirma que a paisagem teve grande importância no imaginário mexicano e europeu ao ser fonte de inspiração poética e de costumes, sempre vinculado com a diversidade de latitudes, climas, regiões e cenários que o caracterizam. “São cenas que refletem a vida cotidiana em diálogo com a natureza, onde o homem se insere como elemento primordial da criação, em franca harmonia com o entorno”. Na questão ocidental, também representa a essência do indivíduo, a consciência de origem, a matriz de antigas mitologias e tradições.

Abordagens – o mundo greco-romano abordou os temas mitológicos, históricos e o retrato como elementos centrais da paisagem. É mera cenografia sem intenção naturalista com episódios da vida cotidiana no campo ou nos centros urbanos, avalia o texto sobre o tema elaborado pelo museu mexicano.

A Idade Média se ocupou da paisagem através dos miniaturistas monacais –amanuenses– que ilustraram seus livros de coros e letras capitulares com o vermelho miniato ou óxido de chumbo, recriando paisagens bíblicas ou históricas dos santos e mártires, de simbologia vinculada com o catolicismo e o âmbito supra terreno da fé.

O texto prossegue enfatizando que o Humanismo dos séculos 13 e 16, nas palavras da pesquisadora Letícia Gámez Ludgar, “interpretou a paisagem como a ordem racional da forma, para conseguir uma harmonia cujo eixo central era o homem”. Os artistas italianos apostaram na beleza ideal do corpo humano –com uma temática civil ou religiosa – inserido em uma ambientação construída por linhas horizontais e verticais, nas quais a paisagem adquire uma noção convencional e que dá conta dos estudos precisos para que a linha do horizonte pudesse enlaçar o mundo terreno e celestial, segundo os cânones da religiosidade ocidental.

O Barroco europeu tomou dois caminhos iconográficos em relação à paisagem: a primeira teve lugar nos estados católicos e se centrou no âmbito civil e na idéia de perfeição da natureza vinculada com o homem e na manifestação mais pura e sublime do divino. De acordo com o texto mexicano, as nações protestantes do Norte, por outro lado, privilegiaram o sentido lírico do espaço para manifestar uma emotividade e visão pessoal que – de forma particular nos Países Baixos – pôde recriar um intimismo e cotidianidade.

Séculos 19 e 20 – a visão romântica do século 19 explorou as possibilidades da luz, a perspectiva e o cromatismo através das sensações do ambiente e da subjetividade do autor. A paisagem adquiria uma identidade própria que o enlaçaria mais tarde com o movimento impressionista. A partir de 1830 se busca reproduzir a espontaneidade que causava a impressão da natureza mediante uma pincelada pastosa.

Artistas como Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) tomou como referência o trabalho das vedutte (vistas arqueológicas) italianas do século 18, que mostravam a glória dos cenários antigos como o Coliseu e o Forum romanos, incluindo a figura humana em um plano de monumentalidade arquitetônica e descritiva. Corot foi um dos fundadores da Escola de Barbizon (1830-c.1870), aldeia enquadrada pelos bosques de Fontainebleau, que tomaram a natureza como fonte primordial de inspiração artística. Seu estudo meticuloso da paisagem ofereceu a representação do entorno em comunhão com a alma de seus autores. Os trabalhos ao ar livre dariam a pauta para que os impressionistas empregassem seus pincéis para registrar os efeitos lumínicos na superfície dos objetos.

O Impressionismo francês adotou a linha de experimentação de Corot e de seus seguidores para enfatizar o papel da luminosidade na natureza. Suas composições en plein air foram trabalhos terminados que se inseriam no gênero de paisagem moderna, […] apesar da consternação dos críticos e do público. A figura palpitante sob a luz; cromatismo tonal e a pincelada livre; a eliminação do desenho preciso e o fascínio pelo estímulo efêmero dos breves instantes seriam as diretrizes da pintura paisagística do último terço do século 19.

Nas palavras do artista holandês Vincent Van Gogh: […] Não conheço melhor definção da palavra arte que esta: “A arte é o homem adicionado à natureza”. A natureza, a realidade, a verdade, mas com um significado e um significante; com um caráter que o artista faz sair e aos que dá expressão. Esta mostra explora a paisagem desde dentro, com as diversas interpretações que teve entre os séculos 18 e 20. Aqui se aborda a ótica destes séculos em função de que a paisagem abandonou sua noção acadêmica do século ilustrado para dar lugar a um retrato psicológico, intimista, mais pessoal e de acordo com a emotividade dos artistas finisseculares.

A visão européia oferece a influência das chamadas vedutte italianas, que impuseram uma moda de representar as vistas de ruínas arqueológicas e evocadoras, com exemplos interessantes de Molenaer e Lissandrino. Nueva España se reinventou através da paisagem, para enfatizar os costumes americanos mediante seus quadros de castas ou do emblemático quadro do passeio del Virrey Conde de Moctezuma, do artista Pedro Villegas. Os artistas viajantes que se voltaram para o México no século 19 –com um espírito científico e de profunda investigação deixaram sua marca em uma descrição minuciosa do território nacional.

Daniel Thomas Egerton, Conrad Wise Chapman ou Carl Nebel estão representados nesta exposição com a lupa do interesse científico-geográfico, ecológico, urbano, social ou arqueológico. Também José María Velasco e Luis Coto y Maldonado privilegiaram o lado acadêmico da natureza através de uma pincelada metódica e precisa. O desenvolvimento industrial e moderno que projetava o trem e a fábrica aparecem nas obras de Casimiro Castro. Joaquín Clausell, o grande mestre da luminosidade no México, bebeu dos estudos dos pintores franceses. O Impressionismo, na sua incessante busca descompositiva da luz e da cor, nos oferece quadros emblemáticos de Monet, Degas, Renoir e Hugues-Claude Pissarro como resultado da nova sensibilidade e gosto europeus.

Serviço:
Paisagem Entorno e Retorno – Museo Soumaya do México
Visitação: de 14 de março a 12 de julho
Realização: Museo Soumaya do México
Patrocínios: Copel e Sanepar
Apoios: Ministério da Cultura, Governo do Paraná e CEF
Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999
Aberto de terça a domingo, das 10h às 18h
R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 estudantes
Gratuito para grupos agendados da rede pública, do ensino médio e fundamental, para estudantes até 12 anos, maiores de 60 anos e no primeiro domingo de cada mês.

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4 ideias sobre “Vang Gogh, Degas, Monet e Renoir chegam ao Museu Oscar Niemeyer

  1. Frik

    o irmão do van Gogh era marchand, mas nem assim ele conseguia vender os seus quadros – parece que não tinham ainda inventado o nepotismo

  2. Francisco Alpendre

    Fico feliz que a Agência Estadual de Notícias tenha transformado Van Gogh em francês. É mais um sinal da globalização e da crise.

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